Com doses de criatividade na mesma medida que a de sua persistência, o farroupilhense Gustavo Covolan tem dedicado as últimas duas décadas e meia a manter de pé o prédio que abrigou o histórico Moinho Covolan. Além de ser uma das construções mais antigas a restar na área central de Farroupilha (foi erguida entre 1937 e 1942), a sede da empresa de moagem de trigo, que manteve atividades até o final dos anos 1980, é destas edificações que ajudam a contar a história de uma cidade e de sua população. Contudo, como também é comum a muitos edifícios históricos, sofre o assédio da especulação imobiliária, que faz com que o descendente de Antonio Covolan conviva com a possibilidade de ver seu esforço de preservação e resgate ser posto, literalmente, no chão.
Gustavo é proprietário de dois oitavos da construção em barro e pedra com estilo protomodernista na esquina das ruas Marechal Floriano e Independência, que chama a atenção por ter seus cinco andares erguidos em madeira e tijolos, sustentados sem vigas de concreto. Sua relação direta com o moinho remete a 1999, quando retornou de um período vivendo e trabalhando no Ceará. Ao deparar com a obra abandonada e tomada por usuários de drogas, iniciou a ocupação e a restauração com recursos próprios, assumindo boa parte da mão de obra. Em 2000, teve a ideia de transformar parte do espaço no bar que só conseguiu inaugurar em 2008, com o nome Muinho Club.
– Foram anos de muito trabalho e poucos recursos, achando os orçamentos muito caros (risos). Mas foi indo, até conseguir abrir o bar, o que ajudou a gerar um pouco de dinheiro para seguir com as obras. Lembro que meus amigos se encontravam e falavam de tudo o que estavam fazendo, e quando eu dizia que ia abrir um bar, eles brincavam: “essa tá velha já, conta outra” – lembra Gustavo.
Ao longo da última década, o bar que já recebeu diversas atrações nacionais e internacionais e abrigou dezenas de festas memoráveis ganhou companhia. Somou-se ao espaço um café, uma sala de coworking e um museu que conta a história do moinho com documentos e peças do maquinário da empresa, além de ter sido criada a Associação Cultural Moinho Covolan, que gerencia o calendário de atividades artísticas e culturais que ocorrem no lugar, como apresentações musicais e teatrais, exposições, exibições de filmes, oficinas e debates.
– Foi uma forma de mostrar para a sociedade que o moinho é mais do que um bar, mas um espaço voltado para divulgar a arte e promover cultura. Sempre foi assim, mas não era um lado tão visto. A associação ajudou a dar uma visibilidade maior para esse viés – destaca Natália Malfatti, produtora cultural do Moinho.
Contudo, como o próprio Gustavo enfatiza, não é possível contar uma história apenas positiva do moinho em sua atual concepção. Sem conseguir conciliar os diferentes interesses da família, em paralelo ao crescimento do espaço como polo cultural de Farroupilha corre na justiça um processo de venda judicial, travado pelo pedido de Gustavo de usucapião, que tramita em segunda instância. Ao mesmo tempo, a associação se mobiliza para conseguir o tombamento do imóvel como patrimônio histórico e cultural do Estado, o que tem esbarrado na falta de estudos mais aprofundados que embasem o processo. Nessa frente, Gustavo e Natália contam com a parceria da arquiteta caxiense Clarissa Zanatta, que usou o moinho como case de sua pós-graduação na UCS. Atualmente, Clarissa se debruça em um diagnóstico a ser apresentado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e ao Ministério Público quanto à urgência do tombamento.
– O pedido de tombamento é legítimo por se tratar de um exemplar único remanescente do período de industrialização da imigração italiana, tanto pelo local onde ele está inserido, quanto pelo sistema construtivo, que apresenta uma raridade formal. O intuito do trabalho é embasar a análise com o máximo de informações para comprovar o valor e a necessidade de preservação legal através do tombamento, que é o último recurso que se utiliza nestes casos. O ideal seria que se garantisse pela consciência, sem que fosse necessário aplicar legislação – avalia a arquiteta.
Em agosto de 2016, um abraço coletivo ao prédio reuniu mais de 400 pessoas. Para sensibilizar o Iphae e o MP, a Associação Cultural criou um abaixo-assinado online que já conta com quase três mil assinaturas.
VIVA MUINHO
Neste domingo, das 15h às 19h, a Associação Cultural Moinho Covolan promove o 1º Festival Viva Muinho. Gratuito e com atividades internas e externas no complexo, o evento irá ocorrer mesmo em caso de chuva. Abaixo, confira a programação.
1º Festival Viva Muinho
15h - Jumpstairs
15h35min - Leandro Sommer
16h - Palco aberto
16h50min - Baterya Fox
17h15min - SrLima
17h30min - Roda de capoeira
17h45min Slam com Poly
18h - Slam com Platina REC
18h15min - Tombayê
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