São Sebastião do Caí preserva elementos históricos da imigração italiana no Rio Grande do Sul a partir de 1875. Numa época em que os meios de transportes estavam condicionados a rústicas carretas em madeira, tracionadas por mulas e cavalos, a navegação pelo rio Caí facilitava a viagem entre Caxias do Sul e Porto Alegre.
Era no Porto Guimarães, por exemplo, que chegavam os grupos de imigrantes – ali havia um setor de cadastro dos colonos, que se organizavam para receber os lotes nas localidades de Conde D’Eu (Garibaldi), Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Campo dos Bugres (Colônia Caxias). Por esse mesmo porto deu-se o incipiente processo de comercialização entre a colônia e a Capital, com os barcos fazendo o transporte de pessoas e mercadorias - o barco era conhecido como vapor devido à sua força motriz ser acionada pela pressão da água.
Nas imagens acima e abaixo, de 1880, percebe-se o cenário bastante movimentado de carroças puxadas por mulas e bois. O barco atracava em um barranco rudimentar, cujo terreno ficava totalmente enlameado em dias de chuva. Somente em 1888 seria construído um cais em pedra.
Porém, com a chegada do trem, em junho de 1910, houve um declínio da navegação. O conforto trazido pela ferrovia, bem como uma capacidade maior de produtos acondicionados em vagões, diminuiu o tempo de viagem e acelerou a relação comercial entre Caxias e Porto Alegre.
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A tragédia no vapor Maratá em 1880
A navegação entre São Sebastião do Caí e Porto Alegre ficou marcada por uma tragédia envolvendo a explosão do vapor Maratá. Entre as vítimas estava José Costamilan, um jovem e promissor comerciante, morador de São Valentin da 2ª Légua.
Bomboniére Maratá na Av. Júlio de Castilhos em 1943
Conforme o livro Homens e Mitos de Caxias do Sul, de Ângelo Ricardo Costamilan, o episódio ocorreu em 9 de fevereiro de 1890. José Costamilan foi a Porto Alegre comprar uma volumosa carga de tecidos. O acidente, no retorno, foi registrado 38 minutos após o embarque, nas proximidades do arroio Maria Conga. Um grupo de sócios do Club dos Veranistas, que estava no barco Monarcha, por ocasião do feriado de Carnaval, ouviu a explosão da caldeira do Maratá e prestou o primeiro auxílio. Foram contabilizados 30 mortos.
Com nome legível, registraram-se os óbitos de Guilherme Leopoldo Schilling (comandante), Guilherme Ehlers, Patrício Rodrigues da Silva (patrão), João Soares (maquinista), Bernardo (foguista), João Antonio Duarte (marinheiro), Rosemina Kley, Ernesto Chrostofeletti, Lucia Dartora e sua filha, Carlos Alberto Steffano, Emmanuel Pastorino e José Costamilan.
Personagem de forte influência política e comercial, José Costamilan foi uma referência na sua atividade. Familiares enlutados receberam atendimento humanitário da Sociedade Vittorio Emanuelle II, Consulado da Itália e da firma Ely & Cia, de Porto Alegre.
Encontro da família Fiorese em Flores da Cunha
O livro
Homens e Mitos na História de Caxias do Sul reproduz em detalhes importantes fatos da sociedade caxiense nos primórdios. A obra revisa a origem da família Costamilan, no Tirol, na Itália, e destaca a invasão dos Maragatos, em julho de 1884, a influência da igreja católica, o comércio e a viticultura, o convívio no Hotel Recreio, de João Paternoster, e aspectos religiosos do bairro São Pelegrino.
Para recordar do bairro São Pelegrino
Também são abordados temas como a chegada do trem, o Capitel da Mariana, construído por Giovanni Michelli e a fundação do Colégio São José.
Hotel da família Paternoster em 1924
Formaturas das alunas-mestras do Colégio São José em 1936
O Capitel da Mariana e as lembranças de dona Suely Bascu
Hotel Avenida, um clássico da Av. Rio Branco
Parceria
Informações desta coluna são uma colaboração do repórter fotográfico Roni Rigon.