CORREÇÃO: os participantes do Programa Envolver vão voltar a trabalhar na Marcopolo Ana Rech, e não Planalto. A informação incorreta permaneceu publicada entre 17h15min de 24 de março de 2022 e 13h21min de 28 de março de 2022.
Os irmãos Cassandra Armiliato Boeira, 47 anos, e Alysson Armiliato Boeira, 38, estão ansiosos pelo dia 4 de abril. Essa é a data em que ambos, moradores de Caxias do Sul, vão voltar a trabalhar após dois anos afastados por causa da pandemia de covid-19. Apesar do desejo de retornar ter começado a bastante tempo, eles fazem parte de um grupo que permanecia longe do emprego por causa de uma particularidade: são pessoas com deficiência (PCDs) intelectual. Porém, agora a Marcopolo decidiu retomar as atividades para os integrantes do Programa Envolver e, por isso, a dupla poderá retornar às atividades.
Com a ajuda da mãe deles, Irene Armiliato Boeira, 69, e da psicóloga Clarinei Borges, que trabalha na Marcopolo, a reportagem conversou com Cassandra e Alysson, que têm uma certa dificuldade em se comunicar. Aos poucos, respondendo a várias perguntas, eles contaram como se sentem:
— Estamos esperando. Estou muito feliz que vou voltar ao trabalho. Estava com saudades — diz Alysson.
Cassandra comentou qual é a expectativa para o retorno:
— Sinto falta dos colegas. Vou dar abraços e conversar com eles.
Os dois compõem o quadro de funcionários da Marcopolo desde 2009, dentro do Programa Envolver, voltado a pessoas com deficiência intelectual. Irene, professora aposentada especializada em pessoas com deficiência, explica que após a lei de cotas reservar para este público uma parte das vagas nas empresas, a inclusão dos que têm a deficiência intelectual continuava difícil. Por isso, considera a iniciativa da Marcopolo um “achado”:
— Ela proporcionou para eles uma inclusão no mercado de trabalho que até então a gente não tinha, porque as pessoas com qualquer outra deficiência eram incluídas, mas não a pessoa com deficiência intelectual, porque a maioria da sociedade sempre considerava a pessoa que tu não teria condições de trabalhar com ela, mais difícil de conviver. Não vou dizer que seja fácil, ela é mais difícil, mas tem certos manejos, condições e aprendizagens que a gente tem na vida que te levam a saber conviver com eles e tu vai ser muito bem recompensada e gratificada em trabalhar com eles. Te gratifica, te recompensa muito emocionalmente, mentalmente. É tudo de bom.
Retorno esperado também pelos colegas
Afastados no início da pandemia por causa dos riscos relacionados à covid-19, os irmãos têm sofrido consequências da ausência do convívio com colegas e da sensação de falta de produtividade. Com isso, aumentaram os níveis de ansiedade. A mãe conta que, por exemplo, foi necessário aumentar doses de medicamentos que ajudam na regulação emocional. Mas a presença de PCDs na empresa não traz benefícios só para eles.
A médica Jaqueline Taschetto, coordenadora da área da medicina e serviço social da Marcopolo, conversou com colegas da empresa que disseram se sentirem felizes em trabalhar em um lugar que se preocupa com o diferente.
— A empresa prima por essa questão das pessoas serem um pouco menos preconceituosas. (A convivência) Desenvolve muito a afetividade das pessoas, porque são pessoas muito afetivas, tem um carinho muito grande entre eles. Então, é uma forma diferente de integração.
O quadro de PCDs cognitivos na Marcopolo inclui uma faixa etária de 18 a 55 anos hoje. Todos fazem serviços livre de riscos ocupacionais. Uma parte trabalha em setores determinados da empresa junto com colegas fora desse enquadramento de saúde, enquanto outra fica em uma célula específica para pessoas com deficiência. Isso depende da adaptação de cada uma ao trabalho.
— Eles gostam de ter um trabalho e cumprir com o trabalho deles. Então, eles se sentem produtivos — salienta Jaqueline.
Assim como os empregados estão com expectativas para esse retorno, a empresa também está. As pessoas com deficiência intelectual irão trabalhar agora na Marcopolo Ana Rech, em um processo de readaptação.
— A gente está programando tudo, organizando tudo com muito entusiasmo, muita vontade também de que eles voltem. E aí, a gente está preparando tudo para receber eles. A gente sabe que vai ser um pouco difícil, porque eles desacostumaram e vão se readaptar ao trabalho — explica a psicóloga Clarinei.