Em fase de lançamento pelo Estado, a publicação 150 Anos de Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, organizada pelos autores Ademir Antonio Bacca e Luis H. Rocha, mapeia também o trabalho e os empreendimentos familiares que forjaram a identidade dos descendentes dos primeiros colonizadores, nos mais diversos segmentos.
Abrindo a série, trazemos um resumo da saga de Luiz Matheus Todeschini (1906-1996, ao lado), nome de destaque na história do instrumento símbolo da cultura do Rio Grande do Sul: o acordeão. Conforme destacado por Bacca e Rocha no livro, a trajetória de seu Luiz tem início em 15 de setembro de 1906, na antiga Colônia Alfredo Chaves – atual município de Veranópolis.
“Todeschini, ainda criança, costumava visitar a casa da família de Túlio Veronese, profissional que consertava acordeões. Conta-se que o menino ficou muito curioso ao ver uma máquina rudimentar que fazia botões de ossos de canela de bois para os instrumentos. Vem dessa curiosidade e das oportunidades de mudança, sua história de crescimento empresarial – o que lhe conferiu mais tarde a Medalha de Ouro pela criação da primeira gaita apianada com teclas de madrepérola, com 37 teclas e 80 baixos, na Exposição do Cinquentenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, realizada em Porto Alegre, em 1925. Até então, as gaitas tinham botões de louça ou de osso”.
Mas a mudança mesmo, segundo os autores, deu-se quando os Todeschini migraram para Bento Gonçalves, fixando residência na Linha 15 da Graciema. Em 1920, aos 13 anos, Luiz passou a trabalhar na oficina de Luigi Somensi, um vizinho da família que consertava joias e acordeões – ambos turbinaram seus conhecimentos graças ao aprendizado com o casal de imigrantes italianos Cesari Apiani e Maria Savoia, fabricantes de acordeões e fundadores de uma pequena indústria de gaitas de botão no distrito de Santa Tereza.
Tempos depois, com o falecimento de Somensi, o jovem Luiz ficou responsável pela produção – inicialmente, dividindo os lucros com a viúva do antigo sócio; depois, em 1932, como proprietário da fábrica. Começava a tomar forma a futura maior indústria de acordeões da América Latina...
Mercado externo
Após a mudança para Bento Gonçalves, em 1932, seu Luiz registrou a firma com o nome de “Grande Fábrica de Instrumentos Musicais e Foles de Luiz M. Todeschini”, iniciando a produção de forma artesanal dos primeiros acordeões da marca – formalmente, a confecção das gaitas teve início em 28 de abril de 1939, com o nome Todeschini & Cia Ltda.
Conforme destacado por Ademir Bacca e Luiz Rocha no livro, os relatos são de que o primeiro acordeão foi vendido para o senhor Antônio Maso e o segundo, para Antônio Romagna, ambos de Bento Gonçalves. Já na década de 1940, o fundador convidou alguns operários para se associarem à empresa. Foi quando seu Luiz também comprou uma velha cantina desativada, transformando-a em fábrica e dando início à modernização dos processos, com máquinas importadas e um número cada vez maior de funcionários.
Todo esse avanço culminou com a mudança definitiva do nome, em 1947. Além de abastecer o mercado interno, a agora Acordeões Todeschini Sociedade Anônima exportava boa parte de sua produção para países como Chile, Argentina, México e Estados Unidos.
Auge na década de 1960
No início dos anos 1960, eram mais de 500 pessoas produzindo uma média mensal de 1,5 mil acordeões, o que fez da Todeschini a maior fábrica da América Latina. Porém, com a chegada de novos modismos sonoros, da guitarra e dos teclados elétricos, a empresa começou a verificar o início da queda nas vendas.
A solução foi voltar-se para um mercado menos sujeito a “ondas e sazonalidades”. Ele chegou em 1968, com o início da fabricação de móveis, em especial cozinhas em madeira. Mas o baque mesmo veio em 13 de agosto de 1971, quando um incêndio de grandes proporções destruiu mais da metade da fábrica e queimou quase todo o maquinário.
Restauradas as instalações, a empresa continuou a fabricar acordeões até 1973 – o fim de uma era de ouro para o instrumento, mas que abriu caminho para a marca Todeschini consolidar-se no mercado moveleiro nacional e internacional a partir de então.
O livro
Em três volumes, a publicação 150 Anos de Imigração Italiana no RS, de onde as informações desta coluna foram reproduzidas, soma 1.160 páginas. Contatos com os organizadores pelos telefones (51) 3336.1166, (54) 99969.0034 e (54) 99993.2405 ou pelo e- mail vendasesteditora@gmail.com. O valor é R$ 450.
Curta-metragem
A história da fábrica de acordeões Todeschini também consta no curta-metragem “Consertam-se Gaitas”, dirigido por Ana Cristina Paulus, Boca Migotto e Felipe Gue Martini. A produção, que levou o prêmio Exibição Curtas Gaúchos RBS TV no Festival de Cinema de Gramado de 2015, mescla depoimentos de antigos funcionários da empresa, ainda atuantes na oficina Arcari Conserto de Acordeons.
Saiba mais
:: www.acordeonstodeschini.com.br
:: www.recantodasgaitas.blogspot.com