Qual a expectativa por um Brasil melhor quando começamos a semana com a notícia da demissão do Ministro da Educação? Quando passamos dias, semanas e meses na expectativa por uma reforma ampla, irrestrita e, porque não, afetiva, da educação no país? Felizmente, fora do cenário político, aqui mesmo na vida como ela é, em Caxias do Sul, artistas e produtores culturais apresentam espetáculos que têm a ousadia de levar reflexão e fruição para dentro da escola. Seja diretamente com ações nas escolas, ou indiretamente, ao levar as crianças para o teatro, o Pioneiro selecionou o que há de arte com vínculo à educação acontecendo até domingo na cidade. Confira:
Maratona de Circo
O que é mais divertido? Receber o circo na escola, ir ao teatro para rir com os palhaços, ou ainda, passear no parque e assistir a um espetáculo de minicirco? Se ficou na dúvida, saiba que a Maratona Sesc de Circo, que começou ontem, tem tudo isso, sim senhor.
— A primeira edição ocorreu em 2017, foi realizada em quatro dias e teve um público de 4 mil crianças — revela Vanessa Falcão, Agente de Cultura e Lazer do Sesc Caxias.
Até o ano passado, o circo visitava as crianças nas escolas da rede pública da cidade. Mas a partir deste ano, além desta ação, haverá uma surpresa:
— As escolas nos pediram para fazer isso porque muitos meninos e meninas nunca foram assistir a uma peça no teatro — revela Vanessa.
Os espetáculos Caravana Belessa e Flor da Vida, com lotação já esgotada em função do agendamento fechado com as escolas, ocorrerá no Teatro Municipal Pedro Parenti, da Casa da Cultura.
Mas no domingo, a partir das 15h, todos podem ir ao Parque Getúlio Vargas (popularmente conhecido com Parque dos Macaquinhos) para conferir o espetáculo Circo Minimal. Cada sessão contempla apenas sete pessoas por vez para assistir, entre outras coisas, aos palhaços dirigindo o pequeníssimo ovomóvel. Esta atividade é realizada em parceria com o Festival Téti - Festival de Arte e Cultura para Infância.
Festival Téti
A curiosidade das crianças nos constrange. Porque eles ficam surpresos com uma engenhoca de papelão com um orifício em cada uma das extremidades laterais. A tal câmara escura é um experimento que faz com que a criança perceba uma certa mágica estranha. Ao observar através desta caixa, meninos e meninas olhavam para a Liliane Giordano, que ministrava oficina de fotografia na manhã de ontem, no Centro de Cultura Ordovás:
— Tia, eles estão de cabeça pra baixo!
Quando se olha através da câmara escura a imagem fica invertida. E muitos deles queriam que Liliane virasse a caixa de cabeça para baixo para ver se a imagem mudava, mas não resolvia. Essa capacidade de espanto, infelizmente, tende a perder-se ao longo do tempo. Por isso que ações como essa realizadas pelo Festival Téti, cuja programação segue até domingo, são importantes para não apenas divertir as crianças, mas formar um senso crítico e um olhar artístico.
— Nossa intenção é promover o desenvolvimento humano e valorização da arte e cultura, em atividades ligadas à educação com o envolvimento das crianças e suas famílias — explica Caliandra Troian, gestora cultural.
A oficina abriu com um jogo em que duas crianças, sendo uma delas vendada, tinha de conduzir a outra, andando pelo prédio do Ordovás e descrevendo o que via para a outra que não podia enxergar.
— Fotografia significa "escrever com a luz". É uma atividade visual, mas é importante trabalhar os outros sentidos — explica Liliana.
O Festival Téti segue ao longo desta semana e encerra as atividades no domingo, com a atração Infância no Parque, das 13h às 16h, no Parque dos Macaquinhos. O último espetáculo será Macbeth e o Reino Sombrio: Shakespeare para crianças, às 17h, no Teatro do Sesc.
Programe-se:
9h - Oficina de Desenho Cartum com Fredy Varella, na Biblioteca Parque Largo da Estação.
14h30min - Cineminha Zootopia - Essa cidade é o bicho, na Sala de Cinema do Centro de Cultura Ordovás
19h15min - Espetáculo Caê - Karma Cia de Teatro, no Centro de Cultura Ordovás
Alice volta às aulas
Há tantas crianças daqui e dali que sequer pisaram em um teatro da cidade. Mas por causa de projetos como o Impulso, criado pelo bailarino e coreógrafo Akácio Camargo, 130 crianças entram em cena para emocionar e testificar de que vale a pena semear educação. Domingo, às 20h, no Teatro Pedro Parenti, da Casa da Cultura, ocorre a apresentação do espetáculo Alice, uma releitura da obra de Lewis Carroll. Toda essa gurizada tem aulas de dança contemporânea, ballet clássico e auxílio pedagógico para melhorar as notas na escola.
— Resolvi criar esse projeto social porque eu mesmo fui beneficiado pelo Dança Criança Feliz, e era uma forma de retribuir que recebi. A dança mudou a minha vida. Hoje sou bailarino profissional, danço em companhia. Mesmo que muitos não venham a se tornar bailarinos, sei que vai despertar algo diferente nelas, como cidadãos — observa Akácio Camargo.
Atualmente, o projeto atende 350 crianças, em atividades a tarde e à noite. Pais interessados em inscrever seus filhos podem procurar o Espaço Cultural Akácio Camargo, no bairro Planalto. Ainda há vagas para participar do projeto.
Programe-se:
O que: Espetáculo Alice
Quando: domingo, às 20h
Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Casa da Cultura)
Quanto: R$ 15
Informações:(54) 9 9124-7110
Hip hop nas escolas
Existe alguma ferramenta eficaz para a violência que persiste e teima rondar a vida das crianças que moram em bairros como o Vila Ipê? Chiquinho de Vilas saca do seu rap e discursa: "Vamos construir mais pontes e menos muros/ Consolidar a ponte escola e comunidade". Para muitos é um discurso romântico, para outros a esperança da salvação de uma geração. Chiquinho foi salvo pela educação, pela sede do conhecimento. Por isso, sua voz ecoa e deve seguir fazendo coro: "Quem foi que disse que cultura não é educação?/ A mistura de harmonia, letra e melodia/ Salvou mais um moleque na periferia".
Salvar mais um, pelo menos mais um. Esse é o coração do projeto que visa mergulhar nas artes e na cultura para experimentar novos recursos didáticos.
— Propus aos meus alunos uma atividade para que eles escrevam letras de rap, com temas como respeito, cidadania, violência, até para aproveitar a vinda à escola do projeto Hip Hop. Porque nós temos o tempo todo que nos reinventarmos para atrair a atenção deles — revela Valdirene Cristina Macedo, 49, professora de Língua Portuguesa na Escola Municipal Rubem Bento Alves, no bairro Vila Ipê.
O projeto Cultura Hip Hop nas escolas terá sequência no mês de maio nas escolas Marianinha de Queiroz, Cristóvão de Mendonza, Villa Lobos e Melvin Jones. A proposta é armar os alunos para enfrentar situações de grave e insana violência, como as guerras das facções de gangues, que muitos desses meninos e meninas deparam-se na porta de casa, com um arsenal de palavras como amor, esperança e conhecimento.
— O rap vem musicar a socialização — dispara Chiquinho.