O ano começou lá atrás, faz tempo visto que ele logo se finda. Mas, tenho uma sensação de ontem mesmo ter visto 2022 se arrebentar para a história cheio de promessas de bonanças. Lembro dos sorrisos de fé daqueles que amo e estavam ali ao meu lado, todos crentes em um ano que traria saúde e nos afastaria da triste pandemia que nos desolou, que nos tirou vidas e vontade de viver.
Os primeiros dias de janeiro foram vagarosos, lembro. Longos e robustos, tinham uma aura de trazer um bom futuro próximo para um povo cansado. Mas os meses que se seguiram foram dotados de dualidades: a crença e a descrença, a coragem e o medo, a saúde e a doença. Em alguns momentos estivemos suspensos no tempo-espaço, como quando o avião está estável no ar, próximo dos mil quilômetros por hora, e temos a sensação de estar flutuando ao olhar pela janela.
Foi um ano cheio e nos deixou cansados.
Superlotação de sandices e absurdos no Brasilzão-novela-da-vida-real. Adentramos a ele em verde e amarelo equivocado e saímos dele num tom vermelho, com gente acampada em frente a quartéis pedindo a volta da ditadura militar e pegando carona em caminhão. Pasmem!
Estreamos no 22 rachados e saímos dele partidos, politicamente e emocionalmente. Ansiávamos que a Copa do Mundo trouxesse a alegria perdida em forma de taça. Até trouxe, mas mais uma vez o hexa não veio e a gente chorou junto com Neymar em sua última Copa. A Argentina levou e o Brasil fez grossa torcida. Foi bonito ver o povo canarinho assumindo sua latinoamericanidade.
Enquanto os meses corriam ligeiros, a minha vida era um carro esportivo numa autoestrada. Enquanto a política era o espelho do caos, dentro de mim era vendaval. E tudo ficou ameno uma hora, depois o bagunçou de novo. E assim cheguei aqui: viva e no lucro. Emprego novo, amor novo, sonhos novos e a mesma velha esperança de quem me mantém de pé sempre e sempre.
Descobri mais sobre mim nesse ano do que na vida toda. Me enxerguei como nunca antes. E, dado o momento, que não me lembro qual, me vi merecedora das melhores coisas da vida. E, também, aprendi a me responsabilizar na medida certa pelos meus desmedidos erros. Soltei a mão do meu autoaçoite, esperando que as feridas que me causei ao menos secassem. Não dá para criar cicatrizes inéditas em cima daquelas que já existem, vira um buraco só.
Vi as pessoas ao meu redor perdidas e procurando novos caminhos. Buscando dentro de si as razões das suas dores, enfrentando seus traumas e mirando a superação em cada passo. Confesso, isso me emocionou pois me vi ali.
O ano foi atropelando a gente em fatos, grandes e pequenas vitórias. E, nesse embaralhado caótico, já está no fim. Já foi o Natal... e o que fizemos? Bom, no meio da loucura, sobreviver foi a vitória, não surtar foi o apogeu. Então, fizemos o que deu.