Há 24 anos o Big Brother Brasil está no ar e é uma das maiores audiências da TV nacional. Quase um quarto de século de espiadinha no tal do BBB. Loucura isso, né? Você já parou pra pensar do porquê disso acontecer? Eu já, inúmeras vezes. Nunca cheguei a uma resposta que me trouxesse certeza ou algo que mirasse à exatidão, mas, confesso, isso, vez ou outra, vem habitar meus pensamentos.
É isso, as pessoas selecionadas para essa edição já começam a entrar na casa e uma legião de gente já começa a sair da própria vida para ficar coladinha na tela dos celulares, PCs e TVs. Não julgo esse público de maneira arrogante, viver nossos próprios dias demanda muito, dá mesmo vontade de fuga.
Sobrevivemos em meio aos caos das múltiplas crises. É econômica, social, estética, emocional, romântica… Ê, lá ele! Daí a ansiedade vai nadando de braçada, usando algo como o BBB como escape para o não-surto de agora. E, quer saber, tá tudo bem. Tá mesmo, a gente, afinal, só precisa acordar amanhã e seguir.
Se o programa do Boninho entregar alguma esperança ao povo — ou mesmo entretenimento—, eu fico feliz. Trabalhar com gente, suas histórias, emoções e decisões como é o caso dessa escritora-marketeira que vos escreve é lidar com realidades, na maior parte das vezes duras. Vejo o mundo caminhando em frente sem permissão para parar, carregando sempre uma dorzinha no ombro e outra n’alma.
Dói os olhos ver o outro, dói também ver a mim. Desde sempre caminhando, correndo, lutando, enfim. Jovem-quase-velha que desaprendeu a merecer o bom, nem férias, nem afeto, acho.
Por exemplo, no dia de hoje eu fui tão feliz que senti medo. Foi excepcional, sendo realista. Acordei disposta, passeei por ruas e parques, comi pastel frito na hora e comprei um tênis amarelo e o botei com uma meia preta alta. O dia foi chegando ao fim, o sol já ia apontando para seu merecido repouso e, na sua baixa, eis que um anjo triste desceu do céu e sobre as minhas costas se assentou. Acolhi sua dor de anjo e me contagiei. Desde então, cá estou com uma cara meio assustada, meio perdida, olhos baixos e quase marejados.
Menciono isso buscando entendimento sobre nossa vida de redes e realidades, onde há sempre um mais a se fazer e um tanto a mais a entregar, que sempre esquecemos que nosso divertimento, descanso e ócio são necessários também. Necessários, merecidos e, sobretudo, são momentos que devemos vivê-los e curti-los.
Não sou um público cativo do Big Brother, mas me recolho à insignificância do meu respirar perante o do outro, pois sei como incomoda correr tanto no cotidiano que o pulmão quer desistir.
A partir de agora, um decreto: tudo é permitido para ser um pouco mais feliz, inclusive o pão e circo do BBB. E, se o BBB for mesmo pão e circo, eu quero é que o povo fique vivo, sorrindo do palhaço, se impressionando com o mágico, apaixonado pela bailarina e de barriga cheia.