A chuva constante e em grande quantidade que caiu na Serra durante as últimas semanas pode impactar a produção de citros na região. Até agora, a Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul diz que não contabilizou prejuízos significativos. Mas as perdas podem acontecer de outras maneiras, como com o aparecimento de doenças nas plantas ou redução da doçura.
— As chuvas em grande quantidade, principalmente na época da colheita, sempre são prejudiciais, porque podem ocasionar perdas por causa de doenças, aumenta a quantidade de fungos e doenças disponíveis, e perdas relativas à própria chuva, que destrói o fruto. Algumas hortaliças produzidas nessa época também vão ser prejudicadas — explica a agrônoma Andressa Comiotto, doutora em Fisiologia Vegetal.
A coordenadora do curso de Tecnologia em Horticultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS) explica que a chuva constante por um período acima de três dias pode aumentar a incidência de fungos nas plantas:
— Esses fungos vão conseguir penetrar com maior velocidade nas plantas. Isso pode reduzir a quantidade (de frutos). Além do quê, a chuva pode facilitar a queda dos frutos. Então, pode, sim, afetar a produção nessa safra — avalia.
O professor Gabriel Fernandes Pauletti, diretor do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), diz que o ideal agora para os citros, como bergamota e laranja, é que os dias se mantenham ensolarados, com noites mais frias em relação aos dias e sem temperaturas altas no geral:
— Tem algumas doenças no citros que precisam de umidade e uma temperatura em torno de 20, 22 graus. Agora, a temperatura está um pouco mais baixa, então não propicia o desenvolvimento do fungo, mas se a gente tem algum dia em que essa temperatura se eleva, associada à umidade, isso pode trazer alguns problemas de doenças fúngicas.
O doutor em Fitotecnia aponta ainda outra condição que pode afetar os citros:
— Muita água no solo também pode prejudicar a qualidade da fruta em termos de sabor. A planta absorve muito mais água e é como se sofresse uma diluição nos açucares.
Entre as hortaliças, ele menciona que os possíveis prejuízos se concentram nas que estão em produção agora, como beterraba, brócolis e alface, além de outras folhosas. Para evitar as doenças, o professor sugere que os agricultores fiquem atentos ao desenvolvimento das condições propícias a elas e, assim, façam tratamento fitossanitários de forma preventiva.
Frutas em dormência
Para as principais culturas da Serra, como a uva e o pêssego, a chuva dos últimos dias não tem um impacto direto. Isso porque elas estão em fase de dormência, período em que as plantas perdem folhas, não têm flores e nem frutos. Andressa explica que a disponibilidade de chuvas pode ser até benéfica nesse período, ainda mais depois de um período de estiagem, como ocorreu no verão passado. Pauletti pontua, no entanto, que em caso de acúmulo de água no solo, podem ocorrer problemas mesmo nesta fase. Porém, adiciona que a maior parte do solo da região é bem drenado.
Quantidade de chuva
:: O mês de maio teve 295 milímetros de chuva registrados na estação meteorológica automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), instalada em Bento Gonçalves.
:: Esse volume está muita acima da média histórica, que varia de 140 a 180 milímetros.
:: Até a última terça-feira (14), havia sido registrado em junho, na mesma estação, 81 milímetros de chuva.
:: Nesse caso, a chuva está mais próxima da média histórica, já que se está praticamente na metade do mês e o volume esperado pela média também varia de 140 a 180 milímetros no mês.