Amo Nutella. Amo pôr do sol. Amo dia ensolarado e fresco. Amo dançar até perder o fôlego. Amo assistir a shows ao vivo. Amo passar a madrugada conversando com amigos. Amo uma infinidade de coisas e estava falando sobre isso na terapia. Não exatamente sobre meus gostos, mas como, talvez, estejamos todos banalizando o amor. Não o amor em si, mas alguma ideia de amor.
Amar manga descascada e amar uma pessoa são amores bem diferentes, mas que, no discurso, acabam entrando no mesmo balaio. Estamos expostos, também, à versão hollywoodiana que garante a existência de um amor perfeito e verdadeiro, ao menos até o final do filme. Amamos muito – e superficialmente. E, quando amamos “de verdade” nem sempre verbalizamos, com medo da exposição ou da falta de reciprocidade. Controverso, não?
Lembro que quando ainda era adolescente, contei ao meu pai que não falaria algo para um menino porque se o fizesse, ele saberia que eu gostava dele. Aí meu pai perguntou qual seria o problema de ele saber, já que gostar era um sentimento bom. Eu ainda não tinha muita maturidade para lidar com isso, mas descobri logo que vale a pena falar para as pessoas que gostamos delas, que são especiais, que são importantes. Ninguém vai estar aqui para sempre. Se a gente diz que ama comida árabe, não deveria ter problemas em dizer que ama alguém. Azar que a reciprocidade não seja uma regra. Azar que doa, eventualmente.
Às vezes, gosto de pensar no amor sob a ótica da filosofia, em que aparecem definições distintas sobre o tema. Uma é o Eros, que Platão relaciona à ideia do desejo e, quando se realiza, deixa de ser amor. Por isso, a expressão amor platônico. Outra é Filos, que Aristóteles vincula à alegria, de estar feliz com quem se divide a vida e os sentimentos. Há também o Ágape, ligado ao pensamento cristão e que pressupõe renúncia, não esperar nada em troca. Parece ainda mais complexo, não?
Para usar um verso que amo (!!!) de Drummond: “Que pode, pergunto, o ser amoroso/ Sozinho, em rotação universal, senão/ Rodar também, e amar?”. É, pois, inevitável fugir dele.
Mas existe uma forma de amor ainda mais preciosa e urgente: amar a si mesmo. Só com o amor próprio em dia temos tranquilidade para oferecer o nosso melhor e encontrar leveza e diversão no percurso. Só com amor próprio em dia temos a consciência de que não merecemos pouco. Só com amor próprio em dia podemos fazer a frase emblemática do ícone da moda Iris Apfel um mantra da vida: “mais é mais e menos é um tédio”.