Quando fala da infância, a auxiliar administrativa Maurilia Darolt, 47 anos, recorda da pequena cozinha da casa onde vive até hoje, com a mesa lotada de tortas que a mãe, Marcelina, fazia e entregava para a comunidade de Galópolis. Mais conhecida como "Tchêa", Marcelina trabalhava como tecelã no antigo lanifício São Pedro, mas tinha, além do ofício, a paixão pela culinária. Aos 15 anos, ao frequentar encontros da comunidade, aprendeu a cozinhar com as confeiteiras da época e tomou gosto pela coisa. A partir dessas habilidades, desenvolveu a receita dos famosos "canudinhos de Galópolis", doce de massa crocante recheado com creme de leite, ovos e baunilha.
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Porém, há 12 anos, quando faleceu, Marcelina não deixou receita. Seria, talvez, um dos grandes legados da tecelã que seriam deixados para trás, se não fosse a poderosa força de uma lembrança:
— De vez em quando eu via o que a mãe colocava na receita, como ela fazia, e as pessoas me pediram para que eu voltasse a fazer. Eu nunca tinha ajudado ela a fazer, não sabia enrolar, o máximo que eu fazia era tirar da forminha. Então eu e meu marido tentamos desenvolver uma receita com as lembranças que eu tinha dela cozinhando. E deu certo! — conta Maurilia.
Atualmente, ainda na pequena cozinha da sua infância, os canudinhos são feitos diariamente, como uma forma de terapia, e já são famosos na região. Há quem viaje de longe para conferir o sabor do doce, que, segundo Maurília, não tem receita certa, e pode ser feito por qualquer pessoa:
– Eu herdei isso da minha mãe. Tu pode me dar uma receita, eu não vou seguir ela. Tem pessoas que só fazem se tiver receita, mas eu não sou assim, eu sou como minha mãe era. A receita original que ela fazia rendia uns 700 canudinhos e ela usava umas 12 gemas. Mas eu desenvolvi a minha própria quantidade e, hoje, com 2 gemas, faço 500 unidades. E as pessoas dizem que o gosto é o mesmo – brinca.
As forminhas usadas hoje são as mesmas que Marcelina mandou fazer quando tinha 15 anos. Forjadas manualmente a partir de antigas latas de azeite, elas são as mesmas usadas e passadas de mãe para filha. Esse, e outros segredos que Maurília prefere não revelar, são os ingredientes que fazem o resultado final ser tão saboroso:
– Eu tenho em torno de 100 forminhas. Algumas a minha mãe mandou fazer, outras ela ganhou. As senhoras que ela ajudava faleceram e as famílias delas deram para a minha mãe, que depois passou para mim. Elas fazem toda a diferença, não deixam a massa grudar e deixam ela sequinha.
Para completar, dentro da massa, o recheio que Maurília desenvolveu a partir das lembranças com a mãe, tem mesmo sabor de saudade. É doce, pode ser feita por qualquer um, e não sai fácil da cabeça.
Aprenda a receita
Ingredientes
Para a massa:
2 colheres sopa de açúcar
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher sopa de sal
1 colher sopa de óleo
1 gema
2 xícaras de água fervente
Para o creme:
2 xícaras de açúcar refinado
3 gemas
3 colheres sopa bem cheias de nata
1 litro de leite
2 colheres chá de essência de baunilha
1 colher chá de sal
5 colheres de sopa de maizena
açúcar para polvilhar
Modo de preparo
Massa
1. Em um recipiente, coloque o sal, a gema e a água e misture bem. Acrescente aos poucos a farinha até formar uma massa macia e sove bem a massa.
2. Polvilhe uma bancada lisa com farinha de trigo; transfira a massa para a bancada.
3. Abra a massa com o rolo
4. Corte-a em tiras compridas e enrole-as como canudo formando um cone.
Creme
1. Em uma panela, acrescente as gemas, o açúcar e o sal. Leve ao fogo e misture bem.
2. Em um recipiente separado, misture o leite e a maizena. Acrescente a mistura aos poucos na panela.
3. Coloque a essência de baunilha e mexa bem até adquirir a consistência de um creme.
4. Coloque o recheio dentro dos canudinhos, polvilhe com açúcar e sirva.
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