Prestes a ser a protagonista na maior festa da cidade nos próximos dias, a uva também foi o centro das atenções na tarde desta quinta-feira (3) em Caxias do Sul. É que prefeitura realizou, oficialmente, a abertura da colheita, com um evento em São Luiz da 6ª Légua, com a presença do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior - vaja mais abaixo. Embora as entidades avaliem uma perda estimada em cerca de 20% na produção (que varia entre 65 mil a 70 mil toneladas anuais), há a concordância que a uva que está chegando à indústria e aos consumidores se destaca pela qualidade.
— Em termos de qualidade não se discute, talvez seja uma das melhores dos últimos anos. Está tendo quantidade de açúcar acima do normal. Em quantidade, temos uma perda significativa principalmente nas variedades mais precoces. Essa chuva que ocorreu nos últimos dias acabou amenizando um pouco para as variedades mais tardias — avalia o secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rudimar Menegotto.
— Em função da supersafra que tivemos no ano passado, a própria videira produziu menos, com menos cachos de uva. E também temos que considerar todo o fator climático, a estiagem, que também reduziu a quantidade. Umas uvas até secaram e outras ficaram com menos suco, mais miúdas. Vamos ter uma quantidade menor, sim, mas com uma qualidade boa naquela que está sendo colhida agora — completa Bernardete Onsi, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Caxias do Sul.
O evento é apenas comemorativo, porque, na prática algumas variedades da fruta, como a Vênus, vêm sendo retirada dos parreirais desde o início de dezembro. Neste momento, a colheita se concentra nos cachos de Bordô e Niágara (branca e rosa). Alguns tipos, como as de mesa, ainda podem ter retirada mais tardia, sendo colhidas até o fim de março.
3.850 HECTARES
Bernardete detalha que a produção de uva no município é destinada principalmente para a transformação em suco (integral e concentrado) e vinho.
— Mas também é consumida in natura e uma parte vai para outros estados, mais do centro do país, como São Paulo — detalha.
Conforme dados de 2020 da Emater, a fruta representa a cultura mais produzida no município, com área plantada de 3.850 hectares. Segundo o secretário da Agricultura, cerca de 1,6 mil famílias estão envolvidas no processo. As variedades com maior volume em Caxias são a Bordô e a Isabel, conforme Menegotto.
— Estas duas variedades se equivalem no percentual. No passado, a Isabel era maior. Mas, hoje, a Bordô praticamente é a mesma quantidade ou até um pouco mais — detalha o secretário.
DADOS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM CAXIAS*
Uva - 70 mil toneladas/ano (área de 3.850 hectares)
Maçã - 70 mil toneladas/ano (área de 2.600 hectares)
Milho - 65,7 mil toneladas/ano (área de 7.000 hectares)
Tomate - 30 mil toneladas/ ano (área de 390 hectares)
Cenoura - 30 mil toneladas/ano (área de 500 hectares)
Beterraba - 15,3 mil toneladas/ano (área de 340 hectares)
*Dados de 2020, obtidos pela Emater.
Bênção, colheita simbólica e discursos
Além do vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior, a abertura oficial da colheita teve a presença do secretário estadual de Turismo, Ronaldo Santini, do prefeito de Caxias Adiló Didomenico, entre outras autoridades. O bispo Dom José Gislon conduziu um momento de oração e abençoou os produtores. Ao fim, o vice-governador participou da colheita simbólica da fruta, acompanhado do prefeito de Caxias e das soberanas da Festa da Uva.
—A uva tem um simbolismo muito forte, não só para Caxias e a região, como para o Estado como um todo. Sempre bom lembrar que o Rio Grande do Sul é responsável por 50% da produção de uva de todo o país. Embora esse momento difícil da estiagem, há esse simbolismo do trabalho árduo dos nossos produtores — comentou o vice-governador.
Supersafra ajudou a equilibrar o estoque
A festa de abertura da colheita ocorre anualmente, de forma itinerante em Caxias do Sul, com base em uma lei municipal de 2008. Originalmente, a comemoração se referia apenas à colheita de uva. Em 2014, a lei recebeu uma emenda, passando a abranger todos os cultivos.
Neste ano, a Vinícola De Mori, que carrega uma história centenária e familiar, percorrendo gerações, foi a escolhida para receber o evento. A vinícola produz vinhos finos e de mesa, espumantes e sucos integrais. A venda se dá, principalmente, para consumidores locais, mas também há envio para outras partes do país, como explica Juliana Demori, esposa de Vandeir Demori, que administra a empresa.
— Só não vendemos para Norte e Nordeste. Não temos uma revenda, vendemos direto ao consumidor. Mas 80% da nossa venda é local — explica Juliana.
A uva americana, para o vinho de mesa, é produzida pela própria vinícola, em cerca de oito hectares de parreirais. Já a fruta destinada aos vinhos finos é comprada de fornecedores da região. Juliana relata que a supersafra do ano passado, com produção de 40% a mais que o esperado, ajudou a equilibrar o estoque de vinhos deste ano.
— Nossos estoques de vinho ficaram grandes. Então, esse ano vamos ter uma perda na Bordô (em torno de 20%), mas na Isabel não. Vamos ter uma perda não tão significativa porque usamos a uva para o vinho e nós temos um estoque grande da bebida — comenta Juliana.
Em 2021, a vinícola De Mori produziu 120 mil litros de vinho. Para este ano, a expectativa é que a produção fique entre 90 mil a 100 mil litros da bebida.