Surgido em 1925, por ocasião dos 50 anos de colonização italiana na Serra (daí o nome), o Parque Cinquentenário teve entre os destaques da estreia a inauguração do Obelisco do Cinquentenário. Foi em 24 de dezembro de 1925, quando o espaço foi entregue oficialmente à população pela administração do intendente municipal Celeste Gobbato.
Conforme matéria do jornal "O Regional" de 1º de janeiro de 1926, houve missa campal celebrada pelo cônego João Meneguzzi, coadjuvado pelos padres Orestes Valetta e Luiz Polesso. Tudo a partir de um altar montado no meio do parque. Houve também a bênção da bandeira municipal e do obelisco em si, situado nos fundos do terreno.
O monumento trazia uma placa em bronze com os dizeres "Stirpe Latina, Virtu Italica 1875-1925", mensagem que resumia a epopéia iniciada pelos primeiros colonizadores, em 1875, e seus descendentes. O obelisco também era circundado por dois leões de concreto, esculpidos por Michelangelo Zambelli — os dois exemplares que, a partir de 1978, foram deslocados para o pórtico.
Os leões de Michelangelo Zambelli no Parque Cinquentenário
Encontro da família de Domenico Tronca no Parque Cinquentenário em 1936
A placa de bronze, no entanto, não sobreviveu ao vandalismo. Já em meados dos anos 1940, sofreu sua primeira tentativa de roubo (leia abaixo). Atualmente, o obelisco de 1925 é apenas uma estrutura de pedra perdida nos fundos do parque, sem nenhuma identificação ou placa recontando sua história de quase 100 anos.
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Roubo durante a guerra
A situação do parque também pautou uma reportagem na primeira edição do jornal Pioneiro, de 4 de novembro de 1948 (foto abaixo). A matéria especial "Medram abandono e indecências no Parque Cincoentenário", com fotos do jovem Mauro De Blanco, já alertava, há 70 anos, para a insegurança e a falta de manutenção do espaço.
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O texto também aludia a um possível episódio envolvendo a eliminação de qualquer homenagem à Itália, naqueles tempos de guerra — período de fortes restrições à presença das colônias alemãs e italianas no Brasil.
"Certa noite, quando a responsabilidade e a desordem pareciam ser o espírito dominante, foi arrancada a placa do obelisco, em meios das imprecações de alguns pseudo-patriotas exaltados. Só há alguns dias voltou ela ao seu devido lugar, por uma indicação da Câmara de Vereadores".
Anos depois, a placa foi novamente roubada. E nunca mais houve uma reposição. Quem sabe em 2025?
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Amores proibidos
Um dos trechos do texto do jornal Pioneiro de 1948 discorria sobre a frequência do parque:
"... graças a um serviço de guarda inoperante, à iluminação fraca e mal distribuída e ao abandono a que foi relegado, ninguém mais que se preze e que se dê ao respeito, pode dar-se o prazer de frequentá-lo. Procuram-no, apenas à noite, elementos duvidosos, para amores proibidos”. O Parque Cinquentenário nada mais é, atualmente, do que um exemplo lastimável de abandono, irresponsabilidade e indecência."
A matéria também sugeria providências:
"... moralizar o parque, revisando seu policiamento e estabelecendo normas para a sua frequentação. Redistribuir a sua iluminação e dotá-lo com numerosos bancos. Por que não se toma providências para a construção de um moderno e amplo pavilhão, no qual poderiam ser instalados não apenas serviços de copa e restaurante, mas também, à semelhança de antigamente, um excelente tablado para patinação e outros divertimentos populares?".
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O parque
No relatório da administração apresentado pelo intendente municipal Celeste Gobbato, com as obras realizadas entre 1924 e 1925, consta a justificativa para a aquisição dos lotes que compunham o Parque Cinquentenário e a preocupação com a área verde:
"... nossa ação devia ser rápida e decisiva, porque tratava-se do único mato existente na zona urbana, dividindo com terras da Municipalidade, e onde um de seus proprietários, o senhor João Sperandio, já tinha resolvido abater os velhos pinheiros e já havia iniciado a ação devastadora. Reputamos assim urgente intervir na compra das terras, para aproveitar lotes naturalmente revestidos de plantas, preparar um local de recreio ao público e reservar um grande pulmão, aberto para o constante aumento da população da cidade. A vantagem desse parque, se ainda por todos não foi reconhecida, o será por certo num futuro muito longínquo, principalmente quando terá aumentado o número de construções no Arrabalde de São Pelegrino e nas suas proximidades."
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