O cenário atípico provocado pela pandemia de coronavírus reflete-se também no tradicional recesso de fim de ano das indústrias de Caxias do Sul. Com férias coletivas concedidas no início da pandemia, entre março e abril, e a carteira de pedidos aquecida para o primeiro trimestre de 2021, a parada recorrente entre as vésperas do Natal e os primeiros dias do novo ano, que chegou a atingir 70% das empresas em 2019, não se repete em 2020.
A situação foge tanto do comum que o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos de Caxias do Sul (Simecs) não fez o tradicional levantamento que apontava a porcentagem de empresas da categoria que optava por conceder férias no final do ano, estimando a quantidade de trabalhadores em recesso nesta época. Segundo a diretora executiva da entidade, Daiane Catuzzo, a maioria das indústrias não entrou em férias coletivas, usando banco de horas ou flexibilização da carga horária para organizar folgas estendidas. De acordo com ela, as empresas com maiores demandas acabaram parando apenas nos feriados de Natal e Ano Novo.
— Se a gente fizer um comparativo entre o ano passado e esse, com certeza tem menos funcionários de folga e com tempo menor de parada, até porque não tinham mais férias para tirar. Tem mais gente trabalhando esse ano do que nos anos anteriores. Até porque, se tem pedido para entregar, tem que trabalhar — afirma a diretora.
Segundo o presidente do Simecs, Paulo Spanholi, a falta de matéria-prima, que vinha sendo um fator determinante para as paradas da indústria em meio à pandemia, está praticamente resolvida. A estimativa é de que o fornecimento de aços planos seja equalizado até 15 de janeiro e o de aços longos, até metade de fevereiro. Assim, ele aposta em um cenário otimista no próximo ano.
— A maioria das nossas empresas está trabalhando muito bem, com carteira de pedidos cheia, fazendo paradas no Natal e no Primeiro de Ano e depois voltam ao normal, parcelando as férias ao longo dos meses. O mercado agrícola vai muito bem, o mercado automobilístico, principalmente de exportação, também está crescendo, então a gente percebe que tem um crescimento se desenhando. Menos o setor de ônibus, que depende muito do turismo, mas acreditamos em um cenário normalizado em 2021, inclusive neste setor — analisa Spanholi.
Marcopolo parada, Randon não
A pandemia acertou em cheio a demanda por ônibus, provocando paradas na produção no primeiro semestre, que se repetem agora nas festas de fim de ano. A Marcopolo deu início às férias coletivas nesta segunda-feira (28), que se estendem até 18 de janeiro em determinadas unidades, como a fábrica de São Mateus, no Espírito Santo. As operações de Ana Rech e da San Marino, em Caxias do Sul, retomam as atividades em 7 de janeiro de 2021.
Já na Randon, diferentemente de outras épocas, em 2020 não terá férias coletivas de final de ano, já concedidas para as equipes em março. A companhia organizou a concessão de paradas das unidades industriais de Caxias em formato de feriado estendido. Assim como não houve expediente entre a última quinta-feira (24) e domingo (27), a folga se repete nesta semana, entre 31 de dezembro e 3 de janeiro, com retorno no dia 4. Em comunicado, o grupo afirma que o objetivo é "valorizar o trabalho realizado pelas equipes durante o ano e oportunizar ao conjunto dos colaboradores uma oportunidade de aproveitar dos momentos festivos de Natal e Ano Novo com os seus familiares".
Ainda de acordo com a nota, as horas destes dias serão em parte compensadas e em parte abonadas pela empresa. "Esta ação de abono, específica neste ano de pandemia, foi idealizada como uma forma de reconhecimento ao trabalho dos colaboradores, bem como para minimizar os impactos financeiros daqueles que foram afetados pelas suspensões de contrato de trabalho, flexibilizações e reduções de jornada."