Está sendo velado em Caxias do Sul o corpo do médico e fotógrafo Walter Brugger. As últimas homenagens são prestadas na Capela A do Memorial São José. A cremação está marcada para as 17h, no Memorial Crematório São José.
A origem austríaca e o pragmatismo da profissão de médico poderiam denotar certa austeridade ou frieza, características que Walter Brugger logo fazia cair por terra assim que iniciava uma conversa. Certa vez, ele chegou a dizer que "o vienense é o carioca da Europa". De fato, Brugger era dono de uma alma tão vívida, curiosa e inventiva que acabou se encontrando na arte. E por meio dela, tornou-se um ícone.
Brugger se aproximou do ofício da fotografia ainda criança, vendo a própria mãe manipular uma câmera portátil. Depois, quando cursava pós-graduação num hospital, acabou se interessando pelo laboratório de fotografia que havia lá. Uniu conhecimentos bem técnicos — processos, temperaturas, amplificações e soluções químicas — com sua mente aberta para a criação artística. A medicina e a fotografia também se encontraram outras vezes, até mesmo raio-x foi transformado em obra de arte por meio das mãos de Brugger.
O artista nasceu em 1925, em Viena, mas se mudou para o Brasil com a família quando tinha cinco anos. A mudança se deu em função das dificuldades apresentadas pela Primeira Guerra Mundial. Foi já em terras brasileiras que formou-se médico, mesma profissão do pai. E também aqui conheceu o grande amor de sua vida, a berlinense Gisela (falecida em 2020). O casal teve dois filhos: Verônica e Tomas.
Tomas seguiu o legado artístico do pai e hoje integra o Clube do Fotógrafo de Caxias (CFCX), do qual Brugger foi um dos cofundadores, em 1980. Como ativista pelo fotocublismo, Walter Brugger conquistou inúmeros prêmios e, mais do que isso, a admiração de todos os colegas por seu talento e jeitão de guri.
Um dos estilos mais explorados pelo artista foi o surrealista, prova de sua mente artística sem amarras. Certa vez, o historiador e escritor Juventino Dal Bó definiu o trabalho do fotógrafo assim: "Com uma fonte de luz, uma folha de papel sensível, alguns objetos ou situações comuns, banhos de revelação e fixação e, principalmente, habilidade dos cortes e montagens, cria-se um novo universo: o mundo incomum de Walter Brugger".
Conforme o colega de CFCX, Paquito Masia Herrera, Brugger tinha um olhar instigante e provocativo, além de estar sempre atualizado sobre novidades tecnológicas, e tendências artísticas e fotográficas.
— Quando o conheci, fiquei surpreso com tamanha vitalidade, ele era um dos principais motivos para ir ao clube, as suas palavras, sábias, simples e diretas, traziam novo entendimento a imagens e suas composições. Ele era do grupo a pessoa com maior idade e ao mesmo tempo a com menor idade, uma criança faminta e curiosa pelo novo — define.
Recentemente, a Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto) premiou Walter Brugger com o titulo de Honorário Artista Fotógrafo Brasileiro. Abaixo, confira o vídeo que o fotógrafo gravou ao receber a condecoração.
— Brugger sempre foi uma das mentes mais jovens e audazes do fotoclubismo brasileiro, dono de um grande número de prêmios nacionais e internacionais, sempre esteve à frente do seu tempo. Aprendeu e ensinou muita fotografia e surpreendia sempre cada vez que vinha nas reuniões do CFCX. Agora resta lembrar dos bons momentos que vivemos com o mestre — aponta Carlos Gandara, presidente da Confoto.