É véspera de Natal nos Estados Unidos, mas não há neve, muito menos Papai Noel. Estamos em Los Angeles, e vamos passar um dia inteiro (condensado em 88 minutos) ao lado de duas transexuais que ganham a vida nas ruas, de um taxista armênio que se utiliza dos serviços dessas garotas, de um traficante e de outros tipos suburbanos que não costumam habitar o que chamamos de sonho americano. Essa trupe serve de guia para o espectador na jornada underground de Tangerine, estreia desta quinta-feira na Sala de Cinema Ulysses Geremia.
Dirigido por Sean Baker e inteiramente filmado utilizando apenas a tecnologia iPhone 5s, o longa foi muito bem comentado no Festival de Sundance e indicado a quatro prêmios no Independent Film Awards. A dupla de protagonistas é formada pelas amigas Sin-Dee Rella (melhor nome!) e Alexandra, interpretadas respectivamente pelas atrizes trans Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor. A história começa com a saída de Sin-Dee da cadeia e a descoberta de que seu namorado a está traindo. A partir daí, começa uma louca expedição à procura da "bitch" que sacaneou Sin-Dee. O passeio inclui ruas desertas usadas para prostituição, motéis baratos, inferninhos, etc. Tudo isso sob o belo e plástico céu laranja de Los Angeles, uma das razões para o título do filme.
No meio da confusão e da gritaria, habita ainda o taxista decadente Razmik, um imigrante armênio pai de família que é "premiado" logo no início da trama com um passageiro bêbado que passa mal e suja todo seu carro. A partir daí, o mau cheiro toma conta do ambiente, como se transferisse ao espectador a atmosfera podre que o longa sugere. Quando não está trabalhando ou procurando sexo com travestis pelas ruas de Los Angeles, Razmik está em casa brigando com sua família de imigrantes - igualmente exclusos da vida americana como as travestis que vagam pelas ruas. É no clã dos armênios que surge a reflexiva afirmação: "Natal é para americanos".
Apesar do baixo orçamento da produção, o diretor consegue ótimas tomadas e atuações sinceras de seu elenco. Outro trunfo do roteiro é captar a poesia do submundo, como a bela canção natalina Toyland (conhecida na voz de Doris Day), que ganha performance quase angelical da trans Alexandra no palco de um inferninho. Tangerine é um retrato realista e cru, mas nem por isso fica longe da contemplação.
:: Tangerine fica em cartaz até o dia 6 de março, na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312). As sessões são às 19h30min, nas quintas e sextas, e às 20h, nos sábado e domingos. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos). A duração do filme é de 88min, e a classificação de 16 anos.
Cinema
Sala de Cinema Ulysses Geremia estreia "Tangerine", em Caxias
Longa mostra submundo habitado por prostitutas e traficantes em Los Angeles
Siliane Vieira
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