Não se planeje para encontrar um grande movimento em um shopping no meio da tarde de um dia útil em Caxias do Sul. O único cenário possível é de corredores vazios e pouquíssimo movimento. O que contrasta, e muito, com o que se vê aos finais de semana, vésperas de datas comemorativas ou em noites quentes, que pedem um cinema ou um jantar. Nestes momentos, os empreendimentos estão com estacionamentos lotados e corredores fervilhando de gente.
Assim como para inúmeros setores, o ano de 2022 está sendo de recomeço para os shoppings. Em Caxias do Sul, os estabelecimentos sentem os primeiros efeitos de uma retomada do público, que, com a vacinação, volta a se sentir confiante para frequentar os espaços. Da mesma forma, lojistas voltam a se instalar nestes ambientes diferenciados, aproveitando um aumento da movimentação e outros atrativos que podem chamar atenção dos consumidores. Embora se constate em todos os empreendimentos da cidade espaços vazios para locação, as administrações dos shoppings ativos estão otimistas e ampliam o leque de vantagens para manter os lojistas e aumentar o número de visitantes. A expectativa é de novos negócios para todos os envolvidos neste cenário, incluindo possibilidades de ampliação, como é o caso do Plaza Shopping. Enquanto muitos pensam que ele "virou a Pernambucanas" o empreendimento está em reformas para manter ativas todas as lojas já em 2023.
Os números do comércio representam bem o momento, apesar destes centros de compras terem um recorte próprio. Conforme relatório do desempenho da economia de Caxias, levantado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e Câmara da Indústria e Comércio (CIC), o comércio avançou 9,3% no primeiro semestre, depois de índices negativos no ano passado. Em um passeio pelos centros comerciais na segunda maior cidade do Estado, cenários distintos podem ser conferidos. Enquanto alguns estão com movimento constante e crescente, outros, como o Martcenter, fecharam todas as lojas e mantém o hipermercado.
Os números nacionais apontam que o público está interessado a voltar a fazer compras presenciais e há maior procura de comerciantes por espaços. De acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), são 5,7 mil lojas nos 39 shoppings do RS.
Neste contexto, cada um de sua maneira, descobre a melhor forma e estratégia de manter o cliente e também os lojistas próximos. Para 2023, inclusive, os shoppings caxienses reservam surpresas aos consumidores, com atração e lançamentos de grandes marcas.
Poder da experiência
A pandemia foi um momento desafiador que trouxe uma reinvenção para o Villagio Caxias. Com auxílio aos lojistas para vendas online - que popularizou a negociação por meio de aplicativo de conversa - a administração manteve o negócio ativo. Hoje, segundo a administração, o shopping tem ocupação de espaço de 97%, com 150 lojas, e em julho, teve cerca de 750 mil visitantes. A "virada do jogo" veio em abril, quando os indicadores superaram os níveis da pandemia. A partir de julho, a retomada é para o nível pré-pandemia. O faturamento no mês, inclusive, superou em 19% o mesmo período de 2019. Na avaliação da gerente de marketing do shopping, Gabriella Alves dos Santos, este é o resultado de um trabalho intenso para trazer e manter marcas desejadas e da promoção de atrativos cinema, eventos culturais e, claro, de uma praça de alimentação diversificada.
— Não é só a questão de compras, mas também entretenimento. É o ponto que faz a diferença hoje. Quando você olha para um shopping e entende que não é só um centro de compras, mas que é centro de entretenimento e conveniência, com mercado, lotérica e outras coisas, você absorve mais pontos de contato na jornada do cliente — explica Gabriella.
Em julho - quando o shopping recebeu no último final de semana mais de 85 mil visitantes - o Villagio trouxe, por exemplo, a campanha para férias de inverno, com atrações como tributo a Elvis Presley. Uma consequência foi que o GNC Cinemas teve "recorde histórico de vendas", como informa a gerente de marketing.
Mas, o entretenimento não é a única estratégia. O Villagio consegue atrair e selecionar marcas que são desejadas pelo público para ocupar espaços no shopping. Em 2022, por exemplo, a Decathlon chegou a Caxias. Gabriella relata que há uma grande procura de marcas consagradas para fazer parte do shopping caxiense.
— Temos que olhar o que o nosso consumidor deseja e tem o segundo fator que é a vontade de sair, de fazer algo, do shopping ser um momento de encontro e de experiência — destaca Gabriella.
A rotatividade de marcas, inclusive, é sempre planejada, com análise até mesmo de como cada ponto performa. Para as aberturas das lojas, as negociações geralmente acontecem um ano antes. Para 2023, o Villagio espera trazer dois restaurantes internacionais e ainda está de olho em uma popular loja brasileira de moda.
— A transformação que fazemos pode ser demorada. Com o tempo, traçamos uma estratégia e temos que fazer uma troca. Vou ter que tirar alguns para colocar novos. Isso acontece — pontua a gerente de marketing.
Gabriella se surpreendeu com a retomada e com o quanto o shopping mostrou ser importante para as pessoas.
— As pessoas sentiram falta de passear no shopping — observa a gerente.
A escolha pelo shopping
Nem todos os comerciantes têm o objetivo de abrir uma loja em shopping. Algumas vezes, como comenta Gabriella, existe um receio para tomar a decisão. Mas, isso tende a mudar após a abertura:
Acaba quebrando um pouco o preconceito, porque tem alto fluxo — diz a gerente de marketing do Villagio.
Quem optou por abrir um ponto no shopping no meio de 2021, mantendo também uma loja no Centro, foram as irmãs Andressa e Camila D'Agostini, 24 e 27 anos. A decisão se mostrou acertada para a Loja Amoh, tanto que as lojistas estão prestes a celebrar cinco anos do negócio com projeção animadora.
— Eu já trabalhei aqui, e eu via o shopping sempre com uma vitrine para negócios. Como queríamos que a marca crescesse e tivesse mais visibilidade, nós viemos para cá — conta Camila.
Na área central, a loja performou bem também na pandemia, com aumento das vendas no e-commerce. Isso possibilitou uma mudança de espaço no Centro para um local maior, e a abertura do ponto no Villagio. Em 2022, as irmãs sentem que o consumidor está com mais vontade de fazer a compra presencialmente.
— Vimos que as pessoas gostam de vir na loja. Não é mais como era antes, de querer comprar online. Elas querem sair, sentem a vontade de ter o contato — observa a lojista.
Hoje, as empresárias garantem estar felizes com a escolha:
Comparado ao ano passado, a loja cresce a cada mês. Todo mês conseguimos aumentar o faturamento — analisa Camila.
Novo fluxo com serviços
O Bourbon Shopping San Pellegrino ainda apresenta os efeitos da pandemia com espaços vagos, notados pelos consumidores. Mas, há sinais sentidos para uma perspectiva melhor. De acordo com Roberto Manuel Zaffari, diretor da Airaz Administradora, o ano apresenta uma melhora no fluxo com a retomada das atividades. Esse movimento deve ficar ainda maior com o lançamento de uma agência do Tudo Fácil Caxias do Sul, do Governo do Estado - que reúne os serviços públicos mais procurados pelos cidadãos, como emissão de identidades e carteiras de trabalho, no mesmo lugar.
A previsão é que o serviço, que deve iniciar a operação nas próximas semanas, tenha 180 mil atendimentos anuais. Além disso, cidadãos de Caxias e de 53 municípios da Serra poderão utilizar a agência.
— Será um grande diferencial para o shopping, pois atrairá um novo e constante público, que poderá aproveitar toda a infraestrutura do Bourbon San Pellegrino para resolver suas necessidades — destaca Zaffari.
O lançamento vai ao encontro ao que é notado pela administração do shopping: os consumidores buscam mais serviços e gastronomia no local. Além disso, busca oferecer atrativos para diversos públicos, como o infantil. Em agosto, o Bourbon San Pellegrino apostou na atração Alice no País das Maravilhas, que está no térreo.
Para o segundo semestre, a projeção é de inauguração de mais operações, além do Tudo Fácil. A base para isso está mantida, uma vez que as âncoras, como mercado, loja de roupas e varejo, demonstram superar o patamar de antes da pandemia.
— Estamos com negociações em andamento para a ocupação do shopping envolvendo diferentes propostas e, por exemplo, as lojas âncoras do empreendimento apresentam crescimento de dois dígitos sobre os números de 2019 — comenta o diretor.
500 metros quadrados de novas lojas em 2023
Na área central, o Caxias Plaza Shopping prepara uma nova etapa para 2023. O centro comercial já iniciou uma reforma, que atualmente está na etapa de aprovação do PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndios), e que abrirá 500 metros quadrados para serem ocupados por novas lojas ou até por outros atrativos. O processo de repaginação, que também envolve uma mudança visual da marca, iniciou com um sonho já concretizado: uma loja âncora. Desde junho, uma unidade da Pernambucanas ocupa uma das entradas do centro comercial, na Avenida Júlio de Castilhos. O planejamento é para que o Caxias Plaza consiga mais marcas consolidadas para o ano que vem.
Para o shopping, a expectativa para o próximo ano também é de retomada de mais vendas. No momento, um dos sócios proprietários, Miguel Frederico Fortes, considera que o cenário de negócios "está longe do normal". O faturamento ainda está 30% abaixo do esperado.
— Tu tem o movimento, mas não tem compra. Para nós que somos comerciantes, não adianta ter pessoas na rua caminhando, tem que comprar — analisa Fortes.
O empresário acredita que este é um momento de "realinhamento a uma nova realidade". O Caxias Plaza aproveita o período para a reorganização, que passa por um reposicionamento comercial e físico.
— Estamos nos posicionando com outros parceiros para o ano que vem — informa o sócio proprietário.
A previsão é que o shopping da área central tenha de 15 a 20 lojas, além da âncora.
Auxílio aos lojistas para manter espaços ativos
Outro shopping do Centro de Caxias, o Prataviera Shopping considera que o retorno do movimento e de novos negócios é gradual, mas já enxerga bons sinais para os próximos meses. Durante a pandemia, o empreendimento foi mais um que pensou bastante na sustentabilidade do lojista. Além do suporte para vendas online, o shopping também buscou apresentar soluções financeiras aos comerciantes, como descontos em aluguéis ou novos prazos para pagamento. Essa preocupação, inclusive, continua atualmente, para dar melhores condições aos lojistas.
— Estamos trabalhando muito na questão de redução de custo condominial, estamos negociando aluguel do lojista, promovendo ações para que ele possa vender mais, para trazer as pessoas para dentro do shopping. Tudo isso que fizemos, sentimos que estamos tendo uma retomada — explica João Prataviera Neto, gerente do shopping.
O momento também está interessante para procura de lojistas que querem alugar espaços. Após ter perdido algumas lojas na pandemia, o Prataviera voltou a ter cerca de 90% de ocupação neste momento.
— Reduzimos pela metade o número de lojas que estavam vazias, da pandemia para agora, e o faturamento das lojas vem com um crescimento. Claro que estamos olhando para uma base baixa, de pandemia. Não tem como não ter aumento. Mas, é um aumento real. Mesmo comparando este ano com 2019, depois de fevereiro a coisa começou a melhorar bastante — avalia o gerente.
O Prataviera também está em negociações com novas lojas. Para 2023, o sentimento é de esperança, mas Prataviera Neto prega cautela por conta do cenário macroeconômico e das eleições.
— Estamos num momento muito delicado. Temos a questão do cenário econômico, que é muito preocupante. Não sabemos até quando vamos conseguir chegar com esses números que estamos tendo — pontua.
Permanência garantida
Desde 2015 no Prataviera Shopping, Pedro Garcia, 26, dono da Tabacaria Garcia, foi um dos lojistas que permaneceu no espaço durante a pandemia. O que possibilitou isso também foi a adesão à tele entrega, contando com motoboy próprio. O formato é usado até hoje, o que conquista clientes pela Serra.
— Ficamos assustados no início, mas conforme o tempo foi passando, tivemos que nos reinventar. Ver uma forma de atender a demanda dos clientes e conseguir pagar as contas — conta Garcia.
O lojista avalia que o auxílio do shopping também foi bastante positivo para manter o ponto. Em 2022, Garcia tem a impressão que as vendas tendem apenas a melhorar. Ao mesmo tempo, o comerciante tem a certeza que manterá o negócio no centro de compras.
— Eu gosto da parte de segurança, ter uma equipe de limpeza, um estacionamento próprio. É bem o que procuramos. E eu escolhi "o Prata" por estar no Centro e tem algumas operações, como agência e praça de alimentação (que atraem bastante público), e está sempre girando bastante gente — comenta o empreendedor.