São quase 19h de um sábado quando a música “Aliens”, do duo italiano Radiorama, começa a tocar em uma academia no bairro Nossa Senhora de Lourdes, em Caxias do Sul. Ali, em um espaço com direito a luzes e globo espelhado, o grupo Alarme Falso acerta os detalhes finais para mais um show de dança flashback. É uma rotina de ensaios e apresentações que completa 35 anos. Esta história, que será homenageada pela Câmara de Vereadores no dia 19 de julho, reúne histórias inesquecíveis para os integrantes.
É o caso do líder e fundador do grupo Marcos Roberto Walter, 53 anos. No início dos anos 1990, o Alarme Falso foi convidado pela primeira vez para apresentar-se em uma casa noturna de Canoas. Como manda a tradição, todos chegaram com o mesmo figurino e a coreografia “na ponta do pé”. O alvoroço causado pelo grupo foi tanto que eles tiveram que sair de lá escoltados por seguranças.
— Nunca vou esquecer. Passamos e fomos para o Trensurb, com os seguranças ao nosso redor — lembra Marcos, aos risos.
A paixão que levou a episódios como esse nasceu nas idas às boates nos anos 1980. Marcos via as danças inspiradas em Michael Jackson e pessoas vestindo-se igual ao Rei do Pop. Depois, ia para casa treinar com as irmãs. Dali, levou os passos a amigos de São Luís da 6ª Légua, onde ele trabalhava em uma fábrica de garrafões. Em 1987, criou o grupo, com o nome inspirado em uma banda de rock de São Marcos e em filmes norte-americanos, que adoravam a expressão “foi um alarme falso”.
— Fazíamos na época o que eu faço hoje, dando aula de passinho. Treinávamos a semana inteira, cinco ou seis passinhos, e depois íamos para a festa. Foi ali que formamos o grupo — recorda.
Durante anos, Marcos conciliou a agenda de shows com a profissão de metalúrgico. Ele oportunizou a dança a mais de 700 pessoas, que passaram pela grande família do Alarme. Nas horas vagas, o grupo leva alegria para toda a Serra, principalmente em comunidades de Caxias. Lá, inspira jovens, que até chegam a pedir para entrar no grupo. Hoje, o líder e fundador vive do hobby, com apresentações e aulas. Mas, de certa forma, o grupo segue a própria essência.
Atualmente, os outros integrantes revezam a rotina de trabalho, como de eletricista ou pintor, por exemplo, com os shows, que, agora, envolvem outros estilos, como pop e funk. Ao lado de Marcos, como um dos mais velhos do grupo, está Marco Aurélio Passo Alves, 46, desde 1997 no Alarme. Junto da dupla estão Luis Fernando Vieira Boeira, 48, Antony Vieira, 43, Robson Bitencourt, 38, Jean Pierres Walter de Oliveira, 33, Vanderson Vieira, 24, e Marcos Roberto Walter Junior, 22 — filho do fundador.
Os passinhos até o Raul Gil
O líder do Alarme calcula que até hoje são mais de mil apresentações — o grupo também promove festas de flashback. Entre os momentos inesquecíveis está a ida do grupo ao Programa Raul Gil, na extinta TV Manchete, em 1997. Com as despesas a cargo do grupo, os oito integrantes da época, incluindo Marcos e Marco Aurélio, conseguiram uma carona de caminhão até Curitiba (PR). De lá, pegaram um ônibus para São Paulo (SP). Tudo para chegar a tempo, já que foram avisados em cima da hora da oportunidade. Depois de uma apresentação em Pântano Grande, num sábado, o grupo iniciou a viagem.
— Nunca vou esquecer. Ganhamos R$ 50. Eu fechei essa apresentação por orelhão. Liguei para a produção do Raul Gil, com ficha de telefone. Me falaram, 'Tem uma vaga para vocês na segunda de manhã aqui'. Combinei com os guris, cada um pediu dispensa no serviço e fomos para lá. É considerada a apresentação mais importante da história — conta Marcos, destacando que o momento está na página do grupo em uma rede social.
Não cobramos para ações beneficentes. Muitas vezes temos que apoiar as pessoas. Alguém tá precisando, nós vamos lá, não custa nada.
MARCOS ROBERTO WALTER
Fundador do Alarme Falso
Não só apresentações na TV ou na noite gaúcha o grupo guarda com carinho. Antes, o Alarme ensaiava em locais públicos, como no Monumento ao Imigrante. O treino virava jogo, com até 60 espectadores acompanhando. Marco Aurélio, responsável por ser o Michael Jackson das apresentações, também lembra de edições da Festa da Criança, no Parque da Festa da Uva, no início dos anos 2010:
— (Lembro que) Quando anunciaram o show do Alarme Falso, o pessoal gritava e ia para a frente.
As apresentações comunitárias, inclusive, são uma marca do grupo. O Alarme Falso faz diversos shows em festas de bairros ou para ajudar uma causa, como para a arrecadação de recursos para dar um Natal melhor a crianças em situação de vulnerabilidade social.
— Não cobramos para ações beneficentes. Muitas vezes temos que apoiar as pessoas. Alguém tá precisando, nós vamos lá, não custa nada — explica Marcos.
Alegria e nostalgia
Com cachês na faixa de R$ 500, valor que cobre algumas despesas como figurino, os integrantes do Alarme afirmam que continuam na dança por amor e pela alegria que levam às pessoas. Fernando, desde 2015 no grupo, não perde um ensaio ou apresentação, mesmo que esteja trabalhando fora da cidade. O sentimento de estar na pista recompensa o esforço:
— É uma euforia que tá louco. Você vê o pessoal batendo palma, gritando. Uma vez viemos dançar num pub e veio uma senhora, que me segurou e disse, 'É uma honra estar aqui, eu conheço o Alarme há mais de 30 anos'. E a mulher parecia estar nas nuvens. Isso não tem preço.
Ao mesmo tempo, tem o sentimento de levar às pessoas a uma outra época, como se todos entrassem em uma máquina do tempo. É o que já percebe Junior, filho de Marcos e que deve ter a responsabilidade de manter o Alarme Falso vivo para outras gerações.
— As pessoas vão na festa para relembrar a época de sucesso, a época que gostavam mais da geração delas — observa Junior.