O velho problema do verão gaúcho voltou a assombrar produtores e prefeitos. A falta de chuva e, consequentemente, a estiagem, fez com que o governo gaúcho estabelecesse um estado de alerta, na terça-feira (10), para garantir o abastecimento da população. A seca já traz impactos para 10 municípios da Serra: Antônio Prado, Campestre da Serra, Canela, Coronel Pilar, Guaporé, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Protásio Alves, São Francisco de Paula e São José dos Ausentes. A prefeitura de Protásio Alves, por exemplo, publicou na segunda (9) um decreto de racionalização de água. Até a manhã de terça-feira, chegava a 51 o número de cidades no RS que decretaram situação de emergência devido à estiagem, mas nenhuma era situada na Serra.
O documento do Estado prevê que a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) acompanhe, diariamente, o nível dos mananciais que utiliza para identificar antecipadamente possível comprometimento do abastecimento. A medida vai vigorar pelo prazo de 90 dias. Ações emergenciais, como construções de minibarramentos e reforços nos sistemas de captação, também ficam previamente autorizadas, desde que informadas à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e ao respectivo Comitê de Bacia.
Dos municípios com algum tipo de impacto na Serra em razão da pouca chuva, apenas Coronel Pilar, Monte Alegre dos Campos e Protásio não são atendidas pela Corsan.
O decreto publicado em Protásio Alves proíbe, por prazo indeterminado, lavagem de veículos, calçadas, casas, telhados e irrigações de gramados e jardins. Essa mesma medida já está em vigor em outros municípios gaúchos, como Pelotas. A desobediência pode causar advertência e a suspensão do fornecimento de água por um dia. Em caso de reincidência, a suspensão será duplicada.
Em Canela, foram registradas perdas em culturas de grãos, como milho e feijão, além da fruticultura, na produção de hortaliças e nas agroindústrias de origem vegetal. O município chegou a cogitar decretar situação de emergência, entretanto, após análise da prefeitura, da Emater e da Defesa Civil municipal, ainda não é necessário, tendo em vista que as perdas são pontuais.
— Não temos elementos suficientes ainda para embasar um decreto de situação de emergência. Até este momento os prejuízos não são representativos, mas se persistir o agravamento deste quadro faremos uma reavaliação — informa o secretário de Governança, Gilmar Ferreira.
Em cálculos preliminares, a produção mais afetada é a de frutas cítricas, com perda estimada de 40%, um prejuízo de R$ 596,8 mil. Já na cultura da maçã, o valor bruto de perda estimado é de pouco mais de R$ 2,1 milhões, representando 20% da produção. Em localidades como Morro Calçado, Tubiana, Banhado Grande, Rancho Jane, Canastra Alta, Caracol, Caçador, Bugres e Rancho Grande, falta água para o consumo humano e dos animais. Cerca de 80 famílias estão sendo atendidas com 10 viagens por dia de um caminhão-pipa com 60 mil litros de água.
Campestre da Serra também tem atendido 30 famílias há um mês com caminhão-pipa. Em São Chico, 70 famílias vêm sendo atendidos de outubro pra cá, assim como na localidade de Serra da Limeira, em Muitos Capões, e Coronel Pilar, onde também há famílias sendo abastecidas por caminhões-pipa.
Em São José dos Ausentes, cerca de 800 pessoas estão sofrendo com desabastecimento, em Vila Silveira. Segundo o prefeito, Ernesto Boeira, os poços perfurados não estão dando vazão suficiente desde dezembro. A prefeitura deve licitar nos próximos dias uma empresa para perfurar mais um poço e estudar o porquê da falta de vazão.
Antônio Prado e Monte Alegre dos Campos já têm perda na produção de milho. Em Monte Alegre, a previsão é de 30% de quebra na safra, assim como no cultivo de amora.
Impacto menor
A Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação prevê uma estiagem menos severa neste verão, em comparação à temporada passada. Essa é a avaliação de Giovani Feltes, que assumiu a pasta em 2023. No entanto, o secretário reconhece que, mais uma vez, haverá perdas significativas.