Mania, vício, modinha ou o esporte com a verdadeira cara do Brasil? O fato é que o Beach Tennis chegou com força no dia a dia de muita gente e mudou a rotina de vida, de relacionamentos sociais e de bem-estar de um número quase incontável de pessoas que encontraram na modalidade, com os pés na areia e contato constante com a natureza, um novo estilo de viver pelo esporte.
Nem mesmo o frio da Serra gaúcha foi suficiente para inibir o calor que brotou das areias das quadras, que crescem de maneira vertiginosa, vale ressaltar. Na região, são 48 quadras em clubes e academias. E esse número irá aumentar a partir de novembro, quando mais 16 espaços serão inaugurados em uma rede de academias de Caxias do Sul. Isso sem falar nas dezenas de quadras particulares em chácaras e condomínios.
Calcular o número de praticantes da modalidade na região é tarefa impossível. No Circuito de Beach Tennis da Serra Gaúcha, que é disputado em sete fases em quatro cidades – Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves e Farroupilha – , cada etapa reúne cerca de 250 pessoas. Outros campeonatos e copas também são realizados na Serra, reunindo ainda mais praticantes do esporte.
Nem a pandemia foi capaz de parar o crescimento do Beach Tennis. Do contrário. Conforme a volta da normalidade vai se aproximando, mais se observa praticantes buscando no Beach Tennis a dose de saúde para romper o sedentarismo e encarar novos desafios no esporte, que junta um pouco de tênis, de vôlei de praia e do tradicional frescobol das areias do litoral.
Além da mudança no estilo de vida de quem joga, o Beach Tennis também surgiu como possibilidade de renovação de negócios e novas oportunidades para mercados já consolidados. Com tanta gente envolvida na modalidade, um nicho de situações comerciais também se abriu para quem investe no esporte.
O futuro do Beach Tennis ainda é incerto, mas o momento dele já muda vidas e proporciona experiências para quem quer saúde com competitividade e amizade, marcas registradas da modalidade.
Do time em campo para a família na quadra
Para quem viveu a emoção dos gramados de futebol, o Beach Tennis surgiu não só como uma nova modalidade, mas um recomeço no esporte após uma lesão. Ex-jogador do Juventude, Caxias, Brasil-Fa, entre outras equipes, Luiz Oscar Rauber Filho precisou abandonar a bola aos 27 anos por conta de uma lesão de quadril, quando defendia o Remo-PA.
Após aposentar as chuteiras, os tratamentos feitos não evitaram a necessidade da colocação de uma prótese de quadril, em 2014, para que as dores constantes deixassem de ser companhia para o ex-jogador. E foi no Beach Tennis que ele se reencontrou com o esporte.
– Depois de ter parado de jogar futebol profissionalmente, foi a atividade em que me encontrei, até mesmo depois de ter colocado a prótese de quadril, foi a que melhor me adaptei em virtude de não ter tanto impacto pela areia – explica Luiz Oscar, que apesar de participar de campeonatos e já acumular algumas conquistas pela região, valoriza outros pontos que a modalidade o proporcionou: – Além da competitividade, que está no sangue, foi muito legal pelas amizades e as pessoas que encontrei.
Se em campo Luiz Oscar tinha companheiros de time nas equipes em que passou, nas quadras a parceria é diferente. A chegada dele na modalidade foi por conta de sua esposa, Fernanda Pagloli, que incentivou o ex-jogador, autor de dois gols na participação do Juventude na Copa Libertadores em 2000.
– Ela fazia academia e começou a praticar. Na sequência, me convidou para fazer uma aula teste e foi amor à primeira vista. Comecei a jogar e hoje sou praticante assíduo – afirma.
E não foi só o marido que Fernanda levou para o Beach Tennis. O esporte foi se espalhando por toda a família e virou mais ponto de encontro do que os tradicionais almoços de domingo.
– Comecei em julho de 2019 e a gente começa e já vicia. Daí eu trouxe todo o resto da família. Minha irmã (Paula), que é minha dupla e joga comigo sempre, meu marido, meu cunhado (Ricardo), meus sobrinhos (Francisco e Isabela) e meus filhos (Fernando e Angelo). Hoje, todo mundo se encontra na quadra. Minha mãe brincou que para reunir a família ela ia ter que começar a fazer aula de Beach Tennis também – conta Fernanda, que vê mais benefícios nessa nova rotina: – Foi uma forma de fortalecer a família, porque praticamos todos juntos. Faz muito bem para o corpo e para a cabeça.
A vida nova que o “pé na areia” trouxe
Aos 40 anos, a professora universitária Alexandra Renosto pensou que no Beach Tennis poderia encontrar uma nova prática esportiva, mas acabou encontrando um “antidepressivo” natural. Ela iniciou na modalidade apenas no final de março deste ano, quando houve uma maior flexibilização para a liberação das atividades. Porém, um exame de rotina apresentou diagnóstico de um câncer de mama – o que depois acabou não se confirmando –, que a obrigaria a realizar uma cirurgia.
– Eu tive autorização da médica para seguir fazendo aulas (de Beach Tennis) até que eu me preparasse para a cirurgia. Consegui manter a cabeça boa, com o apoio dos amigos também. Operei e precisava ficar de 30 a 40 dias afastada. Nesse período, desencadeei um estresse pós-traumático, por tudo que vivi, pelo processo de espera pela cirurgia – conta Alexandra, explicando os principais sintomas que desenvolveu nessa época:
– Fiquei 25 dias sem conseguir dormir, nem de noite ou de dia, tomando antidepressivo.
Passado o período de afastamento do esporte, o Beach Tennis voltou com tudo à rotina da professora e o processo de recuperação da fisioterapeuta ganhou um grande incentivo.
– Foi aí que comecei a retomar a questão da qualidade de vida, do sono, aos poucos fui conseguindo voltar a dormir, ter mais tranquilidade e diminuiu meu quadro de ansiedade e de medo que eu tinha desencadeado. Foi uma virada de chave.
Com o sono em dia e a autoestima lá em cima, Alexandra frequenta praticamente todos os dias a quadra, onde, além de algumas das amigas – que tiveram papel importante na recuperação –, encontra também um esporte de rápida adaptação técnica e de grande socialização, algo importante nesse momento de retomada.
– Acho que a questão do clima, das pessoas, do pé na areia, isso tudo traz uma sensação de bem-estar, de alegria e de conforto. É acolhedor.
Nem todos os amigos que ajudaram no processo de recuperação de Alexandra participam do Beach Tennis, mas todos entendem a importância do esporte para que ela hoje tenha uma rotina de vida normal e saudável. Ou quase isso.
– Esses amigos agora andam com ciúme, dizem que só ando na tribo da areia, do Beach Tennis (risos). Mas claro que estão felizes, porque me acompanharam nesse processo de medo, de tensão, sem saber qual seria o desfecho. Graças a Deus deu tudo certo. Hoje ficam felizes por eu ter conseguido vencer esse estresse todo e estar retomando minhas atividades e meu perfil, que sou divertida e dinâmica.
Uma nova tradição?
Imagine arriscar uma história de décadas para investir em uma modalidade que ainda não é consolidada... Pois foi isso que a família Bohrer, tradicional no tênis em Caxias do Sul, começou a fazer em 2018. Em uma academia, que até então tinha três quadras de saibro, substituir o material por areia em um dos espaços causou um choque inicial, principalmente porque a recepção no primeiro momento não foi conforme o imaginado.
– Ficou um ano meio parado e a gente vendo que não estava forte. Então investimos. Eu mesmo fui dar aula de beach, fui fazer curso e começaram as pessoas a fazer aulas, mas devagarzinho – relembra Eduardo Bohrer, um dos proprietários da academia, que viu nos últimos dois anos a explosão da modalidade.
A troca do saibro pela areia surtir resultado:
– Estamos vendo que foi uma escolha muito assertiva. É muito mais gente dentro de uma quadra. No espaço de 650 metros quadrados, onde cabem 16 pessoas por hora, enquanto no tênis normalmente são duas.
Com a expansão do esporte e o aumento do número de alunos em busca do Beach Tennis, novas medidas precisaram ser adotas. Primeiro, parte do estacionamento foi transformado em mais quatro quadras de areia. Depois, outra quadra de saibro foi substituída. Com a ligação da família com o tênis, incluindo o período em que Eduardo e seu irmão, Gustavo, foram tenistas profissionais, trocar outra área de saibro para areia não foi tão fácil assim.
– O tênis está na nossa família há três gerações, desde o meu avô. Não foi fácil convencer a família de tirar as quadras, mas todo mundo viu que temos uma empresa e que ela precisa prosperar e mudar. E o Beach Tennis veio para fazer essa mudança – admite Bohrer, garantindo que um pedaço da tradição familiar será mantido com a permanência de uma quadra de saibro:
– A gente vai manter essa quadra, porque temos escolinhas, aulas e é uma coisa que vem de muitos anos da família.
O crescimento do mercado e, por consequência, da concorrência, não é algo que chega a assustar Eduardo. No entendimento dele, o momento proporciona que novas áreas surjam oferecendo a modalidade:
– Como fomos os pioneiros, já sabíamos que quando houvesse essa explosão teria outros lugares. Mas sempre vai ter espaço para todo mundo. Acho que quanto mais quadras e lugares tiverem, melhor para o esporte. Está crescendo muito rápido. É um esporte novo e que a pessoa se apaixona desde a primeira aula.
A moda da areia que reinventa uma marca
Quase que por brincadeira, uma das confecções mais tradicionais da região se tornou uma potência na moda praia por meio do Beach Tennis. Giedri Scola, filha do fundador da Mar Um, é praticante da modalidade e viu a empresa tomar o rumo da areia por indicação de amigos.
– Quando eu comecei a jogar Beach Tennis, há uns dois anos, o pessoal começou a sugerir “faz umas camisas e alguns modelinhos para a gente jogar aqui”. Na brincadeira, fizemos algumas peças. E, com o passar do tempo, vimos que era um mercado que estava crescendo – explica Giedri.
Dos modelos iniciais, logo veio a possibilidade de uma loja física voltada à modalidade. Contudo, a marca começou a romper as fronteiras e mais alternativas precisaram ser incrementadas.
– Expandiu mais do que a gente esperava. Estamos até implantando um e-commerce e fazendo outras mudanças na empresa para conseguir atender todo mundo de uma forma mais rápida. Antes, só trabalhávamos com futebol, e bem em um momento em que tivemos algumas alterações na empresa, surgiu essa oportunidade em outros esportes. Nossa ideia é começar a pensar em modelo de franquias. Já temos duas filiais e a matriz, mas pensamos em montar mais uma loja, talvez na região. Tem bastante gente nos procurando para representar nossa marca, e isso era algo que não tinha.
O Beach Tennis vem para a sequência da Mar Um, assim como Giedri dá continuidade ao trabalho idealizado por seu pai, o ex-jogador de futsal Gelson Scola. Agora, além de atividade física, lazer e diversão com a família, a modalidade virou mais um motivo de orgulho para a família Scola:
– Meu pai veio jogar e viu todo mundo de Mar Um. Ele traz os amigos para jogar e tem a marca dele, que ele criou há 30 anos. Para ele é uma felicidade enorme e algo que nem minha família imaginava.
Quadras da Serra
Em Caxias
- Bohrer Sports: 12 quadras
- Recreio Cruzeiro com Arena: 6 quadras
- Ace Sports: 3 quadras
- Recreio Cruzeiro: 2 quadras
- Clube Juvenil: 1 quadra
- Engenharia do Corpo: 16 quadras (a partir de novembro)
Em Bento Gonçalves
- Arena Beach: 5 quadras
- Sud Beach Sports: 4 quadras
Em Flores da Cunha
- Fiorio Esportes de Areia: 3 quadras
- Arena Beach Sports: 2 quadras
Em Farroupilha
- Giovana Campo Clube: 4 quadras
- One Beach: 2 quadras