Sim, eu tô e sou sozinha. Totalmente. Nada de namorados, de par. Apenas alguém, num universo paralelo, me entrega afeto, boas risadas e outras coisas que uma mulher adulta carece. E, sim, sou uma mulher de 30 e tantos, e vivo só. Mas, calma aí, antes de vir com o julgamento fácil, bota muitas aspas no adjetivo “solidão”. Porque essa palavra, pra mim, sempre foi mais maleável do que dizem por aí.
Ser sozinha não é sinônimo de falta. Sou mãe, escritora, filha, irmã, e, olha só, gerente de um grande negócio. Minhas horas são preenchidas com tantas vozes e responsabilidades que, sinceramente, o eco da solidão se tornou meu aliado. Há quem enxergue na minha rotina um espaço vazio, mas eu vejo uma sala ampla de possibilidades, onde me sento, respiro e me reencontro.
E, assim, vivo. Plena, consciente. Nada daquele romantismo piegas de que precisamos de alguém pra ser completos. Já me basto, e aprendi isso com o tempo. Aprendi a me bastar em cada página que escrevi, em cada dia puxado no trabalho, nas noites em que a única companhia eram meus pensamentos. Aprendi que a solitude é escolha, e não castigo.
Aos trinta e tantos, carregando nas costas mais bagagem do que sonhava, me vejo, finalmente, livre. Livre de expectativas alheias, de padrões que a sociedade insiste em me impor. Sabe, não preciso do rótulo de "solteira convicta" ou "mulher independente", apesar de ser ambas. Apenas sou. E, sendo, me permito o luxo de estar sozinha sem que isso seja um fardo, mas sim uma leveza rara de ser entendida.
É engraçado, porque quando digo que estou sozinha, percebo olhares de espanto ou, pior, de pena. Aquelas sobrancelhas que se erguem, aquele suspiro automático de quem acha que minha vida falta algo. Como se o fato de não ter um parceiro significasse um vazio emocional ou uma missão incompleta. Ah, se soubessem! Se soubessem o quanto minha vida é cheia. Cheia de risos, cheia de vitórias pequenas e grandes, cheia de projetos, cheia de amor — porque sim, é possível sentir amor sem ter alguém do lado.
E quando falo em amor, não estou falando só de romance, dessas fantasias que aprendemos desde pequenos. Estou falando de amor por mim mesma, pelo meu tempo, pelo que construí. Falo do amor de ser dona de mim, de deitar na cama e saber que todas as conquistas que fiz são mérito meu, da mulher que batalhou cada centímetro de sua história. Isso é amor. Amor real. Amor que preenche, que não cobra nada, que só existe.
Claro, tem dias que bate uma vontade de companhia. Não vou mentir. Mas essa vontade passa como nuvem rápida, e logo o céu da minha vida volta a brilhar, cheio de espaço e luz. Porque aprendi a valorizar meu espaço, meu silêncio, minha liberdade. E quer saber? Sou mais feliz assim. Sem as amarras de expectativas que um relacionamento carrega. Sem ter que me moldar ou me diminuir para caber na vida de outro alguém.
Às vezes penso que ser mulher e estar sozinha ainda é visto como uma espécie de falha, como se tivesse algo errado em escolher a própria companhia acima de tudo. Mas eu, de onde estou, vejo diferente. Vejo poder. Vejo coragem. Vejo uma escolha consciente de quem sabe que o verdadeiro relacionamento que precisa ser cultivado é o consigo mesma.
Se estou solitária? De jeito nenhum. Estou, sim, solita, mas cheia de mim.