O cheiro parecia familiar. Olhei para o lado e minha amiga havia tirado da bolsa um hidratante de mãos que inundou o ambiente com aquele aroma doce e tão conhecido. Era um creme de Bubbaloo, lançado recentemente e que se tornou um sucesso instantâneo. Inevitável a associação com a volta da boneca Barbie, a qual segue na dianteira da disputa pelo assunto mais comentado do ano. Algo parecido ocorreu com o filme Top Gun, cuja sequência foi o filme de maior bilheteria em 2022, mesmo sendo lançada mais de três décadas após o original. Por aqui, pipocou uma dúvida: estamos com saudade de quê?
A nostalgia é uma tendência. Nos últimos anos, o aplicativo TikTok foi o principal responsável por trazer de volta às paradas de sucesso (um termo das antigas, convenhamos) músicas que já repousavam no largo do esquecimento. Para se ter uma ideia, a quarta música mais tocada do mundo atualmente é uma gravação de 2019 – algo inconcebível em uma época de descarte, onde a geração atual considerada “velha” uma música de meses atrás. Um feito parecido foi visto com o lançamento da última temporada de Stranger Things, série de sucesso da Netflix. Running up that hill, a trilha de uma das cenas mais importantes, despontou mais de 30 anos após o seu lançamento.
Esta onda inesperada (porém constante) de saudosismo pode ser encarada de duas formas distintas. Há quem defenda o esgotamento das ideias, algo semelhante ao que a moda faz. Aqui, o argumento é de que a reciclagem daquilo que já foi feito é uma tarefa natural e cultural, uma vez que o mundo é cíclico e ao mesmo tempo precisa viver de transformações. Não há nada de surpreendentemente novo, salvo exceções conquistadas pela tecnologia, como é o caso da inteligência artificial. A grande parcela de tudo aquilo que é feito já existiu em algum momento, porém funciona porque ganhou atualizações e/ou uma nova forma de ser consumida.
O ponto também pode ser exemplificado a partir do mundo da música. Nas rádios, diversos artistas utilizam elementos de músicas de outrora – de sonoridades a trechos copiados e colados e devidamente creditados. É uma nova roupagem que apresenta o velho para aqueles que são novos, mas ao mesmo tempo atinge os mais velhos que se deparam com uma bifurcação de sentimentos: existem aqueles que gostam e são impactados de forma positiva pela relembrança, como também existem aqueles que rejeitam a repaginação, permanecendo como defensores da ideia original.
E é justamente esta segunda forma que talvez justifique tamanho sucesso e existência de produtos banhados pela nostalgia. Inconscientemente, despertar o nosso passado em uma época onde agora temos o poder de consumo e compra nos traz o sentimento de vitória, de conquista. Ao mesmo tempo, também nos deparamos com a ideia de que ontem as coisas eram mais fáceis – ou que, pelo menos, todos os problemas daquela época já não existem mais ou são pequenos se comparados aos de hoje. A nostalgia, aqui, funciona quase como um anestésico: nos agarramos às boas memórias com a certeza de que o hoje, em algum momento lá na frente, também fará parte delas.