"Em estado de choque e comoção, a cidade parou. Assim que notícia circulou, as lojas foram fechando suas portas. A tristeza perambulava pelas ruas. Pessoas choravam e se abraçavam. Seu velório e sepultamento foram dos mais imensos que Caxias do Sul conheceu. O séquito ao cemitério virou uma procissão interminável. Clubes de todas as partes enviaram representantes, bandeiras e condolências. Morrera o nosso admirável símbolo maior. Uma lenda".
Assim o médico e escritor Francisco Michielin definiu a despedida do ídolo Alfredo Jaconi em seu livro Juventude: Paixão e Glória, lançado em 2016. Era a manhã de 6 de dezembro de 1952, e o faz-tudo Alfredinho encarregara-se de encomendar os barris de chope para a comemoração do grande título da cidade, recém conquistado.
"Uma vez na Cervejaria Leonardelli, próximo das máquinas, sentiu-se mal de repente, colocou às mãos à cabeça, vitimado por dor e tontura. Acabou tombando sobre uma das potentes alavancas, que o atingiu na região abdominal. Dizem que, pelo súbito momento de inconsciência nem sequer gritou".
Os detalhes da tragédia também foram publicados na primeira página do jornal Diário do Nordeste em 7 de dezembro de 1952, um dia após o falecimento:
"Alfredinho encontrava-se na Cervejaria Leonardelli, na sala de máquinas, aguardando uma pessoa amiga, com quem devia palestrar. Debruçado sobre o parapeito protetor, ao lado do volante do gerador, apreciava certamente as rotações da máquina quando foi colhido, presumivelmente, pela correia, que o arrastou, comprimindo-o contra o volante, esmigalhando-lhe o cérebro e causando-lhe morte instantânea".
Alfredo Jaconi tinha apenas 42 anos.
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Causas possíveis do acidente
Edição de 7 de dezembro de 1952 do Diário do Nordeste (abaixo) também especulou sobre as prováveis causas do acidente:
"Alfredinho, há vários dias, demonstrava profunda fadiga. Tomado de uma incontrolável sonolência, chegava a adormecer nas mesas dos cafés, na roda dos amigos que com ele palestravam. Tendo que atender à sua progenitora, dona Cesira, gravemente enferma, e aos compromissos atinentes às funções que desempenhava – entre elas, o de distribuidor do Inseticida Rajá –, passava noites inteiras sem dormir. Acredita-se que o sono o tenha surpreendido naqueles momentos de espera, e ao fraquejar o corpo, viu-se inclinado sobre a correia, que o colheu causando-lhe a trágica morte".
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O velório
Conforme o jornal Diário do Nordeste, os despojos de Alfredinho foram recolhidos à residência de sua progenitora, à Rua Os Dezoito do Forte, "transformada em câmara ardente, onde os esportistas caxienses lhe prestaram a derradeira homenagem".
Todas as festividades esportivas locais foram suspensas, e a bandeira do Esporte Clube Juventude foi hasteada a meio pau, em sinal de luto. No dia 8, na abertura do jogo do Juventude contra o Gianella pelo campeonato citadino, também foi prestada uma homenagem póstuma ao desportista.
Atos fúnebres
Matéria publicada na edição do Pioneiro de 13 de dezembro de 1952 (abaixo) também destacou a trajetória de Alfredinho e o reconhecimento da cidade durante os atos fúnebres:
"Sua popularidade e seu prestígio foram comprovados pela grande massa que foi prestar-lhe sua última homenagem quando de seu sepultamento, domingo último, onde vimos elementos de todas as classes sociais e desportivas acompanharem seu corpo até a última morada. O corpo de Alfredinho jaz inerte. Sua memória, todavia, perpetuar-se-á para sempre como legítimo exemplo àqueles que desejam ser úteis ao nosso desporto. Ao lado de todos os lauréis do glorioso clube da Quinta dos Pinheiros, contemplaremos com saudade um nome: Alfredo Jaconi".
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Mudança de nome
Em 1954, dois anos após a morte do ídolo, a Quinta dos Pinheiros foi reformada, ganhando o nome de Alfredo Jaconi. O novo estádio, inaugurado em 23 de março de 1975, manteve a denominação, eternizando um de seus mais apaixonados juventudistas.
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