A paz, essa danada, parece sempre estar por aí, mas onde, exatamente? Não tem CEP, nem endereço fixo. Mas, ao longo da vida, aprendi a reconhecer onde ela não está. Não está no incenso queimando na porta enquanto o coração arde de raiva. Não reside nas preces egoístas de “venha a nós” enquanto ignoramos “o vosso reino”. Paz não habita nas redes sociais, onde as boas ações são exibidas apenas para colher likes sobre a dor alheia. E certamente, ela não se encontra nas promessas vazias de evolução espiritual vendidas por coaches esotéricos. Essas promessas são inalcançáveis para nós, simples mortais.
Somos humanos. Seres racionais, mas tão perdidos na nossa própria racionalidade. Somos feitos de sentimentos, emoções e um imenso mistério. Essa parte desconhecida nos guia mais do que imaginamos. Somos barcos à deriva, às vezes com um capitão fantasma no leme. Como saber onde vamos parar?
Não podemos contar com a constância da vida para encontrar a paz. Ela existe, sim, mas está nos pequenos momentos: uma noite de sono tranquila, a consciência leve, o viver de acordo com nossos princípios. A paz geralmente está nas pequenas coisas, no encontro entre nosso eu verdadeiro e o mundo ao nosso redor.
Viver, pelos meus 37 anos de estrada, é mais espada que flores. É uma luta constante, uma batalha diária. Viver quase sempre dói. Há uma complexidade angustiante entre o que somos, o que queremos ser e o que devemos fazer. Não há um caminho certo, só o seu caminho. Às vezes é duro, os pés doem, as costas pesam, mas precisamos seguir em frente. Não há linha de chegada, mas dê o seu melhor na caminhada.
E há algo sobre a estrada da vida: a paisagem é linda. Dá para aproveitar o percurso e contemplar belezas incríveis. Há tanta magia que parece irreal, mas é real. A vida compensa, pelo bem e pelo mal, pela dor e pela superação. A vida exige coragem, como disse Guimarães Rosa. Concordo totalmente. Coragem não é sobre a força dos meus braços, mas sobre a potência das minhas ideias e o fervor — e a paz — que meu coração emite.
No entanto, mesmo sabendo onde a paz não está, a busca continua. Todos nós queremos encontrar esse estado de tranquilidade, essa sensação de que tudo está no lugar certo. Mas é uma busca complexa. Paz não é algo que se compra ou se encontra facilmente. É um estado de espírito, uma forma de estar no mundo. E, paradoxalmente, muitas vezes ela surge nos momentos mais inesperados.
Por exemplo, a paz pode estar no sorriso de uma criança, na simplicidade de um abraço sincero, naquelas pequenas gentilezas que trocamos sem pensar. Ela pode estar na natureza, no canto dos pássaros, no som do mar. Esses momentos de conexão com algo maior, algo além de nós mesmos, nos lembram de que há beleza e harmonia no mundo, mesmo quando tudo parece estar em caos.
E a coragem, onde ela se encaixa nesta busca? Coragem é o motor que nos impulsiona, a força que nos faz seguir em frente mesmo quando tudo parece difícil. É a determinação de não desistir, de continuar lutando, de enfrentar nossos medos e incertezas. Coragem não é ausência de medo, mas a capacidade de agir apesar dele. É o que nos permite buscar a paz, mesmo sabendo que o caminho pode ser árduo e cheio de obstáculos.