Solidão, obsessão, violência. Em Jazigo – curta-metragem caxiense que estreia nesta quarta na Sala de Cinema Ulysses Geremia –, essas temáticas estão todas relacionadas metaforicamente ao amor. A produção encarcera os sentimentos do protagonista (vivido pelo estreante nas telas Rodrigo Visentin) num formato ousado e experimental. Jazigo não tem diálogos, mas a envolvente trilha sonora composta por André Viegas e Rhaysa Santos conversa com o espectador como se revelasse os sons (vozes?) da mente obscura do protagonista.
O roteiro apresenta um solitário homem que atravessa os dias fascinado por seu jardim de rosas vermelhas – não por acaso as flores que mais simbolizam a paixão. Mas a primavera que se apresenta não é exatamente de alegrias.
– Surgiu como uma metáfora do amor, do ciúme, da destruição de uma relação e a não aceitação disso. Essa é a ideia mais direta, mas pode ser interpretada de muitas formas. Queríamos que fosse um filme diferente, mas que nossos pais conseguissem entender, por exemplo – explica o diretor Mateus Frazão.
Jazigo foi gravado durante nove diárias em dezembro, em uma antiga casa (e sem moradores) na área da Estação Férrea de Caxias. Cerca de 200 rosas foram usadas nas filmagens. A edição ficou toda por conta do diretor, que dividiu na cabeça os “pedaços” da personalidade do protagonista que o curta de 20 minutos mostraria.
– Primeiro a solidão, depois dramaticidade, aí a entrada de elementos do terror, até chegar à última parte, mais caótica – enumera Frazão.
Rayza Roveda é autora do argumento do roteiro e assina a belíssima direção de fotografia. Junto com o diretor e com a dupla responsável pelas câmeras (Maicon Damasceno e Gustavo Juber), ela ajudou a levar para a telona o clima expressionista/surrealista dos trabalhos que realiza como fotógrafa. Aliás, o próprio protagonista do filme emula uma mistura de Cesare (O Gabinete do Dr. Caligari) com Edward (Edward Mãos de Tesoura), numa performance onde sutileza e apatia preenchem o quadro. Além de Visentim no papel principal, Jazigo conta ainda com a participação visceral da veterana Maria do Horto Vasconcellos.
– A gente já devia para ela desde o Ia Dizer que Voltei, agora pelo menos conseguimos pagar (risos) – brinca o produtor do curta, Gregory Elia Debaco, lembrando a participação de Maria no primeiro curta de Frazão, gravado de forma independente em 2014.
Apesar de agora contar com recursos – Jazigo foi custeado via Financiarte –, a equipe continua quase a mesma, mantendo a pegada autoral e o flerte com o cinema de horror. A história de um homem que “zela” pelo seu amado jardim portando uma enorme tesoura de poda, por vezes lembra a temática doentia (e inspirada no cinema) da canção Helena, da banda punk Misfits (“Se eu cortar os seus braços e cortar suas pernas/Você continuaria me amando mesmo assim?”). A trilha de Jazigo, no entanto, é pesada de outra forma. Usa a doçura de violões e pianos como prelúdio para o caos.
Veja o teaser
Agende-se
:: O que: estreia do curta Jazigo, de Mateus Frazão
:: Quando: nesta quarta, sessões às 19h30min e 20h30min
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: entrada franca