Olha só, madama, vamos dar, juntos, uma pensadinha? Hoje este mundano cronista que vos escreve estas mal digitadas linhas de segunda está reflexivo, sofrendo da síndrome de espelho retrovisor, porém, pretendendo estender o olhar para adiante. Vamos nessa? Pois, então, veja só, vou apresentar alguns números, pois sei que medidas volumosas costumam deixá-la assombrada e causar-lhe espanto. Espante-se então, madama, com as que enfileirarei a seguir e, na sequência, una-se a mim, em reflexão.
Nosso incansável Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que conhecemos pela sigla IBGE, publicou recentemente um relatório apontando que a expectativa média de vida do brasileiro chegou aos 76 anos. Um grande salto quantitativo se pensarmos que, na década de 1960, a previsão de longevidade nacional esbarrava na faixa dos 54 anos, essa flor da idade em que a senhora e eu hoje navegamos lépidos e faceiros, às vezes mais faceiros do que lépidos, verdade. Pois bem. Adiante. A senhora, madama, parou para pensar que esses 76 anos possíveis, que é a expectativa (claro que almejamos ultrapassar em muito essa meta, naturalmente), representam 27.740 dias? É dia pra burro, não é mesmo? Quer dizer, não sei a expectativa de vida dos burros, quis só usar um clichê ilustrativo de espanto, a senhora perdoe o mau jeito. E se transformarmos esse montante em horas, os 76 anos de vida nos oferecem 665.700 horas, que vamos nos permitir arredondar para 666 mil voltas do ponteiro grande do relógio. É hora pra burro, né, madama? Ops, desculpe, de novo.
Pois se temos uma expectativa de dispormos de uma média de 666 mil horas de vida, das quais, a grosso modo e via de regra, destinaremos um terço (ou seja,
222 mil horas) ao sono reparador de oito horas por dia, então, madama minha, chegamos à cifra assombrosa de 444 mil horas a serem plenamente vivenciadas despertos, ao longo de nossa brasileira expectativa de existência. Claro, bem sabemos, a madama e eu, que quantidade não implica qualidade, e sabemos também que o tempo passa voando, quando vemos, záz, foi-se um milhar de horas, e o que estivemos fazendo esse período todo, além de organizar escalações de times fictícios no smartphone e torcendo pela melhor voz do Brasil frente ao aparelho de tevê? Quatrocentas e quarenta e quatro mil horas, madama! É bastante, sim, mas voa. Mesmo assim, é o suficiente para decidir viver uma vida plena, que faça a diferença de forma criativa, cidadã e positiva, e não se restrinja a ser apenas um número a mais na contagem das gentes. Bom dia, madama. E boas horas.