Eu nunca bati na Pilar. Nem vou. Palmadinhas também não! Acho incorreto. Acho injusto uma pessoa adulta agredir uma criança, mesmo que seja em nome da educação e do amor. Além disso, é urgente que paremos de conectar atos violentos ao amor. Isso nos trouxe a tipos doentios de relações. Todos sabemos!
Seguindo.
Se eu batesse nela, pra começar, ela não entenderia o porquê de estar apanhando. Depois, mesmo que ela entendesse, não é a lembrança que quero deixar pra ela: a memória da dor. A memória do meu descontrole.
Estamos em pleno século 21 e tenho que ouvir: eu apanhei e não morri. Que bom que você não morreu, mas devo te contar que outros, sim. E se não morreram literalmente, algo dentro do ser morre quando a violência o atinge. Talvez a autoestima? Talvez a coragem? Talvez o senso crítico? Talvez?
Naturalmente, criar gente é algo duro, duríssimo. Pelo menos é pra mim. Têm uns dias que a paciência não resiste. A calma me abandona. E o cansaço toma conta de mim. E nesses dias me parece que ela está ainda mais agitada e até teimosa. Sim, crianças teimam. Dão “birra”. Apesar de não gostar dessa palavra, a birra existe, mas há uma explicação pra ela. E é totalmente compreensível: há um organismo se desenvolvendo mais rápido que o Flash dentro desses pequetitos corpinhos. Desenvolvimento puxadão, que inclui o físico, o emocional e o social e suas complexidades.
A gente precisa estudar sobre infância também, né?! Sendo ou não pai ou mãe. A tal da intuição e do exemplo de vida não resolve tudo. Estudar aqueles que se prestaram a compreender esse vasto mundo da infância nos faz ser mais gentis com as crianças ao nosso redor e até mesmo com as crianças que já fomos e dormem dentro de nossos espíritos. Essa é uma grande possibilidade de nos curarmos enquanto indivíduos e sociedade, acredite.
Em meio a essa jornada de parentalidade, é inevitável confrontar nossas próprias limitações e redescobrir a paciência nos momentos mais desafiadores. As birras, teimosias e noites mal dormidas fazem parte do pacote caótico que é criar uma criança. Às vezes, sinto-me como um equilibrista tentando atravessar uma corda bamba entre o cansaço e a responsabilidade. Mas, é justamente nesses desequilíbrios que encontro espaço para aprender, crescer e, quem sabe, até rir das situações absurdas que a maternidade me coloca. É uma dança entre o caos e a alegria, entre o cansaço e a gratificação, numa coreografia única que molda não apenas a personalidade dos pequenos, mas também a nossa própria essência.
Finalizo essa reflexão citando indiretamente a grande Monja Coen que algum dia, em algum lugar, disse algo como: nunca ouvi falar de alguém que se tornou uma pessoa ruim por excesso de afeto, amor e cuidado, só por falta.