Lançado em 2016 pelo jornalista, escritor e cronista do Pioneiro Marcos Fernando Kirst, o livro Ecos do Passado é uma saborosa compilação de alguns dos principais episódios ocorridos nos primórdios da colonização italiana, entre 1875 e 1910 – período em que Caxias, antes de ser elevada à condição de cidade, atendeu por colônia, vila, sede e município.
A obra, que compila 18 textos publicados originalmente entre maio de 2012 e novembro de 2013 na Revista Acontece Sul, destaca uma das histórias mais curiosas no capítulo 14: Padres, Maçons e Carbonários se Engalfinham. Nele, Kisrt trata das então típicas disputas de poder e de ideias envolvendo imigrantes que simpatizavam com diferentes visões de mundo em conflito na Europa do final do século 19 — e que, logicamente, ganharam eco por aqui. Falamos das desavenças envolvendo a Igreja Católica, a Maçonaria e os Carbonários.
Conforme o autor, as violentas brigas pelo poder obrigavam os primeiros padres atuantes em Caxias a andar armados a fim de se defender dos ataques, ciladas e até mesmo das tentativas de assassinato a que estavam sujeitos. Os mais ativos nas ações contra a Igreja eram os Carbonários, integrantes de uma sociedade secreta que professava ideais liberais, mesmo estando além-mar e longe de suas origens europeias.
A Carbonária surgiu em 1810, com o propósito de conquistar as unificação da Itália a partir de uma revolução que unisse a classe trabalhadora, sob a liderança de universitários, de intelectuais e da pequena burguesia _ foram os carbonários os principais líderes e idealizadores das revoluções italianas de 1829, 1830 e 1848.
Com informações reproduzidas do livro Ecos do Passado
Leia mais:
O passado de Caxias ecoa em livro de Marcos Fernando Kirst
O dia em que Caxias virou pérola
Memória: os 125 anos de nascimento da poetisa Vivita Cartier
Marcos Kirst: Vivita Cartier, um mito revigorado
Vivita Cartier ganhará biografia escrita por Marcos Kirst no ano do centenário de morte
Episódio encenado décadas depois
O autor Marcos Fernando Kirst detalhou uma das armadilhas preparadas pelos carbonários.
"Os carbonários caxienses foram responsáveis pelos maus bocados por que passou, por exemplo, o primeiro capelão colonial vindo a Caxias, o padre Antonio Passagi, que chegou na região em 19 de maio de 1877, após ter sido nomeado pelo Governo Imperial em 6 de fevereiro. Naqueles primórdios da cidade, o religioso celebrava as missas em uma pequena cabana construída com taquaras, junto ao antigo cemitério, localizado na Rua Bento Gonçalves. No entanto, perdeu a jurisdição sete meses após sua chegada, devido a problemas originados por seu alcoolismo. Insatisfeitos com a atuação do religioso, alguns carbonários prepararam-lhe uma armadilha, que foi a gota d´água para que a igreja o suspendesse de suas funções. Após embebedarem o padre em uma bodega, induziram-no a celebrar o casamento de dois homens, um deles vestido de mulher, o que Passagi não percebeu. A trama foi descoberta, e o bispo destituiu o padre de suas funções. O clérigo, no entanto, continuou durante um bom tempo ministrando os sacramentos, que passaram a ser registrados como "celebrado pelo padre suspenso Antonio Passagi". Vários casamentos e batizados realizados por ele foram depois considerados inválidos nos registros eclesiásticos."
O insólito episódio ganhou uma encenação décadas depois, registrada pelo pioneiro fotógrafo italiano Domingos Mancuso, por volta de 1910 (acima).
Espaguete a carbonara
Conforme detalhado por Kirst, o termo que designava os carbonários deriva da palavra italiana “carbonaro”, que significava carvoeiro (carbone = carvão). Consta que os integrantes realizavam suas reuniões secretas nas cabanas dos carvoeiros espalhadas por toda a Itália, sendo que muitos atribuem a eles a origem do espaguete à carbonara.
Nome de rua
Antonio Passagi nomeia uma rua no bairro Exposição, entre a Dom José Barea e a Sarmento Leite.