Ouço Bruna Beber contando, em um podcast, como Romance em doze linhas a catapultou ao sucesso literário. Dias depois, recebo de um amigo querido um vídeo deste mesmo poema sendo lido por Diego Grando no Sarau Elétrico. Penso em coincidências. Penso em como é difícil fazer um texto reverberar e como deve ser mais difícil ainda fazer um segundo texto reverberar depois da notoriedade conquistada pelo primeiro. Ou em como o sucesso pode ser efêmero. Troco algumas palavras sobre como as relações são complexas, mas desisto de me aprofundar no assunto. Para quem não lembra, o texto fala sobre a transitoriedade dos sentimentos — “quanto tempo falta pra gente se ver hoje/logo/todo dia/às vezes/não querer se ver...”.
Observo com curiosidade a polêmica em torno do convite a Felipe Netto para participar do Festival de Literatura de Paraty (Flip). O burburinho entre editores e autores incomodados com a presença do YouTube provoca, em mim, uma sensação de déjà vu. É claro que existe literatura melhor e literatura pior, escritores profundos e escritores mais rasos, mas também existe o que o leitor gosta – não é assim com quase tudo: vinho, roupa, gente? Não me empolguei com Tudo é Rio, da Carla Madeira, e quase todo mundo amou. A obra é superpoética, mas o desencadeamento é inadmissível para mim. E o fato de eu não gostar não torna a autora menor. Mesmo sendo uma leitora habitual, essa é só uma entre muitas impressões — do meu recorte epistemológico.
Um dos embates que, volta e meia, tinha na universidade era sobre o preconceito que intelectuais costumam ter de obras mais simples que fazem sucesso. Do ponto de vista estético, até pode fazer algum sentido. Acho, por outro lado, leviano desprezar qualquer escritor capaz de fazer pessoas comprarem livros e os lerem ou de mobilizar multidões. As obras podem ser, apenas, convites, portas de entrada para textos mais elaborados. Ou podem até se encerrar nelas mesmas, não dá para saber.
Ninguém começa a ler escolhendo João Guimarães Rosa. E talvez nem o leia depois de muitos anos de prática. O meu exemplar de Primeiras Estórias é todo rabiscado a lápis, fruto de aulas e inferências tidas ao longo de um semestre. É desafiador entender não apenas o vocabulário peculiar, mas também a subjetividade de cada linha. É preciso algum esforço e alguma bagagem cultural para acessar a famosa terceira margem do rio. Tampouco alguém começa a ler a partir de Ser e Tempo, clássico de Martin Heidegger, considerado bem difícil até para experientes professores de filosofia. Todo esse preâmbulo para dizer que ninguém começa pelo fim. Nem na literatura, nem na vida. Tudo é processo.
No meu caso, às vezes, tudo o que preciso são algumas linhas cheias de lirismo, que me fazem lembrar por que algumas coisas vão sendo deixadas pelo caminho sem fazer mais nenhuma falta.