Como a cuíca, o tamborim e o pandeiro reverberam corporalmente? Com quais gestos coreográficos se desenha a gênese de um grupo, um contexto social, um ambiente cultural? Respostas para estas questões são dançadas em Casa de Carii, que a Companhia de Ballet da Cidade de Niterói apresenta hoje em Caxias em duas sessões – à tarde, às 15h, para as escolas municipais, e em apresentação aberta ao público, às 20h, no Teatro Pedro Parenti.
Com direção artística de Pedro Pires e coreografia de Gleidson Vigne, o espetáculo investe na possível origem da expressão “carioca”: carii+oka na linguagem de uma possível tribo que teria vivido em Niterói. Na migração para a cena, dança-se a mítica sobre a sensualidade, brejeirice e brasilidade dos cariocas de um lado ou de outro da ponte Rio-Niterói. Mas, dentro do possível, sem clichê.
– O espetáculo ganha o público por ter apelo popular e qualidade de movimento. O povo brasileiro é muito musical e a conexão com o público é rápida – observa o diretor artístico Pedro Pires.
Para a criação da coreografia, Vigne incorpora sua trajetória, que inclui passagem pela companhia Quasar, de Goiânia – conhecida por suas criações em que afinam dança e música – , e pelo Balé da Cidade de São Paulo, no qual, em atelier de criação, também investigou sonoridades para a dança. Juntando as experiências, investiu em sons e tipos que frequentam o imaginário e o cotidiano do Rio de Janeiro.
– A pesquisa musical parte de instrumentos típicos do samba e inclui o funk, o funk samba. Os cenários citam a praia e personagens como o malandro e as mulheres, chegando à espiritualidade de um Zé Pelintra. Mas tudo é feito de forma subjetiva, fugindo do óbvio – descreve Pires.
Todas essas referências ganham forma e movimentos e um cenário trabalhado com a iluminação do premiado Paulo Cesar Medeiros, que, novamente, procura se afastar da obviedade dos cartões-postais.
– Trabalhamos com silhuetas do Rio de Janeiro. Há uma figura do catador que, aos poucos, vai acumulando coisas que amarram a trama e esse visual – descreve o diretor artístico, acrescentando que o trabalho surgiu como uma coreografia comemorativa:
– A obra foi concebida para homenagear os 450 anos do Rio. É uma cidade que, mesmo que esteja mais difícil a cada dia, merece essa homenagem. E fazemos isso de uma forma leve, alegre, festiva.Para dançar essas alegorias, a companha põe em cena 13 dos 25 bailarinos que integram seu corpo de baile. A linguagem explorada é da dança contemporânea, aliada às aulas diárias de clássico e duas sessões semanais de pilates.
Formação criada por lei municipal em 1992, a companhia contabiliza cerca de 30 trabalhos, turnês nacionais e internacionais. Neste ano, está circulando com duas montagens da obra de Shakespeare – Sonho de Uma Noite de Verão e Romeu e Julieta, além de Carii, que ganhou o Prêmio Funarte Klauss Vianna para circulação – que a trouxe a Caxias – e dois prêmios Boticário na Dança. Um esforço de manutenção de grupo e repertório.
– Por contingências políticas, a companhia quase deixou de existir – conta o diretor artístico.
Mas, feito cariocas e brasileiros, a Companhia de Ballet da Cidade de Niterói sobreviveu na ginga. E traz esse contexto artístico de corpo e ritmo, desconstruções de movimento e afirmação da alegria ao palco.
– Carii é o povo brasileiro e sua musicalidade – resume Pires.
O que: espetáculo Casa de Carii, com Companhia de Ballet da Cidade de Niterói
Quando: hoje, às 15h, para alunos das escolas municipais, e às 20h, em apresentação aberta ao público
Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Dr. Montaury, 1.333)z
Quanto: ingressos a R$ 30 e R$15 (meia entrada)