Destacamos hoje a segunda parte da trajetória de Dona Gema Casagrande, 94 anos, uma das professoras mais lembradas pela comunidade de Tunas Altas, em Vila Oliva. Ela também foi professora do casal Nelso Dall’Agnol e Dorvalina Muraro Dall’Agnol, 85 anos, avós do historiador e pesquisador Éder Dall’Agnol dos Santos:
— Da família do meu avô, ela foi professora de todos os 12 irmãos; e da minha avó, de todos os nove irmãos — conta Éder, que enviou o seguinte texto à coluna:
“Em entrevista cedida a mim, no dia 20 de fevereiro, ela, com muita emoção, comentou que era chamada carinhosamente de mãe por seus alunos. Quando lhe questionei sobre o que ela ensinava em sala de aula, a resposta foi… “Ensinava tudo, Português, Matemática, História, Geografia…” O amor à profissão se estendia além das salas de aula. Ela relatou também que fazia novenas para os alunos que tinham dificuldades em aprender, como meu avô, Nelso Dall’Agnol, que foi seu aluno.
Hoje, aos 94 anos, ela conta que alguns de seus alunos já faleceram, outros ainda continuam a visitá-la, como um ex-aluno que reside no Paraná e sempre que possível viaja até Tunas para rever sua antiga professora. Nos mais de 30 anos de profissão, de 1947 até a metade da década de 1970, dona Gema lecionou praticamente para todas crianças de Tunas Altas e redondezas. Figura marcante na história de Tunas, Gema Casagrande é respeitada por todas as famílias e lembrada por todos os seus alunos, dos 50 até aqueles com mais de 80 anos”.
NELSO DALL’AGNOL
Em entrevista concedida ao Banco de Memória do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, de Caxias do Sul, em 2013, Nelso Dall’Agnol (1937-2014) relatou que foi pouco tempo à escola, pois tinha de ajudar os pais nos trabalhos agrícolas, sendo ele o filho homem mais velho. Junto com o amigo Orlando Perini, “aprontaram” bastante – às vezes, ele era colocado de castigo pela professora na despensa da escola.
Conforme o relato, Nelso gostava bastante da professora Gema. Em uma festa na comunidade de Tunas Altas, já idoso, eles se encontraram, e um irmão de Nelso disse a dona Gema que Nelso não teria aprendido nada na escola, além de ter “dado trabalho” a ela. A professora imediatamente respondeu que Nelso tinha aprendido mais do que todos, pois era um homem simples, bondoso e de bom coração.
Na imagem abaixo, Nelso Dall’Agnol e a futura esposa, dona Dorvalina Muraro, em meados dos anos 1950, durante uma festa em Vila Oliva. Na sequência, a família de Francisco Costa e Libera Echer (tios de Nelso Dall’Agnol, avô de Éder). Dona Gema lecionou para todos os filhos do casal (Ledovino, Lourdes, Jardelino, Janir, Arnildo, Pedro, Augusto (no colo) e Lucinda. O registro é de meados da década de 1950 e foi captado na Linha Sertoria, antes de a família mudar para Tunas Altas.
RECORDAÇÕES DE EX-ALUNOS
“Eu e meus irmãos fomos todos alfabetizados com a professora Gema. Eu, minha irmã Inez, uns dois a três anos, meus irmãos mais velhos, João Luiz, Maria de Lourdes e Vicente Silvio, foram alunos dela por mais anos. Daí fomos de mudança para Jaguarão, terra de minha mãe. A professora Gema era muito dedicada mesmo, além de ir a pé, longe que era, ainda dava aula para todas as séries”. (Rita Mapelli dos Santos, Pelotas)
“Fui aluna da Gema, ela era muito boa. Ela dava o catecismo também para nós, preparava os alunos para a Crisma". (Dorvalina Lúcia Muraro Dall’Agnol, 85 anos, Caxias do Sul)
“Gema foi professora de todos os meus irmãos, Tervino, Egídio, Dorvalina. Ela era muito querida, gostava bastante dela.” (Angenor Muraro, 76 anos, São Lourenço do Oeste/SC)
O ataque do lobo-guará
Odila Rech Arnoldo, 79 anos, de Farroupilha, lembra que ia na escola de carona com a vizinha Elmira De Ross a cavalo. Percorriam três quilômetros até chegarem à escola onde Gema lecionava. Às vezes, ia a pé até a escola. Em relato, contou a história do sumiço de algumas ovelhas de um vizinho próximo, que estavam sendo mortas por um suposto lobo-guará, mas, na verdade, era o próprio cachorro da família quem matava os animais. Na época criança, ela teve de parar de estudar devido ao animal estar nas redondezas.