E me perguntam afirmando: você mudou?! Eu confirmo a suspeita como criatura imperativa que em mim se fez. Estou mudada e mudando, digo. Caminhando sobre a terra, ardendo mais que o sol do meu cerrado, assim agora sou. Assumindo a direção da minha jornada, conhecendo esse novo ser que me habita, vou seguindo.
As pessoas suspeitam quando nos veem diferentes. Percebem que algo profundo há ali. Mas não sabem dizer o quê em nós jaz. Sim, jaz. A verdade é que para que a mudança dentro de nós se instaure efetivamente, coisas morrem. Coisas tristes, coisas felizes. Boas e más lembranças.
Certos, eles estão certos. De longe dá pra sentir o cheiro da vela que sepulcrou o corpo velho. E, da mesma forma, a quilômetros é possível se inebriar com o cheiro da vida nova que do nosso corpo e espírito se apossou.
E, respondendo diretamente a quem vê a mudança em mim: sim, eu mudei, mas não foi ontem. Faz dias já, mais de mil. Virei outro ser em conta gotas, doses diárias bem medidas, tão pensadas. Lentamente, até demais.
Transformações, em sua totalidade, vêm assim; no sapatinho. E, também, têm aquelas que vêm em tornado, girando mais que saci. Essas abruptas são mais raras e, geralmente, são frutos das pequenas percepções de que não dá para ser o se foi por tanto tempo. São resultados diretos da nossa íntima constatação do que não daria mais para ser, de que merecemos mais. E, principalmente, são o resultado da vontade infinita e violenta de querer lutar por si e nada mais.
Sou amiga próxima da mudança, já mudei tantas vezes que o lugar de estar nem é meu mais. Eu não sou de lugar nenhum, apesar de saber de onde venho. Sou estrangeira em todo canto e, ainda mais, dentro de mim. Estou sempre de partida ou de chegada. Dando adeus ou muito prazer à vida.
Eu paro e parei muitas vezes. Escolhi uma estação e desci. Estanquei a vontade de seguir por anos e não me arrependo. Fiquei, construí afetos e planos. Vivi plenamente, vivi amores, sofri amores, morri amores. Ressuscitei de dores mortais e segui viva, vivendo, mudando.
E, eis-me aqui. Em profunda transmutação, ainda e eternamente. Avançando no processo de ser alguém melhor para mim e para o mundo que me rodeia. Tentando me amar mais e, assim, a partir do exemplo, ensinando minha filha a se amar e se priorizar dentro da sua própria existência.
Eu poderia dizer que é fácil mudar, se reformar e reformular pensamentos e prioridades, mas não digo. Seria leviano demais da minha parte fazer isso. A vida só se aprende vivendo. Caminho só se conhece caminhando. É tudo clichê, é. Mas, vamos concordar que se humanidade está aí há séculos, padrões foram criados, certo?
Esses padrões dizem a nós, mulheres, que é fácil se perder de si. Se ver no outro com demasiada empatia, até se fundir. E, nessa fusão, esquecer quem se é. Fiquemos atentas a nós, aos nossos desejos profundos, percebê-los é saber para onde ir. Estar perdida nada tem a ver com não saber onde se está, mas não saber aonde se quer chegar.