Em uma década, as vinícolas do Rio Grande do Sul mais do que dobraram as vendas de suco de uva. Entre 2008 e 2018, o volume comercializado da bebida passou de 123 milhões para 282 milhões de litros anuais, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). O resultado representa expansão de 128% no período. Em um mercado que cresce dois dígitos, em média, a cada temporada, os negócios envolvendo o líquido alcançaram o maior patamar da história.
Leia mais:
Do suco judaico ao biodinâmico: vinícolas da Serra apostam em novos segmentos de mercado
Conheça os benefícios do suco de uva para a saúde
A tendência é de que o segmento siga batendo recordes. Desde 2004, a demanda pela bebida aumenta em escala exponencial. O único momento de retração foi enfrentado em 2016, quando a quebra na safra da uva reduziu drasticamente a capacidade produtiva das vinícolas. Excetuando o suco concentrado, que é negociado principalmente para a indústria e representa mais da metade da produção, a versão integral é a campeã de vendas. No ano passado, as empresas gaúchas negociaram mais de 120 milhões de litros deste tipo.
– O mercado cresce principalmente porque o consumidor está buscando produtos saudáveis. As pessoas estão olhando mais os rótulos e a composição dos produtos e acabam ingerindo um produto de maior qualidade, mesmo pagando um pouco a mais – constata Diego Bertolini, gerente de promoção do Ibravin.
O Estado elabora 90% de todo o suco de uva do país, tendo a maioria das fábricas na Serra. Na região serrana, a bebida é o carro-chefe de muitas vinícolas. Esse é o caso da cooperativa Aurora, de Bento Gonçalves, a maior fabricante do líquido no país. Detentora de fatia próxima de 40% do mercado nacional, a empresa vendeu mais de 42 milhões de litros de suco no ano passado e espera chegar à marca de 47 milhões de litros em 2019. Tudo é feito com as uvas entregues por 1 mil famílias associadas. Entre as variedades mais utilizadas no beneficiamento estão bordô, isabel e niágara.
Atualmente, o suco de uva representa 60% da produção e 50% do faturamento anual da Aurora, gerando em torno de R$ 270 milhões. A importância da bebida é tanta que, ao chegar no seu limite de produção, a empresa decidiu investir R$ 50 milhões em uma nova fábrica, no Vale dos Vinhedos. A estrutura foi inaugurada em maio e concentrará toda a fabricação de suco. A linha de produção, hoje no Centro de Bento Gonçalves, deverá ser transferida para o local até outubro.
– O mercado cresceu tanto que a linha de produção não consegue acompanhar mais. Se não pensássemos em uma nova unidade, iríamos perder mercado. Montamos a nova fábrica para produzir até 100 milhões de litros ao ano. Se mantivermos o crescimento atual, podemos chegar a esse patamar em 10 a 12 anos – projeta Hermínio Ficagna, diretor superintendente da Aurora.
As regiões Sul e Sudeste são os principais destinos dos sucos envasados em solo gaúcho. Neste sentido, o presidente da cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, vê na expansão do consumo para outras regiões, como Norte e Nordeste, uma estratégia para manter o setor aquecido por mais tempo.
– Nos últimos anos, com a entrada de novos players no mercado, os preços diminuíram. O suco de uva se tornou mais acessível à população. Acredito que ainda há espaço para seguir crescendo. Hoje, o consumo não chega a meio litro por pessoa no Brasil – destaca Dalle Molle.
Com fábrica em Flores da Cunha, a Nova Aliança produziu em torno de 23 milhões de litros da bebida de uva em 2018. O artigo é responsável por 60% da produção e 60% do faturamento da cooperativa, rendendo mais de R$ 120 milhões em receita. Neste ano, a projeção é de que a empresa atinja a marca de 30 milhões de litros comercializados. Para dar conta da meta, a companhia conta com cerca de 750 famílias associadas que fornecem as uvas.
As três maiores cooperativas vitivinícolas do país (Aurora, Garibaldi e Nova Aliança) produziram 76 milhões de litros de suco em 2018, representando mais de 60% do mercado. O faturamento gerado pela bebida foi de R$ 462 milhões.
Em 2018, 52% das vendas foram de suco concentrado para a indústria e 42% de suco integral. Em seguida aparecem o suco reconstituído (3%), néctar de uva (1,5%), polpa de uva (1%) e outros produtos à base de uva (0,5%).