Não é novidade que nosso corpo é habitado por uma série de bactérias, vírus e protozoários. Chamada de microbiota, é ela que, geralmente do bem, ajuda a manter a saúde em dia. E é no intestino onde ela mais atua.
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O que talvez você não saiba é que existem alguns alimentos, conhecidos como "alimentos vivos", capazes de dar uma forcinha a esses microrganismos invisíveis que nos acompanham como hóspedes. É a alimentação viva, ou o probióticos, conjunto de bactérias não patogênicas que, administradas em quantidade adequada, têm efeito benéfico para quem as consome.
– Eles vão agir especialmente no intestino e isso tem reflexo em todo o corpo, já que o intestino é o nosso segundo cérebro – explica a nutricionista Tânia Spinelli.
Os benefícios são inúmeros. Entre eles, Tânia cita a melhora no funcionamento intestinal e na absorção dos nutrientes dos alimentos, o aumento da imunidade e a diminuição do índice glicêmico, que é um indicador que aponta com que velocidade um alimento com carboidrato aumenta a glicose no sangue. Os probióticos também auxiliam casos de doenças inflamatórias no intestino, reduzem os efeitos maléficos em tratamentos de câncer e contribuem em casos de alergias e asma.
"Rede social" das bactérias
Um dos mais populares é o kefir, uma colônia de leveduras e microrganismos em forma de grãos, que pode se reproduzir na água com açúcar mascavo, frutas ou no leite. Para isso, é preciso imergir os grãos em um desses líquidos e esperar que fermentem por um período que pode variar de 24 a 72 horas. No leite, as bactérias se alimentam da lactose. Na água, o açúcar vira alimento.
Depois de fermentado, o leite vira um iogurte. Já o kefir produzido a partir da água fica com sabor ácido e oide ser usado no preparo de sucos e vitaminas.
– Dependendo do tempo de fermentação, a água do kefir terá um efeito. Em 24 horas, é laxativo. De 24 a 48 horas, normaliza a função intestinal. Entre 48 e 72 horas, prende o intestino – explica Maria Helena Calcagnotto, que há mais de 10 anos faz uso do kefir.
Por se tratar de um organismo vivo, com o passar do tempo essas bactérias aumentam de volume e faz-se necessário descartar uma parte ou passar adiante, configurando-se uma espécie de "rede social" das bactérias do bem, em que os adeptos fornecem os probióticos umas às outras.
Praticante de alimentação orgânica, a dentista Silvia Lúcia Rech Piccoli soliciou o kefir à nutricionista Tânia há cerca de um mês após a filha, Geórgia Piccoli, 21, passou por um procedimento cirúrgico e precisou fazer uso de antibiótico no pós-operatório. Como efeito do medicamento, Geórgia teve um desconforto intestinal que foi curado com uso do kefir.
– O resultado foi imediato. Poderia ter usado medicação tradicional, mas quando entramos nesse universo natural, vemos que existem outras possibilidades – diz Silvia.
Outros probióticos:
Kombucha
O aroma azedinho, que remete ao amargor da cerveja, é facilmente desfeito ao primeiro gole dessa bebida gaseificada feita à base de chá e açúcar. Embora tenha cara de novidade, a kombucha já tem milhares de anos.
O processo de fermentação ocorre em função do scoby, uma espécie de disco gelatinoso composto por colônias de bactérias e leveduras de 13 tipos. Ao longo do processo, os microrganismos vão se alimentando do açúcar, resultando em uma bebida com baixo teor de carboidrato (açúcar) e cheia de nutrientes como vitaminas do complexo B e C e aminoácidos essenciais. Além disso, é antioxidante, em função dos chás, e, apesar de não ser fonte de cafeína, é considerada um alimento energético, podendo ser indicada para consumo pré-exercício. Como é ácida e tem sabor marcante, o ideal é começar tomando pequenas porções, de 100ml por dia.
Conservas
São outra forma de consumir probióticos. Elas são preparadas por meio da colocação de vegetais da estação em uma salmoura e depois fechadas em um pote de vidro. Ao garantir um ambiente sem oxigênio, as bactérias inertes ou probióticas se reproduzem.
A explicação para o ambiente propício ao desenvolvimento de bactérias boas e não as ruins é que, ao se multiplicarem, elas baixam o pH para menos de 4,5. Os patógenos não se proliferam em ambientes com pH inferior a 4,5.
Mas é preciso ficar atento às conservas industrializadas, que recebem aditivos e conservantes, prejudiciais à saúde.
O que é fermentação
É um fenômeno que converte o açúcar dos alimentos em ácido láctico, em álcool, ou em ácido acético (vinagre). Esta transformação é realizada por microrganismos adicionados ou naturalmente presentes nos alimentos.
De acordo com a nutricionista Fernanda Bortolon, a fermentação é um dos métodos mais antigos de conservação de alimentos.
– A fermentação láctica ou lactofermentação é a mais interessante do ponto de vista nutricional – avalia.
Também são probióticos: leites fermentados, iogurtes, coalhada e pasta de soja.