O Setembro Amarelo é o mês em que diversas ações informativas e de prevenção ao suicídio ocorrem mundo afora. Mas dificilmente as luzes são lançadas para a infância. Para a mestre em ética e linguagem pela UCS Laina Brambatti, 31 anos, que também é diretora pedagógica da Escola de Educação Infantil Cataventura, de Caxias, a chave para formar um adulto emocionalmente seguro está na primeira infância.
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Esta entrevista faz parte de uma série de reportagens publicadas pelo jornal Pioneiro, cujo tema é Um olhar sobre a vida, enfocando não apenas a prevenção ao suicídio, mas também retratando histórias de pessoas que tem aprendido a lidar com a depressão e a ansiedade, e também com a morte de entes queridos.
A seguir, confira a entrevista com Laina Brambatti.
Pioneiro: Como ensinar a lidar com a frustração desde a infância?
Laina Brambatti: Precisamos ensinar sobre paciência, sobre inícios, meios e fins, sobre a temporalidade, sobre o espaço do outro, espaço particular e espaço público e também sobre sentimentos. Por exemplo, a criança caiu e bateu o joelho. Eu sou adulto e posso observar o nível de gravidade do tombo. Quando a criança cai, geralmente ela observa a reação dos pais. Se os pais ficam apavorados: “Meu Deus, o que aconteceu?” a criança geralmente vai começar a chorar e não parar mais. Mas se percebo que não foi nada de grave e pergunto se ela quer ajuda, se consegue se levantar sozinha ou se está doendo, estou oferendo a ela também apoio, mas de forma mais tranquila.
Qual a impacto dessa atitude no futuro dessas crianças?
Ao dar essa mensagem, principalmente quando vem dos pais, dizendo “eu confio na tua capacidade de levantar do teu tombo”, estou contribuindo para que na fase adulta ela tenha referências de pessoas que confiaram nela e crenças em si mesma.
Ensinar as crianças a expressarem sentimentos é um desafio aos pais?
Nós adultos precisamos, primeiro, conhecer a nós mesmos, aceitarmos que a vida é feita de alegrias e tristezas, para depois oferecermos esse mesmo processo para uma criança. E quando a criança se sentir mal ou chateada, por exemplo, eu perguntar a ela se está se sentindo desafiada, triste, ansiosa, ou pensativa e então ensinar a ela qual nome usar para o que ela está sentindo.
Crianças que lidam melhor com suas emoções tornam-se adultos mais consistentes emocionalmente. Essa é a melhor fórmula para a prevenção do suicídio?
Primeiro, precisamos lembrar que em muitos casos há um fator genético para a depressão e que essas pessoas precisam de acompanhamento médico. Mas eu acredito que ações como essas contribuem para uma diminuição dos suicídios. Um dos principais fatores apontados por especialistas como motivação para o suicídio é o desamparo. Por isso que sociedades muito individualistas tendem a ter mais suicídio. Então precisamos perceber o quanto é importante que as pessoas sintam-se acolhidas, com vínculos fraternos, que possam demonstrar e receber afeto, além do sentimento de pertença a um grupo.
ONDE PROCURAR AJUDA
O CVV _ Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Atende por telefone, no 188, por e-mail e chat 24 horas, no site www.cvv.org.br.
Em Caxias do Sul, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), os serviços de saúde mental, a Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão preparados para auxiliar as pessoas em sofrimento psíquico.