Três atos compõem o filme chinês As Montanhas se Separam, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312). Há certa despretensão no primeiro deles, que acompanha uma jovem, Tao (Zhao Tao), e sua indecisão frente aos pretendentes Jinsheng (Yi Zhang), rico e arrogante, e Liangzi (Jing Dong Liang), humilde e romântico.
Esse triângulo juvenil, no entanto, prepara o terreno para outros dois importantes (e sérios) ciclos futuros que unem e separam a vida dos personagens em questão. Passeando por terrenos distintos, o diretor e roteirista Jia Zhangke (de Em Busca da Vida) faz pensata sobre como nos desconectamos de laços importantes e ainda revela o tempo no papel de agente silencioso da história de qualquer um.
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A primeira fase do filme se passa em 1999, mas foi filmada em 2001. A protagonista feminina é apresentada sob uma áurea radiante, usa roupas coloridas (muito vermelho) e está quase sempre sorrindo. Os maiores desafios que se apresentam são escolher quem será seu namorado e aprender a coreografia da música Go West – que na versão dos Pet Shop Boys ultrapassava até as barreiras conservadoras da China nos anos 1990. A trilha, aliás, tem uma simbologia bem importante dentro da história, como se os personagens estivessem sempre divididos entre a liberdade sugerida pelos britânicos do Pet Shop Boys e a tradição representada pelos versos em dialeto cantonês da chinesa Sally Yeh.
Assim que o filme entra na segunda parte, em 2014, fica visível a importância da escolha do diretor em ter filmado a primeira fase anos antes, num conceito meio Boyhood (captado durante 12 anos para mostrar a passagem do tempo no elenco). É bonito ver o envelhecimento impresso no rosto dos personagens e, no caso de Tao, as mudanças são também de figurino. Com as dificuldades da vida adulta se apresentando, ela troca o vermelho por tons mais escuros. Nessa fase, também acontece uma tentativa de reaproximação de Tao com o filho que não vive com ela. Por meio dessa relação e do contato da protagonista com outra pessoa do passado, o filme toca mais fundo no abismo que distancia diferentes classes sociais.
O desfecho de As Montanhas se Separam se passa em 2025, abandonando os tons cinzentos da China e apostando em paisagens solares e azuladas, já que a história se muda para a Austrália. Aqui, os temas que o roteiro ensaiava no início surgem com mais força. Há novamente a presença do espírito juvenil (representado pelo filho de Tao, batizado com o sugestivo nome de Dollar), só que desta vez em contato com a representação do antigo/tradicional. De um lado está a busca por laços rompidos em nome de algo que parecia importante no passado, enquanto do outro lado está a busca pelo novo e desconhecido. São temas que, ao contrário do difícil idioma chinês, se conectam com qualquer espectador.
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:: O que: filme As Montanhas se Separam, de Jia Zhangke
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até 2 de outubro. Sessões às 19h30min (quintas e sextas) e 20h (sábados e domingos)
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 131 minutos
:: Classificação: 12 anos