Nem todo mundo lembra, mas antes de consagrar-se como o Cine Imperial, a sala de projeção do Círculo Operário Caxiense chamava-se Cinema Circulista e era restrita a sócios da entidade - a primeira sessão ocorreu em 28 de janeiro de 1946, ainda no prédio da esquina das ruas Visconde de Pelotas e Sinimbu.
Foi somente quatro anos depois, em 19 de março de 1950, já denominado Imperial, que o espaço passou a funcionar como cinema aberto ao público em geral. Também é dessa época a modernização do espaço, em especial dos equipamentos de projeção.
Reportagem do Pioneiro de 17 de novembro de 1951 destacou o “Cine Imperial dotado de nova aparelhagem”, conforme o texto original reproduzido abaixo:
“No dia 15 do corrente, o Cine Imperial, de propriedade do Círculo Operário local, inaugurou sua nova e moderna aparelhagem, representando o que há de mais perfeito em matéria de projeção cinematográfica. Os aparelhos foram fornecidos pela reconhecida Casa Black, de Porto Alegre. Em nome da casa esteve presente o senhor Paulo Martins de Lima, que ocupa o cargo de diretor. Os equipamentos são de fabricação inglesa da Gaumont-Kalee, muito introduzidos no Brasil e funcionando atualmente em mais de 50 casas de espetáculos. Aparelhos idênticos ao do Cine Imperial existem em Vacaria, no Cine Guarany. O Cine Imperial também está dotado de uma tela Super Cristal, que empresta especial brilho à imagem”.
Na reprodução abaixo, a página com o texto original.
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O padre Angelo Tronca
Em seu discurso, Lima destacou a excelência dos equipamentos da Gaumont-Kalee, sem esquecer, obviamente, dos agradecimentos ao padre Angelo Tronca, diretor do Círculo Operário e morador do último andar do Edifício São José Operário até falecer, em 1993.
“Faço votos que o culto povo de Caxias, em especial os sócios deste Círculo, saibam retribuir à altura o esforço dos dirigentes desta benemérita instituição. Está, assim, de parabéns a grande família circulista. Possui agora uma magnífica sala, dotada de todo o conforto e de uma aparelhagem moderníssima, capaz de proporcionar a seus frequentadores uma projeção de primeira ordem”.
Todo esse investimento tinha uma motivação clara, conforme destacado pelo jornal Diário do Nordeste em uma reportagem institucional de 31 de outubro de 1953:
“Frequentar o Cinema Imperial é contribuir para aumentar a renda do Círculo Operário Caxiense e o consequente aumento da assistência social e cultural que o Círculo proporciona a seus associados”.
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Em cartaz
Assim como os antigos cinemas de rua e sua arquitetura, os equipamentos de projeção até hoje seduzem cinéfilos e colecionadores. Anúncios da fabricante inglesa Gaumont-Kalee citada acima, por exemplo, recheiam alguns exemplares da clássica revista Cine Repórter - digitalizada no site da Biblioteca Nacional e farta em informações históricas sobre fornecedores de material para salas de exibição e cabines (foto acima).
Na revista eram propagandeados ainda vários outros itens para o escurinho do cinema, desde revestimentos acústicos, poltronas estofadas, tapetes e cortinas, até carvão para projetores.
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Acessos e anúncios
Foram três os acessos do público ao antigo Cinema Imperial: o primeiro deles, nos anos 1950 e 1960, localizava-se ao lado da antiga Farmácia do Círculo e era adornado por duas enormes colunas. Posteriormente, houve uma entrada ao lado da antiga Revistaria Nora. Por fim, o espectador entrava pela Galeria do Círculo, onde os cartazes dos filmes eram expostos em cavaletes e nas paredes.
Nas reproduções acima e abaixo, alguns dos anúncios de filmes exibidos pelo Imperial no início dos anos 1950 - publicados nas páginas do Pioneiro e do Diário do Nordeste.