Minéia Frezza, natural de Carlos Barbosa, é doutora em Linguística Aplicada e professora da área de Letras do Instituto Federal do Rio Grande do Sul - Campus Bento Gonçalves. Há um ano ela recebeu o diagnóstico de bipolaridade. Por sugestão de sua psicóloga, começou a escrever, primeiro como uma forma de terapia. Seguindo a trilha e o fluxo das palavras, acabou publicando o livro Bipolaridade: em qual episódio ficou a minha personalidade? A obra será lançada sábado, às 17h, no Teia Cultural, em Bento Gonçalves.
— Dessa forma de tratamento surgiu o livro, que também é uma maneira de sair do armário e buscar quebrar o tabu sobre essa doença tão discriminada em nossa sociedade — defende Minéia.
Conforme estimativas da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar, entre 30% e 50% dos brasileiros portadores de transtorno bipolar tentam suicídio, o que justifica a importância da obra.
— O livro inicia com um texto autobiográfico em que eu explico o que é a bipolaridade, seus sintomas, tratamentos e o preconceito que ela gera. A obra representa bem a campanha do Setembro Amarelo, uma vez que os poemas retratam o caminho que vai das crises depressivas e maníacas, ideações suicidas, tratamentos, dúvidas e medos acerca do diagnóstico de transtorno bipolar até a sonhada estabilidade — explica.
Além do lançamento em Bento, a autora prepara uma sessão de autógrafos para o dia 7 de novembro, na Feira do Livro de Carlos Barbosa. Leia a seguir a entrevista com Minéia Frezza.
O que te fez escrever poemas?
Comecei a escrever poemas quando apareceram os primeiros sintomas, mesmo antes do diagnóstico. Por recomendação da minha psicóloga, depois do diagnóstico de transtorno bipolar, passei a escrever, quase que diariamente, como terapia. O livro inicia com um texto autobiográfico em que eu explico o que é a bipolaridade, fio condutor da obra, seus sintomas, tratamentos e o preconceito que ela gera. Reunindo poemas que simulam a saga de uma bipolar para alcançar, entender e ressignificar seu diagnóstico, picos eufóricos e vales depressivos são pintados com palavras doloridas e esperançosas. A ideação suicida é abordada de modo especial, enfatizando a gravidade da doença, que é a maior causa de suicídios no mundo. Apesar de escrever desde sempre, esta é minha obra de estreia na literatura.
Quais foram as tuas primeiras reações após o diagnóstico?
Tenho dois tios bipolares e, por isso, já sabia que era uma doença grave, com sérios prejuízos pessoais e sociais. Apesar de sentir certo alívio por finalmente chegar a um diagnóstico, senti meu mundo desabar com a notícia. Perdi a noção de quem eu era. Não sabia mais se minha personalidade era verdadeira ou se era efeito dos meus sintomas. Passei por um longo período em que precisei trabalhar a aceitação e estudar bastante a doença para entender que se trata de um transtorno de humor e não de personalidade. Abordo tudo isso no livro.
De que forma tua obra pode sensibilizar as pessoas à prevenção do suicídio?
O livro visa a quebrar o preconceito em relação à bipolaridade por meio de poemas que descrevem os sintomas, as consequências da doença e, principalmente, a discriminação sofrida por quem é diagnosticado. É importante frisar que essa doença ainda é um tabu. Não falamos sobre ela, mas é a maior causa de suicídios no mundo. Por conta do preconceito, muitos bipolares não se tratam ou desistem do tratamento, o que agrava os sintomas. É urgente falarmos abertamente sobre a bipolaridade para tratarmos dela como um problema de saúde pública e não como algo do qual as pessoas se envergonham. Escrever sobre minha doença foi, para mim, libertador. Publicar um livro sobre a temática é uma forma de sair do armário, de promover a discussão sobre saúde mental e, assim, alterar os índices alarmantes que nos assolam.
O que tu podes dizer a quem está aprendendo a lidar com a bipolaridade?
No começo fiquei bastante abalada. O diagnóstico veio quando eu estava passando por uma crise de depressão. Fiquei inerte por meses. Depois que me recuperei da fase depressiva, comecei a estudar a doença, ler, especialmente, sobre outras pessoas bipolares e isso me deu força para encarar o diagnóstico. Hoje em dia a bipolaridade não é mais um problema para mim. Já estou habituada aos medicamentos e à rotina de sono, dieta e exercícios que me ajudam a manter a estabilidade. A única coisa que ainda me incomoda é a discriminação. Nesse sentido, a escrita como terapia e a publicação do livro são medidas que me ajudam a processar tudo o que passamos e a lutar por dias em que não precisemos implorar por respeito.
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O quê: Lançamento do livro “Bipolaridade: em qual episódio ficou a minha personalidade?”, de Minéia Frezza, publicado pela editora Caravana.
Quando: sábado (23), às 17h.
Onde: Teia Cultural (Rua São Paulo, 68 - Bento Gonçalves).