E o Natal chegou, caríssimos! Roberto Carlos tá com show pronto pra rodar na telinha, Mariah Carey está devidamente descongelada e nós já não aguentamos mais ouvir a voz da Simone. Todo mundo já tá na avenida botando a banda pra tocar. Eles tocam, nós dançamos. Afinal, uma coisa que fizemos esse ano foi tomar baile da vida. Ou não foi?
Então, é Natal, e os grupos de mensagens da família foram ressuscitados e a única briga existente lá é: uva passa, sim; uva passa, não. Não há nessa época esquerda ou direita, só memes e vídeos afetuosos surrupiados sem créditos das redes sociais alheias. Tudo numa boa, na plena paz do menino Jesus adormecido na manjedoura. Ô, bênção!
Tudo nos conformes. Sem um porquê, seguimos assistindo filmes natalinos americanos cheios de neve e casacos de lã temáticos, só que, dessa vez, num calor nunca d’antes visto. E a decoração pública segue a surpreender, seja em representações fálicas de velas e pirulitos de bengala ou em inovações pós-modernas como no parque perto da minha casa, onde Mamãe Noel é bígama e ostenta seus dois maridos, e uma estrela caiu do céu e ficou em parte, enterrada.
Deixo em panos (de prato) limpos com ilustração de Hena que, aqui, não há sarcasmo. Eu realmente amo as festas de final de ano, sobretudo o Natal. Fico feliz em como as pessoas se deixam inundar por bons sentimentos e festividades. Inclusive, o Brasil está precisando de uns três Natais por ano. Creio!
Mas, é isso, é Natal, e a música que arde meus tímpanos e não para de tocar em propagandas nas mais diversas mídias, vem, na cara dura, me perguntar o que eu fiz. Oras, Simone, nem temos intimidade, que audácia é essa? Eu nem deveria responder sem a presença dos meus advogados imaginários, mas lá vai sua resposta: mulher, eu fiz o que deu, fiz o melhor que pude.
É isso, o ano quase acabou e o balanço foi um gráfico de máxima oscilação, baseado em dois eixos. O primeiro, produtividade, e o segundo, saúde mental. Não deu pra alinhar os dois eixos em sentido harmônico e coeso. À medida que um subia, o outro despencava. Eu tentei muito.
E, é assim, caríssimos, que entrarei no próximo ano, tentando gerenciar o caos matemático da minha existência. Mas, tem saldo positivo aqui também. Sempre tem, não é mesmo? Aprendi muito com esse ano que se vai. O maior aprendizado foi que posso ser corajosa e bem mais feliz, desde que tome decisões, me autovalorize e segure meus próprios BOs.
E eu fiz isso. E doeu. E eu caí. E eu levantei. E, depois de muito pensar, decidi que depois de muitos anos sem parar, passava da hora de puxar o freio de mão e não produzir de maneira patológica durante um tempo. Sob o risco de ficar mais endividada, mandei o mercado formal às favas - pelo menos por hora.
E, nessa, encontrei tempo de qualidade pra estar comigo, cuidar da minha filha, da minha saúde, da minha casa, planejar a vida que almejo desde a adolescência e vi que é possível. Tudo ali, no meu cotidiano, mas a ansiedade de viver num mundo que eu não inventei, me roubava.
Então, é Natal, e o que você fez? Eu fiz tudo e não fiz nada; revirei minha vida de ponta à cabeça; recomecei uma pá de vezes e não me arrependo.
Pode vir, 2024, mas vem que nem uma uva, até porque, tudo passa.