Proporcionar um exemplo, respeitar a personalidade e o gosto da criança e não ter preconceitos em relação a títulos e gêneros literários. Essas são, em resumo, algumas das dicas do jornalista, escritor e mediador de leitura Tino Freitas, 43 anos, para tornar as crianças leitoras. Há dez anos à frente, com a mulher, Ana Paula Bernardi, do projeto Roedores de Livro, esse cearense radicado em Brasília esteve nesta segunda-feira em Caxias do Sul para palestrar durante um curso de formação de educadores promovido pela Rede Recria, na Casa da Cultura.
Embora não haja fórmulas ou receitas prontas para formar leitores, Tino destaca que essa não é uma tarefa impossível, nem complicada.
- É simples. Envolve afeto, o não leitor precisa se identificar com você (o mediador de leitura). É preciso ainda um acervo que desperte o interesse dele, e um espaço no qual ele se sinta confortável. Esse espaço não precisa ser uma sala, pode ser um tapete ao ar livre - ensina.
O principal ingrediente é o envolvimento, e o exemplo também entra na equação. Com o tempo, Tino e Ana Paula foram percebendo que a música não era mais o principal motivo da criançada frequentar a Roedores de Livros. Com a confiança conquistada e o gosto pela leitura desenvolvido nos primeiros frequentadores, os novos participantes logo se integram e começam a ler também.
- A nossa estratégia, hoje, é que quem entre veja os outros lendo. A maioria vai seguir o exemplo - garante o mediador, que agora usa a música apenas como "bônus", em dias especiais.
Da mesma forma, não há um tempo fixo para transformar alguém em leitor. Pode levar um mês ou um ano. Cada criança, salienta, tem a sua personalidade, e uma leitura que vai tocá-la. O importante é encontrar essa leitura:
- Uma pode gostar mais de contos maravilhosos, outra de poesia, outra de histórias do cotidiano - exemplifica.
Em outras palavras, é preciso dar espaço à criança para ela descobrir o que gosta de ler, sem imposições por parte do mediador sobre o que deve ser lido ou o que é mais adequado para sua idade. Alguém com nove anos que não tem o hábito da leitura pode se interessar inicialmente por um livro voltado a um público de dois ou três anos, mas isso não é problema: é, isso sim, um primeiro passo.
- O mediador vai fazê-lo gostar de ler, dar as ferramentas, mas quem escolhe o que vai ler é o leitor. O caminho é dele, e quem vai construí-lo é ele - defende Tino, para quem não faz sentido ter preconceitos quanto a determinados gêneros literários.
Com 17 títulos publicados desde 2009 e vários prêmios e indicações no currículo (incluindo a seleção para o prestigiado Catálogo de Bolonha em 2011, 2013 e 2014 e quatro selos Altamente Recomendável para Criança, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), Tino acredita que a leitura está em alta entre as crianças e adolescentes.
- No ano passado, na Bienal de São Paulo, a maior compra de livros foi feita pelo público jovem, comprando livros de fantasia. Vai dizer que isso não é bom? Para mim é ótimo. Os jovens estão lendo, e muito mais do que mensagens no Facebook ou textos curtos de um parágrafo. Existe uma revolução ocorrendo, ela é lenta, mas está a caminho - avalia.
Ele complementa dizendo que às vezes o adulto tem a certeza de que determinado livro é bom e vai agradar, mas quando o apresenta à criança não obtém resultados. E o contrário também acontece. É novamente a questão de que o que importa é a certeza do leitor, não a do mediador.
Sobre a importância da leitura, o escritor a vê como bem mais do que um entretenimento:
- A leitura é um exercício da fantasia. Na infância, quando exercitamos a fantasia, exercitamos pensar em algo que não existe. Quando adulto, essa capacidade de criar algo que não existe é que vai resultar em inovações, mudar o bairro, a cidade, o mundo.
Incentivo à leitura
Especialista que palestrou em Caxias fala sobre como tornar as crianças leitoras
Jornalista, escritor e mediador de leitura defende que trajetória como leitor precisa ser construída
Maristela Scheuer Deves
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