A trajetória da família Salton e os primeiros tempos da vinícola, abordados na coluna desta quinta, seguem hoje, com destaque para a fase da empresa após a morte do senhor Paulo Salton, em 1943. Foi quando o estabelecimento mudou o nome para Irmãos Salton Ltda, e o foco do negócio passou a ser totalmente voltado ao setor vitivinícola - deixando para trás a produção de salame e queijo.
O pós-guerra também marcou a industrialização dos processos, o que permitiu o aumento da produção e, consequentemente, o desenvolvimento de várias empresas. Naqueles tempos, a Salton foi pioneira na utilização da tecnologia na elaboração de vinhos, aproveitando câmaras frigoríficas para a formação de um sistema de refrigeração.
Já em 1948, os irmãos José e Cesar Salton, que atuavam como representante da empresa em São Paulo desde 1925, projetaram uma unidade na capital paulista, juntamente com o senhor Mário Salton. Inaugurada em 1950, a fábrica concentrou a produção do famoso Conhaque Presidente, comercializado no país inteiro.
Jânio e Jango
A década de 1950 marcou um avanço significativo na Salton. A empresa importou da França um moderno sistema compacto de engarrafamento (máquina Gerundini), com o objetivo de reduzir as etapas manuais do trabalho e aumentar a produtividade.
Foi no finalzinho daquela década, em 1959, que teve início também a produção da lendária marca Presidente (vinho, champanha e conhaque), transformando a Salton na fornecedora oficial da Presidência da República a partir de 1961.
A saber: o “Presidente” foi um dos dos primeiros vinhos brancos a ter destaque nacional, mesmo caminho trilhado pela Champanha Presidente. Tanto que Jânio Quadros, em 1961, escolheu seu produto preferido exclamando: “O vinho Presidente é o meu vinho”.
Na imagem que abre a matéria, um flagrante de Jânio durante um evento na Salton, junto aos senhores Loris e Azir Salton, em 1961. Foi o ano em que ele também visitou a Festa Nacional da Uva, em Caxias, acompanhado pelo governador Leonel Brizola. Abaixo, o ex-presidente João Goulart (Jango) sendo servido com vinhos Salton em 1962, dois anos antes do Golpe Militar de 1964.
Razão social
Em 1967, a empresa deixa o nome Irmãos Salton e assume a razão social “Vinhos Salton S/A – Indústria e Comércio Ltda.”, hoje convertida em “Vinícola Salton S.A.”. A saber: a Vinícola Salton completa 110 anos na próxima terça, 25 de agosto.
Boa parte dessa trajetória, mesclando passado e presente, está disponível no site www.salton.com.br, que traz ainda um vídeo alusivo ao aniversário.
Um símbolo desde 1959
Até hoje o Conhaque Presidente compõe o portfólio de destilados da Salton, que responde por um quarto da receita total. Foi ele o responsável por auxiliar a empresa na década de 1970, época de dificuldades no setor vitivinícola brasileiro - vide a estrutura menor do que a das multinacionais e o maquinário obsoleto.
Nesse contexto, em que Bento Gonçalves e a Serra permaneciam retraídas no mercado, a estratégia da Salton foi voltar a atuação para o Conhaque Presidente, produto lançado ainda em 1959 e elaborado em São Paulo. Não deu outra: o Conhaque Presidente conquistou cada vez mais mercado.
Abaixo, o lendário piloto Aristides Bertuol (de branco) e sua famosa “Carretera Nº 4” em 1959, com a propaganda dos "Vinhos Presidente” produzidos pela Salton. À esquerda vemos o senhor Azir Salton e, junto ao piloto, Osmar e Lyvio Salton.
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Saga de 110 anos
Em 2019, a Salton, que lidera o mercado nacional de espumantes há 15 anos, chegou ao posto de número 1 entre as marcas de vinhos mais reconhecidas no Brasil - uma saga empreendedora intrinsecamente ligada à história do vinho no país.
“Ao longo desses 110 anos, principalmente na última década, passamos a olhar para o processo de forma mais especializada. Redefinimos padrões técnicos para nossas parcerias, modernizamos estruturas, qualificamos nossa gestão e o principal: buscamos diariamente fazer a diferença na vida das mais de 1,5 mil pessoas que, de alguma forma, estão diretamente envolvidas com a Salton, seja promovendo o seu desenvolvimento ou apoiando em diversas iniciativas sociais”, avalia o diretor-presidente, Maurício Salton.
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