Uma dor do mundo e uma dor interna são as principais condutoras do longa alemão Em Pedaços, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias. A intolerância racial é a temática macro do roteiro, que se desenrola a partir do assassinato criminoso de um turco cidadão na Alemanha e de seu filho ainda criança. O resto é luto e desespero da personagem Katja (numa atuação impressionante de Diane Kruger), tentando lidar com a perda do marido e do filho às voltas com a dolorosa investigação do crime. Além de levantar a xenofobia como uma realidade, infelizmente, muito atual (Donald Trump e seu muro estão aí), o longa também carrega um recado de cunho pessoal, já que o diretor Fatih Akin é alemão com ascendência turca.
Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, Em Pedaços se desenrola em três momentos diferentes, porém, igualmente carregados de dor. O primeiro ato mergulha o espectador no inferno pessoal de Katja. O sofrimento da protagonista vai moldando cada cena e Akin capta tudo com uma cumplicidade que afasta a narrativa de um possível dramalhão. O luto de Katja ganha tons obscuros e sombrios que conferem um dos diferenciais de Em Pedaço, e um mergulho nas drogas faz parte desse recorte. O diretor também usa recursos interessantes para escancarar o sofrimento da personagem de forma orgânica. Preste atenção no trabalho de som presente na cena em que Katja grita desesperadamente ao descobrir o atentado no escritório do marido.
O segundo ato remete aos moldes de um suspense de tribunal. Ali, o espectador se aproxima da investigação e dos trâmites, por vezes inacreditáveis, do universo jurídico. A fotografia chapada e fria ajuda a compartilhar a sensação de impotência da protagonista, agora cara a cara com os acusados pela morte de sua família. Já o terceiro momento do filme revela uma clima mais solar, sugerindo uma espécie de superação da personagem, calcada na sede por vingança.
No campo das ideias, Em Pedaços vai além de escancarar a xenofobia como um mal urgente: ele também revela a ascensão de grupos neonazistas como um problema atual e muitas vezes subestimado pelas autoridades. Várias discussões são levantadas em cena, e a mais latente delas diz respeito à fragilidade das leis, ainda tolerante com intolerantes. Enquanto essa forte mensagem faz de Em Pedaços um filme político, a performance sensacional de Diane Kruger (Melhor Atriz em Cannes) garante o deleite artístico ao espectador.
Programe-se
:: O quê: drama alemão Em Pedaços.
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 13, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Onde: na Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Duração: 106 minutos.
:: Classificação: 16 anos.
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