O cenário de inovação em Caxias do Sul ainda tem muito o que evoluir, mas os últimos anos têm sido prósperos. É o que apontam especialistas que atuam na área. Um levantamento do Sebrae, ainda em andamento, aponta que a cidade tem 26 startups constituídas. É o maior número na região da Serra, seguindo a tendência devido ao município ser a segunda principal economia do Estado. No total, a região tem 40 startups já mapeadas, atrás da Região Metropolitana (223), Sinos, Caí e Paranhana (54) e Centro (51). Os números, mesmo que preliminares, também vão em direção à análise dos especialistas sobre a possibilidade de um desenvolvimento maior na área.
O que tem se visto é um esforço coletivo em busca de ampliar a capacidade de inovação da Serra. Empresas tradicionais têm aberto espaço para novas formas de buscar soluções. Se até poucos anos, a resolução dos problemas ocorria dentro das empresas apenas pelas próprias equipes, agora o momento é de colaboração no desenvolvimento de ideias. Em 2020, as Empresas Randon inauguraram a Conexo, um ambiente desenvolvido inclusive arquitetonicamente para enfatizar a ideia de inovação aberta.
— É uma estrutura que trabalha na lógica da abundância, que compartilha as ferramentas que deram certo. Então, aquilo que deu certo para a Randon, nós também abrimos a caixa de ferramentas para outras empresas — explica Veridiana Sonego, diretora da Conexo.
A Conexo tem hoje mais de 45 parceiras. São desde grandes corporações até instituições sem fins lucrativos que utilizam serviços oferecidos pela empresa, que é o resultado de um trabalho das Empresas Randon iniciado ainda em 2014, com a identificação da cultura da empresa e os traços que queria para os próximos 65 anos (tempo que o grupo tinha na época). Em 2017, como sequência desse processo, foi criada uma célula exploratória de ecossistema de inovação.
É uma estrutura que trabalha na lógica da abundância, que compartilha as ferramentas que deram certo
VERIDIANA SONEGO
Diretora da Conexo
Três funcionários foram, então, selecionados para desenvolver iniciativas nesse cenário. Então, três anos depois, bem em meio ao auge da pandemia, é lançada a Conexo, para promover a conexão de diferentes formas entre aquelas que têm uma “dor” e aquelas que podem oferecer uma solução. Nesse sentido, oferece diferentes opções de serviços, que vão desde capacitações até o auxílio na transformação na cultura da empresa.
Outra iniciativa importante nesse contexto de inovação é o Instituto Hélice, que surgiu em 2018 como um projeto. O fortalecimento ocorreu em 2019, quando ganhou o status de instituto. Com a proposta de promover a colaboração entre as organizações, o Hélice também faz a interligação de empresas e startups. Hoje, é mantido por cinco empresas e conta com 16 associados, além de oito apoiadores.
Possibilidade de conexão
Até 2 de setembro, estão abertas as inscrições para o Conexo Challenge. É uma oportunidade de conexão de empresas parceiras da Conexo com startups.
A Serra precisa conversar mais e ter criação de startups e a gente está falando desde a educação base, com a educação empreendedora, até ter incentivos para que isso aconteça
LEO VITOR REDONDO
Head da Conexo
— As empresas parceiras lançam desafios, que elas não têm tecnologia ou competência para resolver internamente. Então, é um momento de conexão com startups. A Conexo tem o papel de ajudar a identificar, elaborar e lapidar esse desafio — detalha Leo Vitor Redondo, head da Conexo.
Nessa edição, são propostos sete desafios, para a busca de soluções em gestão de pessoas e processos produtivos em ambientes industriais, fidelização de clientes, e desenvolvimento de ferramentas para contratação de serviços, gestão de governança corporativa, entre outros. Após o período de inscrições, os participantes selecionados serão convidados para um momento de apresentações das soluções. Os aprovados poderão avançar para uma etapa de imersão e desenvolvimento da solução proposta.
As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas por esse endereço.
Soluções para o mercado financeiro
Uma das interligações feitas por meio do Conexo Challenge foi entre a CAF e a Sicredi Pioneira. A cooperativa da Serra buscava uma startup que realizasse um processo antifraude no mercado financeiro. A CAF apareceu com a solução mais bem adequada naquele momento: um sistema que, a partir de fotos dos documentos e do rosto do associado, faz a checagem que garante a solidez dos dados informados.
A CAF nasceu há três anos. Inicialmente, foi a solução para uma fintech, chamada Mutual, fundada por Leonardo Rebite. O empresário queria implantar uma esteira completa de prevenção à fraude.
— No mercado, ele (Leonardo) não conseguia em uma única empresa contratar todas as soluções necessárias para um banco conseguir implementar todas as soluções de prevenção à fraude de identidade. Então, de tanto ficar frustrado, ele decidiu arregaçar as mangas e construir isso aqui — conta Vinicius Tsuda, account manager da CAF.
Hoje, a CAF atende diferentes setores, como marketplaces, foodtechs, e-commerces e o próprio setor financeiro. No total, são mais de 100 empresas.
Soluções para a indústria
A BTI Estratégica, hoje residente da Conexo, surgiu há nove anos diante da necessidade de uma empresa de ter um motor integrador de coleta de dados no chão de fábrica, hoje o carro-chefe da startup. Rogério Augusto Pereira, CEO da BTI Estratégica, explica que a solução reúne dados para gerar informações úteis para as empresas.
— Nossa solução se conecta às redes industriais e se conecta à rede corporativa, para chegar, por exemplo, e conseguir pegar dados de um RH, de um batimento de ponto, e começar a fazer o cruzamento versus o que foi apontado de produção versus o que foi apontado de horas trabalhadas, para se chegar a uma métrica de dizer: olha, isso aqui está me dando produtividade.
A BTI iniciou os trabalhos nas Empresas Randon em 2020 com um teste de ExO, embrião da Conexo e hoje um programa da empresa. Desde lá, as relações se aprofundaram. Uma solução para a Suspensys, por exemplo, foi desenvolvida passando por diversas fases e adição de componentes. Conforme Pereira, hoje são nove projetos rodando para matar gargalos que existiam até que a solução pudesse ser aplicada. Segundo ele, essas etapas são relevantes porque, por mais que tudo esteja identificado, a melhoria pode necessitar de outras fases para ser aplicada. Ele diz ainda que a pandemia trouxe mudanças de comportamento para as empresas tradicionais:
— Hoje, a gente não está mais tanto buscando e educando, mas justamente recebendo, e aí vem a nossa conexão com a Conexo, que é receber essas empresas e entender que elas estão perdidas. Às vezes, elas sabem o que elas precisam resolver, mas não como. E é onde a gente une os braços com a Conexo e diz: a gente tem essa dor, vocês nos ajudam. E aí uns com os outros a gente diz: esses já conseguimos com solução, esse é através de uma consultoria, essa precisa de uma Conexo.
Novas percepções sobre o próprio negócio
No mercado há 47 anos, a Dupont Spiller Fadanelli Advogados tem cinco unidade: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Porto Alegre, São Paulo e Florianópolis. Essa última, localizada em um dos pontos mais estratégicos para inovação no país, foi criada inclusive com o objetivo de garantir que o escritório estivesse mais próximo dessa área.
— O que acaba acontecendo com o tempo é que a gente não era só um escritório, que a gente é uma empresa prestadora de serviços jurídicos. Isso demonstra que os problemas, sejam indústrias ou qualquer outro tipo, são os mesmos — aponta Bárbara Ravanello, sócia do escritório.
Com cerca de 80 profissionais, o escritório atende o Brasil inteiro. Desde 2018, está mais atento aos movimentos de inovação e está ligado ao Instituto Hélice. Para Bárbara, essa iniciativa é um dos pontos importantes para favorecer o desenvolvimento da região nessa área. Ela elenca ainda como passo importante a Lei de Incentivo à Inovação criada em Caxias do Sul.
— Há uns quatro anos a gente tem um programa de evolução digital no escritório. No início ainda não sabíamos muito bem como iniciar isso, mas logo em seguida o Hélice já apareceu na nossa vida. No Instituto, do qual a gente sempre foi apoiador , a gente identificou o melhor formato de contatar as startups — conta.
Assim, o próprio Hélice levou à conexão com startups. Porém, com o tempo, explica a gestora da área de inovação e tecnologia da Dupont Spiller Fadanelli Advogados, surgiram outras necessidades e a empresa ampliou a busca por alternativas para a interligação com startups. Hoje, o escritório se conecta com soluções na área de RH, comercial e para serviços próprios dessa área.