Todos os dias eu sei: escrevo melhor do que falo, melhor até do que penso. Quando escrevo, minha força se expande pelas entrelinhas, é quase palpável, como se cada palavra carregasse a energia que move minha alma. Então escrevo agora, com a certeza de que não aceito derrota. Nada parecido com isso chega perto de mim. Não permito. Derrotas podem até tentar me rondar, mas não encontram espaço.
Eu honro a última barriga da minha mãe, aquela que me trouxe ao mundo. Sou fruto dessa força ancestral, dessa determinação que me foi transmitida desde que fui concebida. Sou uma mulher destinada ao sucesso. E não digo isso com arrogância, mas com uma certeza inabalável, que nasce das raízes mais profundas do meu ser.
Meu destino é a vitória, porque eu a escolho, dia após dia, mesmo nos dias em que parece mais difícil. Não paro. Não desço. Não esmoreço. Não há espaço para dúvida. Sigo firme, por mim, pelos meus amores, pelos meus sonhos. A estrada pode ser cheia de pedras, mas eu aprendi a pavimentar meu caminho com elas. Não as evito, uso-as para fortalecer minha jornada.
Ontem, a vida testou minhas forças. A maternidade solo, sempre um desafio constante, ontem me pegou de surpresa, com mais intensidade do que o usual. Pilar adoeceu. Bem no meio do dia que deveria ser o meu dia. O dia de minha maior prova, o dia da minha máxima performance, o dia de enfrentar meu maior desafio. E, de repente, veio a febre.
Minha pequena, frágil e indefesa, doente. E eu, longe dela. Longe, mas com a cabeça e o coração a mil, divididos entre a responsabilidade aqui e a dor lá. Vivi horas entre a dor dela e a minha, sem conseguir estar totalmente presente em nenhum dos lados.
Deve ser terrível ser um bebê ‘dodói’ sem a mãe por perto, né? Eu penso nisso o tempo todo. Penso no quanto ela deve ter sentido a minha ausência, e no quanto eu senti não poder estar lá. Sei, ainda mais profundamente, o quanto é sangrento ser a mãe de um bebê ‘dodói’ e não poder dar o colo que ele precisa, não poder segurar sua mão e dizer que vai ficar tudo bem.
Ser mãe solo é isso: estar dividida em mil pedaços e, mesmo assim, ter que se manter inteira. Porque o mundo exige de mim em todas as frentes. Tem dias que simplesmente não dá pra estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mesmo quando meu coração está. E ontem foi exatamente assim.
Pilar doente por horas. Febre, desconforto. E eu, longe. Longe, mas resolvendo o que precisava ser resolvido. Sendo forte. Fazendo o que tinha que ser feito. Mas ser forte cansa. O peso de ser tudo, de carregar tudo, é grande. Ser a mulher que equilibra todas as partes da vida, a mãe que se desdobra em mil, a profissional que não pode falhar. Isso tem um custo. Ser forte nunca foi o problema. O problema é que, às vezes, ser forte cansa. E eu sinto o peso disso em cada fibra do meu corpo.
Mas eu não caio. Não me entrego. Mesmo quando a dor vem, eu sigo. Sigo por mim, por ela, por nós. A febre, o trabalho, a ausência, o peso. Tudo isso faz parte do processo. Tudo isso faz parte da vitória. Porque o sucesso, pra mim, não é apenas o que se vê por fora. O sucesso é o que eu sei por dentro. É o silêncio das batalhas que eu travo todos os dias, sozinha. Ser mãe solo me rasga de vez em quando. Mas, ao mesmo tempo, me reconstrói. Não me faz parar. Ao contrário, me faz mais forte.
Não existe outro destino pra mim que não seja vencer. Não é febre que vai me fazer parar. Não é o cansaço, não é o medo. O mundo não dita meu caminho. Sou eu que faço isso. Sou eu que escrevo minha história, com todas as letras e todas as vírgulas, como quem sabe que a derrota não tem espaço na minha vida. Não tem lugar.