Sobre amar, me pergunto: já era pra termos aprendido a lição? Sabemos, o amor é fogo e não há blindagem, sempre saímos queimados. Só peço, me diga alguém, você que me lê ou um Deus que se diverte sobre as nuvens, pode ser até uma voz sem nome, me explique o porquê da gente seguir tentando. Por que ainda queremos amar? Por que ainda almejamos, desesperadamente, sermos amados?
Não somos mais tão jovens pra crer na utopia acima da realidade. Temos nossos bons calos emocionais, nossas boas doses de desilusão, nossas agonizantes noites mal dormidas. Com isso, volto a questionar o porquê ainda querer amar alguém? O amor é um destempero na existência. E essa existência da criatura trabalhadora já é bem apimentada, concordam, caríssimos?
Devíamos largar de mão e deixar o amor descer sozinho a ladeira. Vamos desistir do amor e viver só e tão somente para nós? Impossível, né? Sim, eu sei.
Quando eu penso no amor, dá uma fisgada aqui no lado esquerdo do peito. Meu corpo lembra de cada entrega, cada sonhar, cada decepção e, sobretudo, cada duro recomeçar. O amor me deu o tudo, me deu o nada; me tirou o tudo, me deixou o nada. Mas, hoje, amando e sendo amada, estou, outra vez, plenamente preenchida. Esse ciclo é dolorosamente gostoso.
Tenho quase 40 anos, não caí em sua tocaia uma vez só, foram incontáveis. E, cá estou, à beira do precipício novamente: feliz e contente. Como seguir se minha pele ainda lembra do sangrar sem fim do final da esperança. Não sei como procede o seguir das ilusões, só sei que vai. E, infinitamente, vai. Mas, confesso, ter consciência de passado e futuro estraga um pouco o gozo da vida.
O amor é a dor maior-menor, vem feito bolo coberto de chantilly com recheio misterioso. Você não tem ideia do sabor, mas pede um arriscado pedaço pensando ser do seu agrado. Geralmente é, pelo menos até o garfo cruzar a limítrofe linha entre o seu paladar empolgado e o gosto real. Daí, a gente vê que nem gosta tanto de chantilly, ou ama. Só provando para saber.
O amor é sorte, cantarolam. O amor é cotidiano, dizem. O amor é jogo, jogam. O amor é poesia, dizem os que cantarolam. O amor é jogo, disseminam os maiores perdedores. O amor é desafio, dizem os que não creem no amor, mas seguem vivos e mal-amados. O amor é confusão, isso sim.
Eu, que não quero o amor-poesia, tão menos o amor-desafio, e, não tenho sorte, só peço um amor com sinônimos que trazem mais integridade ao ser que sou, tipo um amor-dignidade, amor-sobrevivência, um amor-parceria, um amor-amor.
Eu que nem sou de rezar, depois de tantos choros e lamentações, elevo, simbolicamente, meus braços aos céus, e peço que a vida me dê um bom amor e só. Rogo pelo amor-bobo-simplório de mínima troca, da pequena humanidade, dos pés quentes sob o edredom, do café passado e do pão quentinho, do descanso real no peito alheio. Preciso de um amor tranquilo e de máxima confiança, pois estou a envelhecer e não posso perder tempo.