Uma nova alternativa de produção no campo tem atraído agricultores da Serra gaúcha. Os cogumelos ganham cada dia mais espaço no campo, nos supermercados, nas feiras e nas receitas das pessoas. Quando se fala em champignon, shimeji, shiitake e porcini são diversas as receitas que podem ser reproduzidas com o sabor especial dos cogumelos.
Os cogumelos têm cultivo de origem oriental, mas começaram a ganhar espaço no Rio Grande do Sul e são uma opção para incrementar as vendas de produtores rurais da região. Também existem grupos que se dedicam a caçar cogumelos nas florestas do Estado.
De acordo com o secretário de Agricultura de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, a quantidade de produtores em Caxias ainda não é um número expressivo, mas está em crescimento.
— Não é um número expressivo, porque está começando. Até pouco tempo atrás, até nos mercados se encontrava poucas opções. Agora, o consumo e as opções estão crescendo. Sabemos que a nossa região é propícia para esta produção — explica Menegotto.
Menegotto conta que, em Caxias, a secretaria tem registro de dois vendedores, que participam das feiras do agricultor e da feira orgânica. No entanto, existem produtores que fornecem diretamente para os restaurantes.
— Nós temos conhecimento de um agricultor que produz três tipos de cogumelos e vende na Feira do Agricultor. Hoje em dia, está valendo a pena. São poucas pessoas que produzem, mas o consumo está começando a crescer e a tendência é de crescer a produção — destaca.
Oportunidade de negócio
Para manter temperaturas amenas e alta umidade, o cenário ideal para a produção das variedades shiitake e shimeji, cultivadas na propriedade do produtor rural e empresário Joel Bolzan, de Flores da Cunha, o prédio precisou ser adaptado.
Ele começou o cultivo de cogumelos há 20 anos e, aos poucos, Bolzan viu na produção uma oportunidade de negócio. Hoje, colhe 50kg por semana, um trabalho de muito cuidado e atenção durante todos os dias do ano.
— Como negócio, é lucrativo, até por ser um produto 100% orgânico. Ele atende veganos, vegetarianos, então é um produto que tem muito potencial de crescimento – explica Bolzan.
A produção de cogumelos hoje é responsável por 80% da renda da família de Flores da Cunha e, para que cresça bem, recebe até tratamento místico:
— Colocamos música, que está ajudando muito a não a travar o cultivo.
Produção crescente na Serra
O Rio Grande do Sul ainda não tem dados oficiais sobre a produção comercial de cogumelos. No entanto, o cultivo é feito especialmente na Serra, Litoral e Região Metropolitana. Conforme explica o engenheiro agrônomo da Emater-RS Ari Uriartt, ainda não é possível quantificar a produção, mas é possível perceber o aumento do consumo dos cogumelos.
— Há uma visível, não quantificada, demanda crescente por conta de uma série de hábitos que foram se criando em torno do consumo de cogumelos, como a restrição do consumo de carne. Ele entra nos hábitos alimentares da população que busca um alimento diferenciado — explica Uriatt.
A presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Caxias do Sul, Bernardete Boniatti Onsi, explica que, também acredita que há um bom potencial de crescimento.
— Não é uma cultura expressiva, eu acredito que o número de produtores é bem pequeno, mas que deve aumentar, principalmente por pessoas que busquem se reinventar, ou que busquem um produto novo para oferecer — destaca.
Bernardete explica que o aumento na produção deve acontecer de forma lenta, principalmente porque, segundo ela, falta divulgação sobre os benefícios desse produto, sobre o valor financeiro e nutricional dos cogumelos.
— Falta conhecimento para que os agricultores possam investir neste novo produto. Ninguém vai colocar uma nova cultura que não sabe se vai vender. Mas é uma opção para quem já tem outro cultivo, quem quer agregar mais um cultivo na sua propriedade — afirma.
Caça aos cogumelos já é prática comum na região
Quem não é produtor também pode viver a experiência de caçar os cogumelos. A prática é cada vez mais popular em municípios da Serra, como em São Francisco de Paula. A época mais propicia para a caçada é entre maio e junho, uma vez que esse período é o melhor para o crescimento dos fungos por conta da umidade e das temperaturas mais amenas.
O biólogo Jeferson Müller Timm explica que a caça não envolve apenas os cogumelos comestíveis, mas também sobre os medicinais e até os tóxicos, como uma espécie de aula.
— Esse trabalho que a gente faz não é só acerca dos comestíveis, ele é acerca da biodiversidade em geral, a função dos fungos nos sistemas e tudo mais. E aí, a gente aborda quais são os comestíveis, os tóxicos, os medicinais... — esclarece.
A ideia dessa aventura é de oportunizar que as pessoas estejam mais próximas dos cogumelos, aprendam como coletar, como transportar e limpar. Geralmente, são feitas parcerias com restaurantes para que, no final do passeio, os caçadores de cogumelos possam saborear receitas que levam os fungos na preparação.
— O cogumelo cultivado tem, com certeza, melhores condições de higiene e cuidados no preparo e no cultivo para evitar alguma contaminação. Então, na floresta, a gente sempre tem que prestar atenção nisso. Quais são os cogumelos mais jovens, os que estão aptos para consumo, quais estão mais passados... Mas, sem dúvida, os cogumelos que crescem na floresta eles vão ter um sabor diferenciado do que os cogumelos cultivados. Na grande maioria dos casos, eles têm um sabor muito especial, diferenciado — afirma Timm.