Um dos perfilados no livro "O Instante e o Tempo - A Fotografia em Caxias do Sul (1885-1960)", Valério Antonio Zattera tem sua história revista às vésperas do aniversário de 75 anos da gruta em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes – inaugurada em 11 de fevereiro de 1943, em Conceição da Linha Feijó.
A lembrança tem um motivo especial: Zattera foi o único fotógrafo a registrar a solenidade – além de colaborador e fabriqueiro da paróquia, ele atuou posteriormente como enólogo prático da antiga Estação Experimental de Viticultura e Enologia.
Nascido em 28 de novembro de 1911, em Charqueadas, zona rural de Caxias, o jovem agricultor deu os primeiros passos na fotografia ao ganhar uma máquina 6x9 tipo caixão – foi o prêmio pela distribuição de antigos almanaques de laboratórios farmacêuticos.
Após receber algumas lições do mestre Giacomo Geremia (1880-1966), começou a clicar em meados dos anos 1930, sempre privilegiando o cenário rural. Festejos comunitários, cenas do cotidiano, a religiosidade e o trabalho na vila dominavam os registros, que se estenderam por cerca 15 anos, sempre atrelados a outras atividades.
O ofício foi sendo deixado de lado a partir de 1948, quando Valério e a família, formada pela esposa Augusta Nichele e pelos filhos Hugo e Ivone, transferiram-se para a área urbana de Caxias. Mesmo assim, ele nunca deixou de fotografar, seja por passatempo ou hobby.
Atuante por 35 anos na Indústria Caxiense de Molduras, Valério Antonio Zattera faleceu em 1996, aos 84 anos.
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Fotos no velório
A partir dos anos 1940, Valério Zattera se tornou o fotógrafo oficial da comunidade de Conceição da Linha Feijó e arredores. Era acionado para registros de festas, casamentos, primeiras comunhões, aniversários e até velórios. Em depoimento ao Banco de Memória Oral do Arquivo Histórico Municipal, em 1988, recordou:
"Às vezes, eu estava trabalhando na roça, lá na outra encosta do morro, e alguém chegava na minha casa. A mãe ou alguém gritava: Valério, volta, tu tens que ir pra Loreto, faleceu o fulano e querem a fotografia. Então eu largava a enxada, tomava banho, encilhava o animal e ía. Chegando lá, ajudava a tirar do caixão, encostava na parede, para evitar que caísse pra frente, e batia a fotografia. Meu Deus!"
Fotografia em funerais: a morte como ela era...
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Em família
Valério Antonio Zattera foi o primogênito dos cinco filhos do casal Domenico Zattera e Melânia Lora.
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Parceria
Parte das informações desta coluna integra o perfil de Valério Antonio Zattera contido na publicação "O Instante e o Tempo - A Fotografia em Caxias do Sul (1885-1960)". O álbum foi lançado pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami em 2016. A pesquisa e os textos couberam às servidoras municipais Sônia Storchi Fries, Susana Storchi e Elenira Prux.