Uma iniciativa da prefeitura de Veranópolis tenta favorecer a melhora genética do gado no município. Trata-se de um subsídio de 70% aos produtores rurais que querem fazer a transferência de embriões de gado leiteiro. De forma resumida, a técnica consiste em coletar óvulos de uma fêmea geneticamente superior às demais, fazer a inseminação com o sêmen do boi também previamente selecionado e transferir o embrião para o desenvolvimento em outras vacas. Com isso, o objetivo é que a cria tenha um desempenho melhor em termos de quantidade e qualidade do leite.
O secretário da Agricultura de Veranópolis, Fernando Fracaro, diz que a ideia do programa surgiu como uma forma de incentivar o setor leiteiro no município. Os produtores têm sofrido com o aumento no custo de insumos e também com o impacto das condições ambientais, como a estiagem no último verão e o ataque de cigarrinhas às plantações de milho, usado para alimentar os animais, em 2020.
— A gente percebe que muitos produtores estão desistindo por questões de lucratividade. O custo de produção se tornou alto com o padrão de alimentação. Isso leva à perda do homem na atividade. Por isso que cabe, precisa, tem necessidade do incentivo — frisa Fracaro.
Para fazer o procedimento, a empresa contratada é a Biotec, localizada em Nova Prata, que está habilitada no Ministério da Agricultura para oferecer esse serviço. O investimento para esses processos pode variar de R$ 880 a R$ 2.590 por prenhes confirmada para o produtor que não tem o subsídio. Com o auxílio do município, o custo se reduz de R$ 264 a R$ 777 por cada embrião que continua a se desenvolver dentro da vaca 60 dias após a transferência.
— Vamos supor que a média de produção de leite por dia seja de 25 litros por dia. Algumas vacas produzem 10 litros e outras 25 litros, mas as tops chegam a 50 litros. Nesse rebanho de 100 animais, teriam quatro ou cinco que produzem 50 litros. Elas teriam uma filha por ano, isso se a cria for fêmea. Com a transferência de embriões, elas podem ter até 20 filhas por ano. Quem vai gestar? As que produziriam 10 litros. Então, imagina o ganho genético que vai ser — exemplifica o médico veterinário Wagner Marques de Lima, dono da Biotec.
Família aposta na técnica
Na Capela Santo Isidoro, no interior de Veranópolis, a família Mazzarollo foi a primeira a contar com o subsídio. O rebanho recebeu cinco embriões, a quantidade limite que é possível obter com o auxílio da prefeitura. Em cerca de 30 dias, os Mazzarollo vão saber quantos embriões se desenvolveram dentro das vacas de forma adequada. A perspectiva é de que nasçam de duas a três crias geneticamente superiores na propriedade.
O produtor rural Gilmar Mazzarollo, 62 anos, conta que a família já tinha a ideia de utilizar essa técnica, mas que a queda de 50% na rentabilidade da propriedade nos últimos dois anos fez com que o projeto fosse protelado. Segundo ele, o subsídio favoreceu a tomada de decisão. A transferência de embriões trata-se, no entanto, de um investimento de médio prazo. Além da gestação, há o prazo para que a bezerra comece a produzir leite.
— Com certeza, vai dar bons resultados, porque pode se escolher o que vai ser colocado na vaca — projeta.
Se a expectativa se confirmar, a ideia é ampliar a utilização da técnica no rebanho, chegando a usá-la até em metade das vacas.
— Estamos aproveitando a oportunidade que nos deram _ comenta a agricultora Marizete Kaciava Mazzarollo, 58.
A família tem hoje 64 vacas que geram uma média de 900 litros de leite por dia vendidos para uma cooperativa. Atividade tradicional entre os antepassados, a produção leiteira continua no horizonte dos Mazzarollo, apesar das dificuldades enfrentadas nos últimos anos. Junto com o pais, Eric Mazzarollo, 31, cuida do rebanho. Ele explica que a participação pioneira no programa da prefeitura também deve servir para que outros produtores entendam os benefícios da técnica:
— É uma novidade para nós também. Estamos aprendendo enquanto fazemos os procedimentos.
A produção em Veranópolis
- 3.012 vacas de leite
- 86 produtores de leite
- 6.983.024 de litros produzidos por ano
Fontes: Emater e Cooperativa Santa Clara