Sim, eu sei, caríssimo leitor, a curiosidade por saber se o teor deste texto seria, de fato, sexual te trouxe até aqui. Não há nada de errado nisso, a pulsão sexual é nossa, totalmente natural e saudável. E, sim, também, foi proposital, usei esse argumento de linguagem para te atrair, estou feliz que deu certo.
Que tal falar do lá? Esse lugar tão longínquo, “inchegável” para tantos, sobretudo para as mulheres. Mas, daí você me pergunta: de que lá você está falando, Sandra Cecília? Te respondo: todos os lás.
Falo do lugar profissional, o lá onde temos corrido quatro vezes mais para assumir o terceiro lugar no pódio. Trabalhamos mais, com afinco mil, entrega máxima, capacitações superiores e somos lidas como iniciantes, pois o melhor momento profissional de uma mulher é quando ela é um homem (risos nervosos). Lá onde é comum uma mulher ganhar 30% a menos que um homem no contracheque para desempenhar a mesma função com as mesmas habilidades.
E, como esquecer do principal lá, o lugar sexual onde a maioria de nós, mulheres, nunca chegou, apesar de saber bem o caminho. É árdua a caminhada de desbravar o próprio corpo, de conhecer seus desejos, de sentir prazer genuíno sem as amarras históricas da vergonha ou do julgamento. É sufocante o esforço de se permitir gozar à vida em verdade.
Trago o lá social. Um espaço onde somos aceitas apenas se nos moldarmos às expectativas que nunca foram feitas para nós. Lá, onde cabe a nós sermos para sempre infelizes com a beleza não nossa, o comportamento impossível e o estrangulamento da nossa autoimagem.
Eu já experimentei, visitei, morei em alguns desses lás. Ou todos. Mas, honestamente, cansei de tentar me encaixar. Eu não quero mais me conformar com o lugar que foi designado a mim por uma sociedade que, constantemente, diminui e subestima minhas capacidades e vontades.
Precisamos redefinir o que significa chegar lá. Não é apenas sobre alcançar o sucesso conforme os padrões impostos, mas, sim, sobre encontrar nosso próprio caminho, nossos próprios espaços, nossos próprios lás. É sobre sermos felizes e realizadas, de dentro para fora e ao avesso.
Então, sim, mulheres chegam lá. Mas é um lá que construído por nós e pelas que vieram antes de nós, construído com força sangrenta — literalmente. Pode não estar nos livros, nos filmes, nas histórias que nos contaram, mas está em cada passo que damos, em cada batalha que vencemos e na fé que botamos em nós mesmas.
E, talvez o mais importante não seja chegar lá, mas, sim, reconhecer nossas próprias conquistas, pequenas ou grandes, dar boas risadas e apreciar a paisagem vez ou outra. Para finalizar, digo o que eu vou fazer: com e apesar de tudo, eu vou continuar continuando até chegar lá no meu lá, que é o lugar que mereço e quero estar.