Quando se fala em Zambelli, a referência imediata é o lendário atelier de esculturas e imagens sacras produzidas pelo fundador, Tarquinio Zambelli, e os filhos, principalmente Michelangelo e Estácio. Uma história pouco conhecida, porém, ressurge em 2018, quando se completam 100 anos da morte do soldado Rafaelle Zambelli (Rafael), durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Nascido em 15 de março de 1899, em Caxias do Sul, Rafael Zambelli era o filho mais moço do primeiro casamento do imigrante italiano Tarquinio Zambelli com Rosa Pizzon Zambelli. Juntamente com os irmãos, integrava o grupo de artífices do "Grande Laboratório Artístico Tarquinio Zambelli e Filhos", dedicando-se ao aprimoramento e estudos constantes em escultura, no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. Porém, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o jovem resolveu alistar-se como voluntário para defender a pátria de origem, rumando à Mântova, na Itália, em 1915.
Conforme informações contidas no livro Os Filhos da Arte — Documentário Artístico de uma Família de Imigrantes, de Irma Buffon Zambelli, após dois anos de combate, Rafaelle foi ferido e capturado pelos alemães, tornando-se prisioneiro de guerra a partir de 15 de novembro de 1917. Foi no cativeiro que ele adquiriu a pneumonia dupla que acabou levando-o à morte, em 2 de março de 1918, no hospital militar de Langensalz, na Alemanha.
Rafael Zambelli tinha apenas 18 anos.
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O cativeiro
O período no cativeiro e posterior à morte, aliás, é bastante detalhado em cartas enviadas por ex-companheiros de luta aos familiares de Rafael no Brasil. Em uma delas, um amigo relata ao pai, Tarquinio Zambelli:
“A única recordação que tinha vosso filho era um bracelete, um relógio e um anel do mesmo metal, que tinha dado a um alemão em troca de um pedaço de pão, pouco depois que ficou prisioneiro. Envio-lhe os objetos dos quais lhe falei, pois sei da sua dor e afeto. Preciso dizer-lhe que vosso filho tinha à sua cabeceira o vosso retrato, e como ele morreu durante a noite, os objetos foram recolhidos pelo serviço sanitário para enviar à família. Eu, com receio que a carta fosse interceptada, dei o endereço à Cruz Vermelha de Gênova, para que o senhor soubesse da morte de vosso filho”.
Placa de bronze na Praça Dante
Após o final da Primeira Guerra Mundial, tanto Rafael Zambelli quanto o soldado Angelo Bracagioli, mortos lutando pela Itália, foram homenageados em Caxias. Uma placa de bronze exultando a participação dos dois foi afixada aos pés da herma de Dante Alighieri, na praça central de Caxias, em 1918.
Porém, durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a placa foi um dos tantos símbolos italianos removidos de praças e logradouros públicos da região, em função das fortes restrições aos imigrantes e seus descendentes. Ela só retornaria, em outro formato, em 1978. Desta vez, junto ao Monumento à Itália, a famosa bota de pedra, localizada na esquina da Av. Júlio com a Feijó Júnior — danificada por um acidente em 2017 e à espera de restauração até hoje.
A homenagem partiu dos então vereadores Mário Gardelin, Dino Périco e Remo Marcucci, que buscavam recordar do aniversário de 60 anos do armistício no front italiano, em 4 de novembro de 1978.
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Os dizeres
A placa original (desaparecida) trazia os seguintes dizeres: 1915-1918, Sargento Zambelli Raffaele, Soldato Bracagioli Angelo, figli di questa terra, morti combatendo per l´Italia. Caxias ricorda. Já a existente até hoje, em São Pelegrino, descreve: "Eles não voltaram... À memória do sargento Rafael Zambelli e do soldado Angelo Bracagioli. Caxienses voluntários do Real Exército Italiano tombados na I Guerra Mundial. Homenagem da Câmara de Vereadores. 04-11-1978".
A placa em bronze compõe o Monumento à Itália juntamente com a referência à visita do presidente italiano Giovanni Gronchi a Caxias em 1958, quando a estrutura foi inaugurada.
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