A aposentada Marisa Del Corno, 70 anos, sabe os dias de promoções em cada um dos principais mercados de Caxias do Sul e tem circulado por eles para tentar encontrar preços mais baratos, os que se encaixem no orçamento dela. Na terça-feira (22) à tarde, tentava selecionar tomates, cebolas, batatas e outros vegetais em um estabelecimento às margens da BR-116, no bairro Presidente Vargas. Mas não poderia levar tudo o que desejava.
— Eu ainda não recebi. Só vou receber amanhã (quarta), então hoje (terça) vou pegar só o que eu preciso mesmo. Mas tu vê, os tomates não são de boa qualidade. Não tem como levar — relatava Marisa, que também cuida de duas crianças para complementar a renda.
Entre os produtos que têm deixado de ir para a sacola da aposentada, está o mamão, um lamento para ela. A fruta faz parte da lista de 47 itens da cesta básica da cidade pesquisada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (IPES-UCS). Em fevereiro, o preço até reduziu para R$ 6,97, na comparação com janeiro, quando custava em média R$ 7,46. Mas a questão é que o consumidor caxiense, assim como no resto do país, tem tido que escolher muito bem o que comprar. No período de um ano, a cesta básica de Caxias aumentou R$ 140.
— A gente tem que escolher o mais barato e só as promoções — resume Marisa.
Outra medida adotada pelas famílias é restringir as compras, tirando da lista itens cujo o consumo é, de certa maneira, ‘recreativo’ ou ainda fazendo trocas por alimentos mais baratos. A auxiliar administrativo Mercedes Vergani, 61, conta que reduziu a compra de carnes vermelhas e de bolachas, por exemplo. Para a limpeza, apenas água sanitária e sabão têm entrado no carrinho.
— Não compramos mais o supérfluo. Agora, é só o extremamente necessário — comentou, após fazer compras no bairro Bela Vista.
No mesmo estabelecimento, a dona de casa Milena Rodrigues, 44 anos, também aproveitou a terça-feira para fazer compras. Casada e com três filhos, viu o orçamento familiar sofrer um incremento com a entrada dos dois filhos mais velhos no mercado de trabalho recentemente. Ainda assim, a família tem tido que economizar:
— Tive que diminuir muita coisa. Economizar luz. Reduzimos pizzas, churrasco, refrigerante. Para substituir a carne, temos comido mais frango, guisado, ovo — conta.
Revisão das projeções para a inflação em Caxias
A inflação no mês de fevereiro em Caxias do Sul ficou em 0,57%. Houve uma certa desaceleração em relação a janeiro, quando foi de 0,85%. É isso que mostra o Índice de Preços ao Consumidor de Caxias do Sul, calculado pelo IPES-UCS. Mas o comportamento do indicador daqui para a frente vai depender de um fator que tem afetado o mundo inteiro: a guerra na Ucrânia. A expectativa, segundo o economista Mosár Leandro Ness, era de que a inflação ficasse entre 5% e 5,5% neste ano no município. Agora, as projeções já aumentaram para entre 6% e 7%.
— De uma maneira geral, se esperava que a inflação entrasse em rota de queda. Todavia, com o conflito na Europa, existe a possibilidade da manutenção por mais tempo de aumentos principalmente de insumos que ajudam na produção doméstica. Então, pode ser que os aumentos de preço continuem.
Segundo o professor da UCS, o que deve acontecer é um freio na inflação provocado pelo aumento da Selic e pela falta de capacidade do consumidor de pagar mais:
— Eles (preços) só não vão subir mais por um motivo: a renda do trabalhador está congelada há algum tempo. Em função de ela estar congelada e do Banco Central estar administrando agora uma taxa Selic mais elevada – nossa expectativa é que a Selic chegue a 12,75% — então esse impacto é uma restrição forte ao dinheiro. Aí, sem dinheiro em circulação e sem aumento de renda, você não vai ter consequentemente aumento de preço se sustentando por muito tempo.
Outro fator que pode contribuir para restringir a inflação, de acordo com o economista, é a estabilização do câmbio